Um panorama da arte de Rivane Neuenschwander no Itaú Cultural
Mostra mescla obras inéditas, releituras e trabalhos consagrados em vídeos, esculturas, pinturas, instalações e desenhos, abrangendo diferentes caminhos artísticos percorridos pela artista nos últimos 30 anos
14 de Agosto de 2025
Foto Divulgação
O olhar atento de uma artista visual sobre assuntos que vêm movendo os brasileiros na história contemporânea do país – dos anos 1970 aos tempos atuais. Brasil de susto e sonho: um panorama da obra de Rivane Neuenschwander, que entra em cartaz no Itaú Cultural a partir desta quinta-feira (14) e segue até o dia 2 de novembro, reúne obras de três décadas de trajetória da mineira.
Com curadoria da pesquisadora e jornalista pernambucana Fabiana Moraes, a exposição se estende pelos três pisos do espaço expositivo da instituição dedicados às mostras temporárias e abrange os mais variados suportes artísticos, como vídeos, esculturas, pinturas, instalações e desenhos. "É uma exposição que articula momentos importantes da obra da artista e apresenta, em imagens, objetos e gestos, questões do Brasil pós-pandemia e pós-tentativa de golpe institucional. Um sobrevoo que nos faz lembrar, com as pupilas em dilatação máxima, dos muitos sustos que pontuam a história política e social do Brasil", avalia a curadora.
Dentre o material apresentado na retrospectiva, há novas obras, como Mestre Zenóbio e o Cordão da Bicharada, vídeo comissionado realizado em colaboração com o cineasta Cao Guimarães; As Insubmissas e Perversos, marcianos, canibais e alienados, dois conjuntos formados por seres surreais que representam a realidade; Apocaplástico, que evoca a região do rio Tocantins; cinco pinturas inéditas acrescidas à série Notícias de Jornal, e Dream.lab/São Paulo, obra inédita no Brasil, apresentada no fim do ano passado e início de 2025 no museu de arte moderna KinderKunstLabor, na Áustria, agora feita com crianças brasileiras e seus sonhos desenhados.
Dream.lab/São Paulo está no Piso 1, assim como Mestre Zenóbio e o Cordão da Bicharada, um vídeo de cerca de 20 minutos dirigido por Cao Guimarães e Rivane, que retomam uma parceria já vista na obra Quarta-feira de Cinzas/Epílogo (2006), também presente na exposição. Ainda fazem parte deste piso Atrás da porta e L.L. (O vendedor de furos), uma serigrafia sobre madeira composta de 140 peças de dimensões variadas com desenhos e rabiscos, que a artista foi capturando ao longo dos anos nas portas de banheiros públicos. De 2023, a segunda reúne pequenas esculturas, que se espalham pelos três andares da exposição.
No Piso-1, o público encontra mais dois trabalhos inéditos: As Insubmissas e Perversos, marcianos, canibais e alienados. Também está neste andar, o vídeo digital Enredo, produzido por Rivane em 2016 com o neurocientista Sérgio Neuenschwander. O público encontra ainda mais um vídeo de Rivane e Cao Guimarães: Quarta-feira de Cinzas/Epílogo, realizado em 2006. O filme de 10 minutos articula a folia em fim de festa. A obra Repente, de 2016, apresenta etiquetas de tecido bordadas, painel de feltro, caixas de madeira, alfinetes de cabeça e de segurança.
No Piso-2 está Apocaplástico, uma escultura composta de madeira, massa e tinta acrílica, corda, plástico e papel, com dimensões variadas. Tem origem na viagem que a artista fez ao lado de Cao Guimarães, na região do rio Tocantins, para a produção de Mestre Zenóbio e o Cordão da Bicharada. Lá, Rivane observou uma grande quantidade de plásticos e outros materiais jogados após o Carnaval, cujas imagens aparecem no vídeo e nestas obras. Também neste andar, Notícias de jornal (...), de 2025, expõe o noticiário cotidiano – em especial os tantos casos de feminicídio – em uma série de cinco novas pinturas baseadas em ex-votos – sem santos, mas com sangue.
Em A conversação (2010-2025), Rivane se inspirou no filme homônimo dirigido por Francis Ford Coppola em 1974. Nesta instalação composta de papel de parede, carpete, forro para carpete, cola, gravadores de áudio, aparelho de som e alto-falantes, também de dimensões variadas, o mote é a paranoia da espionagem, que transforma todos em suspeitos e alvos – dos celulares e drones, da entrega e monetização dos dados de cada pessoa, notícias sobre grupos e pessoas espionados pela gestão federal encerrada em 2022. Neste trabalho, há escutas escondidas no assoalho e nas paredes e microfones camuflados.