Artes Visuais

Uma dupla homenagem

Continente, 25 anos: uma pinacoteca; Pinakotheke: 45 anos, um continente

TEXTO Mario Helio

13 de Abril de 2025

"Labirintos do Carmo", de João Câmara, da Série Duas cidades, tema da Continente nº 1 (acima); e exposição “Encontro-Confronto – Hélio Oiticica e Waldemar Cordeiro”, na Pinakotheke (abaixo)

O número 25, numa possível interpretação da numerologia, simboliza mudança, conexão, harmonia e equilíbrio. São palavras adequadas para associar a algumas instituições culturais brasileiras que, neste 2025, completam 25 anos de continuidade. Destaque-se aqui uma: a revista pernambucana Continente.

O número 45, na mesma linha de interpretação numerológica, remete a “regeneração”. Pensamos numa instituição de 45 anos – chegando aos 46 já –, que é um dos baluartes do bom gosto artístico e editorial no Brasil: a galeria de arte carioca Pinakotheke. Cabalisticamente, o 4 nos mostra uma construção de base sólida, com estabilidade e responsabilidade, e o 5 revela a mudança, a liberdade, a adaptabilidade.

Ao notar que a Continente nasceu em dezembro de 2000, tem-se um simbolismo em si: o último ano de dois longos ciclos: um chamado de milênio, outro de século. Portanto, aquela mudança apontada na simbologia sinaliza a energia suficiente de algo para transformar-se. Reconhecendo per se o poder e a importância heraclitiana do dinamismo da vida. Do “tudo flui” do filósofo grego ao “tudo no mundo é feito de mudança” do poeta português.

A Pinakotheke não teve o parto e o batismo, em Botafogo, mas é nesse bairro que está, se não nos equivocamos, desde 1994. A partir do Rio de Janeiro, Max Perlingeiro, que comanda aquele espaço que agrega elegância à São Clemente, faz os artistas brasileiros falarem com o mundo, e os artistas estrangeiros compartilharem um pouco do seu genius loci com o Brasil.

A Continente continua a florescer em Santo Amaro, no Recife, com um destaque todo pictórico, de pinacoteca, desde o início: a sua primeira capa – número zero – e dezenas de páginas são dedicadas ao pintor João Câmara. Recentemente, destacou a arte de Jaildo Marinho, Flávio Tavares e Chico Pereira. No próximo número é a vez de Gonçalo Ivo. Por sua sólida cobertura da cena artística e suas grandes obras foi premiada no ano passado pela Associação Brasileira dos Críticos de Arte.

Na revista há o “sobrenome” multicultural; a galeria, por sua vez, chama-se, no nome completo Pinakotheke Cultural. Obviamente, porque não se limita a expor e vender obras de arte; é das melhores editoras de arte do imenso continente da América do Sul, e promove outras ações culturais.

A palavra Continente tem a vantagem de que o substantivo vai além da geografia, e quer dizer muitas coisas boas. Começando por algo tão abrangente como a cultura, que designa a humanidade e suas demasias. Daí que a revista definindo-se como múltipla – multi – no cultural que é, fomenta e lastra o diálogo entre culturas, não limita-se às ablações dos rios Capiberibe e Beberibe. Daí que a Pinakotheke Cultural, além do Rio... de Janeiro, também tem sede em São Paulo e Fortaleza.

Tanto a Continente quanto a Pinakotheke representam o mundo da arte cujo centro está em toda parte. A estética as singulariza e as faz plurais. Vida ainda mais longa a ambas.

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