Inédito

Angustura

Curta-metragem distópico é carta virtual sobre as incertezas e agouros de uma vivência em meio a doença e bombas

TEXTO Revista Continente

04 de Junho de 2021

Frame do filme

Frame do filme

Imagem Divulgação

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O perigo das distopias é a semelhança delas com a realidade. Filmes, livros e séries trazem visões de um futuro devastado (ou devastador) cujos sinais podemos ver ainda na contemporaneidade: doença, pandemia, solidão, guerras, bombas... Ao lidar com tudo isso, seja diretamente ou indiretamente, através dos noticiários, não é fato extraordinário que mentes empáticas percam noites de sono. É nesses momentos de insônia que a protagonista do curta-metragem ficcional Angustura extravasa suas dores, agouros e preocupações.

O filme, idealizado e dirigido pelo cineasta Caio Sales, é um compilado de imagens e sons, acompanhado de legendas que retratam os pensamentos, anotações e desabafos da personagem que é representativa do que muitos de nós sentimos atualmente, em meio à crise sanitária do novo coronavírus, na qual estamos destituídos dos encontros e contatos presenciais. "(Tentar) matar a saudade do mar com mp3 e cheiro de protetor solar", é uma das frases presentes na obra audiovisual que descreve bem a angústia daqueles que, por medidas de segurança, estão privados de curtir a praia durante a pandemia. Em outros trechos, fala também da relação com a cidade:

Quando chove é foda, fica tudo muito triste
É quando a cidade não consegue esconder
que não tem como escoar tanta dor


Pôster do filme, com ilustração de Giovanna Simões. Imagem: Reprodução 

Desenvolvido com incentivo da Lei Aldir Blanc em Pernambuco, o mote de Angustura é funcionar como filme-carta, com diálogo entre o real e o ficcional. "Numa correspondência, não cabe só afeto", justifica a personagem sobre o teor denso de sua carta. "Além de acompanhar a expressividade íntima, confessional e reflexiva de sua personagem, o filme busca configurar uma representação fabular de uma angústia real do nosso tempo, sem a pretensão de fazer ou impor uma leitura universalista", explica Sales. De forma poética, o texto se apresenta por cima das imagens, que, em grande parte, chegam bordeadas por um fundo branco – em uma proposta de simular a escrita sobre o papel.

Seguindo esse modelo de confidência audiovisual, o curta de dez minutos de duração é um reflexo dos sentimentos da quarentena. Na sua construção houve colaboração de Luana Assis no elenco, Rafaela Cruz para revisão de texto, Cássio Sales na finalização de áudio e Celso Hartkopf para o design gráfico. O filme está disponível online e com acesso gratuito, com lançamento em primeira mão pela Continente. Assista:

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