Filmes históricos do cineasta Lula Lourenço na telona
Cinema da Fundação Joaquim Nabuco realiza mais uma edição da sessão Chama Curtas, neste sábado (12), com entrada gratuita
10 de Julho de 2025
Um vampiro que ronda a feira da cidade é enredo de filme em Super-8 agora digitalizado
Foto Divulgação
Dedicada à obra do cineasta caruaruense Lula Lourenço, a nova edição da sessão Chama Curtas acontece neste sábado (12), às 18h05, no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby. Serão exibidos gratuitamente os curtas-metragens O Olho na Rua, Ouvido na Cozinha (1978) e A Peleja do Bumba Meu Boi Contra o Vampiro do Meio-Dia, este co-dirigido com Pedro Aarão e apresentado em duas versões: a original, inédita, de 1981, e a versão expandida de 1986, que circulou em festivais e conquistou diversos prêmios.
Os filmes foram digitalizados a partir do acervo pessoal do diretor, em uma iniciativa independente de preservação e valorização de sua trajetória, coordenada pelo pesquisador Felipe Karnakis, com apoio da Cine Limite e colaboração da Acervo de Vídeo Popular de Olinda e do projecionista Silas Alexandre.
Após a sessão, haverá uma conversa com Lula Lourenço e Pedro Aarão, mediada por Felipe Karnakis e João Rêgo, assistentes de programação e curadoria do Cinema da Fundação.
Natural de Caruaru, Lula Lourenço iniciou sua carreira no final dos anos 1970. Ainda estudante de Comunicação Social, aproximou-se do audiovisual por meio do Super-8, linguagem que marcou a produção alternativa em Pernambuco naquele período.
Sua filmografia é profundamente ligada à cultura popular do Agreste pernambucano. Além da trajetória como cineasta, Lula teve atuação marcante na história da comunicação pública no estado, como fotógrafo, cinegrafista, montador e coordenador da TV Universitária (TVU Recife), tendo produzido diversos registros sobre mestres da cultura popular, especialmente de sua terra natal.
Seus curtas revelam uma Caruaru muitas vezes invisibilizada, onde teatro, cordel, boi e mamulengo se cruzam com a experimentação audiovisual. Em O Olho na Rua, Ouvido na Cozinha (1978), adaptação do conto homônimo de Hermilo Borba Filho, vemos imagens raras do Alto do Moura registradas ainda nos tempos universitários do diretor.
Já A Peleja do Bumba Meu Boi Contra o Vampiro do Meio-Dia (1981) apresenta um vampiro que ronda a feira da cidade, enquanto os moradores comentam sua presença. Filmada em Super-8, essa versão original — nunca exibida — antecipa a crítica social da versão final de 1986, realizada em U-matic. Este último filme, vencedor de prêmios como Melhor Argumento, Roteiro, Fotografia, Edição e Montagem na IX Jornada de Cinema e Vídeo do Maranhão, entrelaça entrevistas, registros documentais e uma fábula política sobre os ataques aos saberes populares.
Figuras como Mestre Galdino (artesão do barro), Mestre Otílio (mamulengueiro), Mestre Gercino (do Boi-Tira-Teima), Zé Tavares (gaitista) e Olegário Fernandes (cordelista) ganham destaque nas imagens, que fundem performance, depoimento e crítica cultural com grande força estética e histórica.
Mais do que uma homenagem, a sessão representa um gesto de reparação e reconhecimento, resgatando a importância de um artista negro que, embora premiado e atuante, permaneceu à margem da historiografia tradicional do cinema pernambucano.