[...] A decoração da platéia representa o interior de uma grande tenda real, com vastas tapeçarias suspensas, bordadas com os três lírios de frança, sobre os quais repousam dezesseis escudos de guerra, em lembrança das cruzadas. O teto é como um imenso véu de rede, que grossas cordas amarram. Na frente do palco, os vários ornatos simbolizam as grandes virtudes de um rei, que desceu do trono para subir a um altar: a palma (o prêmio da eterna bem aventurança), a concha (o brasão do peregrino), os besantes (os arautos do valor), a flor de lis (orgulho da casa de frança), e os dois ramos policromados (o perfume de todas as virtudes) em cujo colorido os nossos olhos descansam. Finalmente, as duas colunas esguias e a marquise, moldurando a tela cinematográfica, indicam, na sua simplicidade técnica, a era arquitetônica moderna, e constituem como que uma ligação entre o passado e o presente, entre o longínquo século XIII em que viveu o rei, e o século XX em que vivemos, representado condignamente pela imagem animada, colorida e sonora.
Texto extraído do livro Cinemas do Recife (2013), de Kate Saraiva