No universo das figuras humanas retratadas sozinhas ou em ambiente familiar, onde entram também os animais, Reynaldo revela uma atmosfera surrealista, no sentido do caráter enigmático do olhar de suas figuras, imersas em um mundo fantástico, irreal e atemporal do artista recifense. “O banal é transmutado em extraordinário”, resume a curadora Denise Mattar, no livro que assina. O rótulo de surrealista, porém, nunca foi aceito pelo artista, pois o considerava perigoso. Melhor seria defini-lo como inclassificável.
No livro Reynaldo Fonseca, é possível visualizar a transformação estilística do artista, dos anos 1940, quando havia uma clara referência ao modernismo de Vicente do Rego Monteiro, ao cubismo e à pintura metafísica de De Chirico. Até o final da década de 1950, a gravura e a arte gráfica ocuparam a mente de Reynaldo. Somente aí é que ele retorna à pintura e já exibe em seus trabalhos as características que o tornaram consagrado. Denise aponta exatamente quando se deu a transição, com o óleo sobre tela Máscara (1959), “que já tem todas as características das obras maduras da década de 1970”, escreve Denise, no livro de arte.
A curadora destaca ainda o caráter mórbido da pintura de Reynaldo e o desenho como base para as pinturas através da técnica de quadrícula. “A quadrícula era, para ele, um exercício de composição, um suporte para distribuir proporcionalmente os elementos constitutivos da obra, e também uma indicação para o uso da cor, uma cor construída”, diz trecho do livro, em seguida ressaltando a constante sensação de estranhamento que a pintura de Fonseca causa ao espectador. “São figuras que não conseguimos definir, silenciosas, às quais se juntam elementos sutilmente insólitos, inusitados, deslocados. É o real perturbado pelo irreal”, descreve Denise, em outro trecho da obra.
SERVIÇO
Lançamento do livro Reynaldo Fonseca
Onde: Mepe (Av. Rui Barbosa, 960 - Graças, Recife)
Quando: Terça-feira (21), às 19h
Quanto: Acesso gratuito