Cinema

Fest Aruanda 2025 teve de Geraldo Vandré a Sidney Magal

Festival de cinema realizado em João Pessoa (PB), terminou, na última quarta-feira (10), com premiações para o filme 'Cyclone' e homenagens

TEXTO Marcelo Abreu

15 de Dezembro de 2025

Cyclone levou os troféus de melhor filme, melhor filme, melhor atriz (Luiza Mariani), trilha sonora, direção de arte, figurino e som

Cyclone levou os troféus de melhor filme, melhor filme, melhor atriz (Luiza Mariani), trilha sonora, direção de arte, figurino e som

Foto Divulgação

O Fest Aruanda 2025, festival de cinema realizado em João Pessoa (PB) entre os dias 3 e 10 de dezembro, terminou, na última quarta-feira, com uma homenagem ao cantor e compositor Geraldo Vandré, pelos seus “90 anos de música e poesia”. Mesmo arredio e misterioso, Vandré circulou pelo festival durante oito dias. Nos primeiros dias, estava usando barba e cabelos brancos muito compridos, irreconhecível, e chegou a ser comparado a Gandalf, personagem de O senhor dos anéis. No encerramento, apareceu de cabelos mais curtos, lembrando o Vandré dos anos 1960. Na hora de receber o Troféu Aruanda, no palco da maior sala do Cinépolis do Manaíra Shopping, foi suscinto: “Não tenho nada a dizer”. Portanto, foi uma raríssima ocasião em que o homenageado topa receber um troféu, mas não diz “obrigado”. O público, sempre reverente, aplaudiu mesmo assim.

A vigésima edição do festival teve alguns momentos inusitados. Pela primeira vez, dois documentários foram exibidos em telões na praia de Tambaú, acompanhados por apresentações musicais relacionados aos filmes. Foi o caso de Raul: o início, o fim e o meio, de Walter Carvalho, que foi seguido por um show de Vivi Seixas, filha de Raul Seixas (1945-1989), e de músicos convidados que homenagearam o roqueiro. No dia seguinte, Me chama que eu vou, documentário de Joana Mariani sobre o cantor Sidney Magal, foi seguido por um show do próprio Magal, acompanhado de uma banda, que divertiu a plateia com seu gingado, bom humor e sucessos que todo mundo conhece.

PREMIAÇÕES
Na competição propriamente, entre os filmes, na categoria de longa-metragem brasileiro, o trabalho mais premiado foi Cyclone, de Flávia Castro (RJ). Além de melhor filme, levou os prêmios de melhor atriz (Luiza Mariani), trilha sonora, direção de arte, figurino e som. O filme é baseado no relacionamento do escritor Oswald de Andrade com uma namorada, aspirante a escritora, conhecida como Miss Cyclone.

Na mostra intitulada “Sob o céu nordestino”, tradicional no Fest Aruanda, o destaque ficou com o filme Batguano returns - Roben na estrada, do paraibano Tavinho Teixeira. O filme é uma espécie de continuação do irreverente Batguano, de 2014, que aborda dois super-heróis envelhecidos, conhecidos como Batman e Robin. Desta vez, a brincadeira polêmica levou as estatuetas de melhor filme nordestino, direção (Teixeira e Frederico Benevides), ator (novamente Tavinho Teixeira), montagem, trilha sonora, figurino e direção de arte.

POLÊMICA
Um dos bons momentos do festival foi a exibição do filme Ary, do carioca André Weller, que trata da obra musical deixada pelo compositor Ary Barroso (1903-1964). O documentário tem narração do ator Lima Duarte, que lê, em off, trechos de um diário deixado pelo compositor. O filme apresenta muitos exemplos da impressionante obra musical de Barroso, que foi também pianista, apresentador de TV e narrador esportivo.

No dia seguine à exibição, o filme suscitou um interessante debate sobre a figura de Ary Barroso, autor de “Aquarela do Brasil” e “No tabuleiro da baiana”. Algumas pessoas questionaram o diretor André Weller pelo fato de o trabalho não explorar a posição política do compositor, considerada conservadora pelos padrões vigentes atualmente. Weller disse que preferiu ressaltar a genialidade musical de Ary Barroso ao invés de entrar nas polêmicas de sua vida pessoal e política.

Ao ouvir que Barroso, simpatizante da UDN, teria apoiado ideias que vieram a desencadear o golpe militar de 1964, André Weller desafiou: “Aponte uma dessas ideias”. O mediador, que havia feito a questão, não soube responder. Weller disse que esse tipo de questionamento apenas reforça a imagem de Ary Barroso como conservador e prejudica suas tentativas de resgatar a obra do autor de “Na baixa do sapateiro” e “No rancho fundo”. Sua intenção, após a estreia do filme no circuito comercial (em março de 2026), é tentar publicar mais de 100 partituras inéditas de autoria de Ary Barroso que lhe foram passadas pela família do compositor.

MARCELO ABREU, jornalista, autor de livro como De Londres a Kathmandu e Viva o Grande Líder - Um repórter brasileiro na Coreia do Norte

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