Música

O violão diversificado de Gabriele Leite

Musicista paulista lança Gunûncho, segundo disco lançado pela gravadora Rocinante, no qual interpreta Chiquinha Gonzaga, Lina Pires de Campos, Tania León, Thea Musgrave e composições próprias

19 de Novembro de 2025

Foto Diego Bresani/Divulgação

Em 2020, o site Acervo Violão Brasileiro noticiou uma mostra de mulheres violonistas, com participação de 67 delas. Na matéria lista-se os nomes das participantes e que (ou de quem) repertório tocará. A maioria das violonistas tocou composições de instrumentistas masculinos. Embora haja muitas mulheres exímias violonistas no Brasil, poucas se destacam nacionalmente. Mesmo as que conseguiram o feito, não recebem os mesmos holofotes que os violonistas.

Quando se pede que se cite nomes de mulheres brasileiras e violão, saem os nomes de Rosinha de Valença (1941/2004), Thereza Nascimento e Badi Assad. A primeira esteve em evidência nos anos 1960. A segunda é conhecida de poucos e foi pioneira neste país a tocar guitarra, e a formar um grupo de mulheres negras (Blue Star). Badi Assad atua no exterior, com eventuais apresentações no Brasil.

É neste panorama que surgiu a jovem violonista Gabriele, paulista de Cerquinho (a 207km da capital). Com 28 anos, ela tem 22 de violão. Começou aos seis anos. Aos 11 anos, estudava no Conservatório de Tatuí (SP). Aos 19 anos, cursava o bacharelado de música com habilitação em violão clássico. Ainda estudava, quando ganhou uma bolsa do Instituto Magda Tagliaferro. Depois de vencer alguns dos mais importantes concursos do país, fez a primeira incursão no exterior, participando de um festival na Alemanha.

Seu próximo pouso internacional foi em Nova York, graduando-se na Manhattan School of Music. Depois de um doutorado na Stone Brook University, também em NYC, arrebatando vários prêmios importantes, viu-se nas páginas da revista Forbes Brasil, entre as mais importantes pessoas do pais com menos de 30 anos, e no palco da ONU, convidada para tocar na posse do Brasil no Conselheiro de Segurança da entidade, o que faltava para Gabriele Leite? Acertou quem disse um disco.

Com selo da gravadora Rocinante, ela lançou os álbuns Territórios (2023) e Gunûncho, trabalho que chegou em vinil e nas plataformas digitais, na terça-feira (18), reunindo obras de Chiquinha Gonzaga, Lina Pires de Campos, Tania León e Thea Musgrave, além de composições próprias.

CONTINENTE O repertório do seu disco é eclético, de compositores de estilos e caminhos diferentes, do inglês William Walton, ficou mais conhecido pelas trilhas de filmes, a Edino Grieger ou Villa-Lobos. Seriam cada um deles um território dos Territórios, que dá título ao seu disco?
GABRIELE LEITE Sim, territórios abriu fronteiras para diferentes abordagens estéticas, mas com um fio condutor em comum que é o vasto repertório para violão do século XX com as várias encomendas de peças.

CONTINENTE Você conseguiu se destacar como violonista, foi inclusive destaque da revista Forbes. No Brasil, contam-se nos dedos mulheres violinistas e famosas. Rosinha de Valença desfrutou de fama nos anos 1960. Badi Assad está aí já tem tempo, mas é mais conhecida no exterior. Como você chegou à vitrine em tão pouco tempo no Brasil?
GABRIELE LEITE Acredito que as redes sociais foram e são um meio orgânico do qual eu sempre estive lá postando meus estudos, conquistas, experiências profissionais, campanhas e ócios do ofício. De uma maneira mais leve e sem romantizar a vida artística e com certeza a bolha que me acompanha. Por lá eu pude ser vista e escutada.

CONTINENTE Numa entrevista sua você se refere a "sankofa", grosso modo, aprender com com o passado pra construir um futuro. Você conhece o trabalho do também jovem pianista recifense Amaro Freitas, que tem um disco intitulado Sankofa? Você já pensa no próximo disco? Podemos esperar alguma surpresa?- E a Gabriele compositora?
GABRIELE LEITE Eu aprendi esse termo numa sessão de terapia e a partir disso foi procurando tudo que tinha de estudo sobre na internet. E cheguei no disco do Amaro Freitas. Ele é um artista incrível muito expansivo e ao meu ver, está sempre nos lembrando que a música brasileira é gigante! O próximo disco chama-se Gunûncho e já está disponível para compra do LP e também em todos os streamings de música. Tem boas surpresas nesse segundo disco solo às mulheres é quem são celebradas!

CONTINENTE Você está na prateleira do violão clássico. Aliás, a violonistas brasileiras que vê nas listas do violão feminino quase todas tocam música erudita. Podemos esperar um disco seu de música popular? Ou mesmo jazz?
GABRIELE LEITE Eu sou uma artista que pensa as parcerias e não me limito ao que me trouxe aqui, que é minha história com o violão erudito. Inclusive tenho participações em discos de artistas populares como Silva e Anelis Assumpção. Acredito também que a música instrumental tem muitos braços e quem sabe num futuro próximo essas minhas experiências surgirão com nome de disco.

JOSÉ TELES, jornalista, crítico de música e autor de livros, como Soparia: de boteco a palco de todos os sons

veja também

Cacau Arcoverde faz show de lançamento do primeiro disco

Almério apresenta show "Acústico" na Casa Estação da Luz

João Gomes ganha Grammy Latino por homenagem a Domiguinhos com Mestrinho e Jota.Pê