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Últimos dias da Bienal Internacional do Sertão

27 de Outubro de 2023

Companheiro Zé, Feranando Ancil (Marcenaria Olinda), 2022

Companheiro Zé, Feranando Ancil (Marcenaria Olinda), 2022

Foto Divulgação

A Bienal Internacional do Sertão chegou, neste ano, a sua sexta edição com o tema "Educar a paisagem". A mostra, que está em cartaz no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Juazeiro do Norte, segue até o dia 31, apresentando trabalhos de 39 artistas de diversas regiões do país. “A ideia de focar nesse tema vem de seminários, encontros e conversas espalhadas por todo Brasil e é pensando dentro do contexto da educação do olhar com as possibilidades da arte contemporânea em transitar em outras linguagens e áreas do conhecimento tendo a paisagem, fictícia, real, simulada, virtual, como base de tratamento e reflexivo sociocultural”, ressalta o fundador da Bienal, Denilson Santana.

Segundo ele, a ideia da Bienal surgiu da necessidade de unir os artistas e as produções de arte contemporânea na/da região do sertão. Desde a sua primeira edição, a mostra cultiva um traço nômade, deslocando-se a cada edição para um lugar diferente dentro do sertão, essa imensa região que compreende e atravessa vários estados e diferentes culturas no Brasil.

Bienal Internacional  do Sertão - Educar a paisagem

Até 31 de outubro de 2023

Juazeiro do Norte – CE - Centro Cultural Banco do Nordeste

Leia abaixo o texto do curador desta edição, Lucas Dilacerda.


Geopolítica das artes no Sertão

Historicamente, os espaços de fomento à produção, à circulação e ao consumo de arte têm se concentrado na região sudeste. Afinal, é também nessa região onde está a maior concentração econômica de capital, que tem necessidade de uma manutenção do seu capital simbólico para se reafirmar constantemente no poder. É por isso que as grandes exposições nascem nesses territórios com investimentos e patrocínios milionários enquanto o restante do país sofre um processo de precarização.

Redistribuir os espaços de difusão da arte é também redistribuir o direito à cidadania plena em sua experiência estética e política. Por isso, a Bienal Internacional do Sertão nasce como uma resposta a esse processo colonizador na busca por uma descentralização dos espaços de arte promovendo assim uma outra geopolítica estética.

O Nordeste é uma região em disputa de imaginários. A arte nos mostra outras imagens do Nordeste para além dos estereótipos da seca, fome e miséria, intervindo assim na geopolítica da imaginação. As obras da exposição revelam imaginários encantados, místicos, sagrados e cotidianos que existem e resistem às invisibilizações e apagamentos históricos.

No cenário nacional, o Nordeste é colocado dentro da gaiola da "arte regional" enquanto o eixo sul-sudeste é colocado no patamar da "arte brasileira". Não somos brasileiros? Nordeste não é Brasil? Talvez não! Talvez não sejamos Brasil, mas sim anti-Brasil. Afinal, "Brasil" é o nome para um projeto colonial que se iniciou em 1500 com o extermínio de uma infinidade de povos, culturas, línguas e modos de vida que já habitam esta terra. Talvez o que fazemos não seja "arte regional" nem "arte brasileira", mas sim um arte que discute o território em disputa que habitamos, um território em guerra, na qual tem nome e data, que é o Brasil.

O Cariri é um caldeirão cultural marcado por aspectos geográficos, afetivos, espirituais e artísticos. A Bienal Internacional do Sertão acontece em diálogo com essas forças que povoam esse território de modo a se compor com elas.

O sertão não é apenas um território geográfico determinado pelo clima, ele é também um território afetivo, sensível e imaginário. Sertão é um signo de resistência e criação de vida apesar das condições adversas à sobrevivência, sejam essas impulsionadas por causas ambientais mas também sociais.

Nesse sentido, a Bienal Internacional do Sertão acolhe trabalhos de todo o mundo apesar de ter ênfase às produções oriundas do Nordeste brasileiro. A Bienal Internacional do Sertão busca ser um espaço de difusão e reflexão sobre o mundo contemporâneo que vivemos. Por isso, os critérios de seleção foram as forças contemporâneas do trabalho em discutir questões que avaliamos serem urgentes e pulsantes no tempo presente, tais como: mudanças climáticas, violência de gênero, racismo, ancestralidade etc.

As obras, cada uma à sua maneira, lança um olhar para questões do nosso tempo nos dando a ver processos intoleráveis mas também ensaiando novos mundos possíveis, convocando assim as nossas imaginações políticas para agir no presente.

Por isso, a exposição é um convite a experimentarmos as questões urgentes do tempo em que vivemos, que a partir de imagens, cores, formas e texturas nos fazem sentir que outros modos de viver nessa região é possível e que plantam em nós a semente de um novo mundo.

Lucas Dilacerda - Curador da Bienal Internacional do Sertão

 

 

 

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