Da primeira leva de cantores ligados ao estilo musical, o nome que se destacou foi o de Orlando Dias. Influenciado por um outro Orlando, o Silva, o cantor das multidões, Dias começou a cantar ainda criança. Iniciou, aos 11 anos, no conjunto vocal A Turma dos Onze. E se destacou na juventude, numa época em que os artistas precisavam participar de concursos em rádios. Em 1940, com apenas 17 anos, apresentou-se na Rádio Clube de Pernambuco, ao lado do grupo Anjos Rebeldes, conquistando o primeiro lugar de uma competição musical. Ganhou, com isso, um contrato como cantor da emissora, onde permaneceu por 10 anos.
O cantor interpretou vários gêneros, até samba. Mas foi com a chamada “música romântica” que ele se destacou dentre os seus contemporâneos. Na década de 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde consolidou uma carreira de cantor, tornando-se o primeiro "Rei do Brega" do país. Para isso, foi fundamental a escolha das músicas, algumas se tornaram sucesso, sendo o maior de todos os hits, Tenho ciúme de tudo (Waldir Machado). Ele também cantou sobre o tema, no disco O inimitável, em que interpretou Ciúme de você (Luiz Ayrão), cinco antes de Roberto Carlos gravá-la e de lançar o famoso álbum com o mesmo título, em 1968.
A partir daquele ano, as gravações não conseguiam mais o mesmo alcance das anteriores, talvez pelo impacto do sucesso de Roberto Carlos e de outros cantores do brega, como Reginaldo Rossi. O último sucesso nacional foi Com pedra na mão (parceria com Maury Câmara), já num estilo mais apelativo, feito Eu Não Sou Cachorro Não, de Waldick Soriano (que não costumava compor músicas neste nível).
Nascido na terra do frevo (detalhe: Orlando é tio do compositor J. Michiles) e do maracatu – e também do brega, que passou a ter contar com os sucessos de outro Rei, Reginaldo Rossi –, Orlando Dias é menos conhecido que o cantor de Garçom. No entanto, ele foi o primeiro de uma onda que começou na passagem da década de 1940 para 1950, com influência de canções italianas e do bolero, ganhando, na década seguinte, influência da Jovem Guarda, que, por sua vez, bebia da fonte da primeira fase (iê-iê-iê) dos Beatles.
O artista faleceu em 2001, vítima de um infarto, com 78 anos. Antes, seu coração intenso contribuiu para performances emotivas, em que se destacavam gestos teatrais para atiçar a reação da plateia – costumava desabotoar a camisa, ajoelhar-se no chão, rasgar o paletó e até chorar. E tinha sempre à disposição lenços para enxugar as lágrimas - reais ou não. Se estivesse vivo, neste 1º de agosto de 2023, Orlando Dias completaria 100 anos, assistindo ao triunfo do estilo que ajudou a formatar e a popularizar.