Cinema

"Perigo! Perigo!": Perdidos no espaço

Estadia forçada dos astronautas Wilmore e Williams, presos no espaço sideral há 9 meses e que retornam nesta terça-feira (18) à Terra, remonta às obras de ficção científica que abordam o tema

TEXTO Humberto Santos

18 de Março de 2025

Série

Série "Perdidos no espaço" (1965-1968)

Foto Divulgação

Quem nunca ficou perdido algum dia? Seja em um local desconhecido ou nos próprios pensamentos? Mas imagine ficar perdido no espaço. Os astronautas americanos Barry Butch Wilmore e Suni Williams viveram e sobreviveram para contar a história. Uma viagem de oito dias transformou-se numa estadia de quase nove meses que envolveu falhas técnicas, desinformação, política e até a fúria de Elon Musk. Mas na literatura, no cinema e na TV nada disso é novidade.

A saga de Wilmore e Williams começou em junho de 2024. Eles partiram a bordo da Starliner para um voo teste rumo à Estação Espacial Internacional (ISIS, na sigla em inglês) para passar oito dias. Acabaram passando nove meses. Problemas técnicos com a espaçonave começaram já no início da missão. Embora as imagens e informações divulgadas pelos EUA mostrassem um clima de tranquilidade e normalidade durante a estadia prolongada, a euforia dos astronautas no encontro com os membros do resgate, ocorrido no último domingo (16), é a prova de que as coisas não estavam tão bem quanto as autoridades tentavam passar. Especialistas afirmam que o custo pessoal para os astronautas em uma situação dessas não pode ser relevado. Na terça-feira (18), finalmente, os astronautas voltaram à Terra.

A confusão acabou provocando até a ira de Elon Musk, dono da SpaceX, responsável pelo resgate. Ele acusou o ex-presidente dos EUA, Joe Biden, de abandonar propositalmente os dois astronautas e que sua empresa poderia ter feito o resgate bem antes. Ele foi rebatido pelo astronauta norueguês Andy Mogensen, que já viajou duas vezes para a ISIS, na Rede X. “Que mentira. E vindo de alguém que reclama da falta de honestidade da grande mídia”, disse Morgensen. Musk retrucou chamando o astronauta de “Totalmente retardado”.

De todas as obras de ficção científica que abordam o tema talvez a que mais lembre o episódio seja Perdidos no Espaço, série popular nos anos 1960 e 1970, e que virou um ícone da cultura pop mundial, rendendo homenagens, como o videoclipe da Paulo Francis vai pro Céu, Perdidos no Espaço (1998), e remakes, como o filme homônimo de 1998 e a série, também homônima, na Netflix de 2018. Escrita por Irwin Allen entre 1965 e 1968, a série já foi inspirada em outra obra de ficção. O livro Família Robinson Suíça (Johann David Wyss, 1812), onde uma família de náufragos tenta sobreviver numa ilha deserta. Por sua vez, a novela suíça já teve nítida influência de Robinson Crusoé (Daniel Defoe, 1719).

Com a chegada da Guerra Fria, da televisão, do avanço tecnológico, vários autores procuraram adaptar o tema à modernidade. Allen foi um desses, tendo produzido também várias séries que se tornaram cults, como Terra de Gigantes, Túnel do Tempo, Viagem ao Fundo do Mar, entre outras.

A questão da espionagem e da Guerra Fria não é citada abertamente na série, mas tem um papel fundamental no início dela. A família Robinson, que partia para um voo rumo ao planeta Alfa Centauro para colonizá-lo, pois a terra, no futuro, sofria de superpopulação. Mas um espião “estrangeiro”, o Doutor Zachary Smith, programa o robô (do bordão "Perigo! Perigo!") para destruir a nave. No entanto, o plano não é bem-sucedido e o Dr. Smith acaba preso na nave, que perde o rumo e fica perdida no espaço. O personagem Dr. Smith estava previsto para apenas um episódio, o primeiro (ainda em preto e branco), mas o carisma do ator Jonathan Harris, com sua atuação histriônica, conquistou o público e ele acabou se tornando o astro do seriado.

É claro que o lado humorístico do seriado hoje prevalece, mas o cinema está cheio de obras de sucesso e, claro, mais sérias e robustas sobre o tema espaço sideral – 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), Os Eleitos (1983), Apollo 13 – Do desastre ao triunfo (1995), Da Terra à Lua (1998), Lunar (2009), Prometheus (2012), Gravidade (2013), Interestelar (2014), Perdido em Marte (2015), O Primeiro Homem (2018) e Apollo 11 (2019). Porém, uma mergulhada nos seriados que tentavam prever o futuro nas décadas de 1960 e 1970 pode ser uma boa diversão. Você pode, por exemplo, descobrir que o nosso tão útil telefone celular é apenas uma cópia, digamos, menos charmosa, do surreal sapatofone de Maxwell Smart, o eterno Agente 86.

HUMBERTO SANTOS, jornalista.

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