A pintura "Neokaliana" de Renata Cabral
TEXTO Amanda Costa
31 de Julho de 2024
Com um acervo diversificado, passeando por traços realistas, Renata Cabral coloca seu cotidiano nas telas retratando principalmente a beleza, força, sexualidade e resiliência femininas. Paraibana, a artista plástica teve nos últimos anos como maior inspiração as dores de amores que a cercam, se consagrando principalmente através de um traço expressionista cheio de movimento e cores vibrantes onde expõe na Flórida (2014) e Paris, no Carrousel du Louvre (2015).
Fugindo dos rótulos acadêmicos, diferente de tudo que já criou artisticamente, série “Ebulições”, objeto principal dessa exposição, traz para Renata um mundo desconhecido onde o passado e o presente vão se entrelaçando. Um conjunto de obras autobiográficas com elementos aparentemente aleatórios, mas que como um sonho, vão fazendo sentido a cada momento vivido. Se intitulando nesse trabalho de “Neokahliana” em referência ao ícone das artes plásticas Frida Khalo, a artista revela nesta série seus mais íntimos desejos e anseios inerentes a sua natureza apaixonada. Renata se expõe com naturalidade, não porque planeja, mas por se permitir viver intensamente independente do que irá acontecer.
A exposição “retinta”, assim mesmo, com a letra inicial minúscula, desconstrói os conceitos da gramática e reconstrói uma nova Renata, onde a liberdade a deixa distante da perfeição artística. Uma verdadeira ebulição de sentimentos doma seus sentidos, colocando-a frente a frente com suas versões inexploradas. Um encontro para além do desejo e da intimidade se anuncia nas obras dessa exposição, momento que transcende as expectativas e preenche todo o imaginário oculto da artista. Nessa curadoria seguimos uma pseudo linha do tempo, retratando os fatos da efervescência dos sentimentos de se estar imersa na paixão.
São quatro momentos marcantes, dispostos nos ambientes dos espaços de interação da casa de eventos Caratelli. Neste lugar envolvente os prazeres do paladar acompanham os traços da pintura, tornando-se assim o clímax perfeito para contar essa história apaixonante. O encontro virtual, o encontro presencial, a intimidade e a saudade são as etapas cronológicas dispostas nos ambientes expositivos. A sequência dos acontecimentos não é explícita nas obras - um mistério em cada tela se revela.
“retinta” sutilmente propõe essa vivência apaixonante, nas cores, nas simbologias íntimas da artista, nas formas orgânicas e simples. Quais os sintomas da paixão? Estamos apaixonados? Queremos estar? As obras de Renata Cabral nos levam a esses questionamentos de forma despretensiosa e leve. Esse é o momento de reviver e se conectar com essas sensações pulsantes que faz cada respiração valer a pena.
Amanda Costa é curadora