Ao longo desse tempo, eu – que moro no Rio de Janeiro – fui ao Recife pelo menos uma vez por mês para encontrá-lo. Nossas conversas aconteceram sempre em sua casa, no bairro do Arruda, onde ele viveu boa parte da vida. A cada visita, eu descobria uma caixa de foto, um envelope, pastas com recortes de jornais, e sua história foi se descortinando para mim. E que história.
Pimentel viveu mudando de cidade durante a infância, até que – depois da morte do pai – foi parar no Recife. Tinha 10 anos e tornou-se arrimo de família. Na adolescência, virou fisiculturista e ganhou títulos como o de “melhor perna”. As matérias dos jornais da época registraram. E foi por conta de seu físico que foi parar em Nova Jerusalém, quando a Paixão de Cristo ainda acontecia nas ruas, para atuar como soldado romano, uma simples figuração. Lá, o teatro acabou lhe fisgando e não parou mais. Virou ator, diretor, autor, iluminador, crítico... Um legítimo homem dos palcos.
Quando dei por concluída essa história (claro que muita coisa acabou ficando de fora), tirei uma tarde para ler todo o livro para ele. E é essa imagem que fica: a do homem que ouvia aquela narrativa como se fosse a de mais um personagem que viveu. A todo instante, ele comentava: “Caramba, eu fiz tudo isso?”. Que honra poder ter dividido sua trajetória com os leitores. Durante muito tempo, o título do livro seria Divino cangaceiro. É a vida de um cabra danado, que sempre soube se reinventar todas as vezes que a vida tentou lhe dar uma rasteira. Bravo!
Ao lado da produtora Aurora Duarte, Pimentel estuda o texto do filme Riacho do sangue. Foto: Reprodução
CLEODON COELHO é pernambucano radicado no Rio de Janeiro, jornalista, roteirista e autor de José Pimentel: para além das paixões (Coleção Memória, Cepe Editora), além de outras biografias.