A ONG foi criada em 1991, pelo paulista Wellington Nogueira (Dr. Zinho), depois participar da trupe do Big Apple Circus Clown Care Unit, dos Estados Unidos, programa que, pela primeira vez, levou palhaços para visitar crianças em hospitais. Com sede central em São Paulo, o Doutores atua em mais três capitais (Recife, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), tendo realizado mais de 900 mil visitas a crianças hospitalizadas.
Contando apenas com atores profissionais, uma forma de garantir a qualidade e o comprometimento com o trabalho, o programa também segue o conceito de escola ampliada, com o núcleo de formação e pesquisa de linguagem do palhaço, focando uma metodologia voltada para o hospital, além de promover blocos carnavalescos e espetáculos de teatro – uma maneira de chegar junto ao público de fora dos hospitais. A recepção à trupe, descrevem os integrantes, é a melhor possível, tanto da parte dos pacientes quanto das famílias ou do próprio quadro de médicos dos hospitais, que já os consideram como parte da equipe.
“Posso dizer que a minha vida tem duas fases como artista, uma antes e outra depois do palhaço”, afirma a coordenadora da unidade do Doutores de Recife, Enne Marx, mais conhecida como Dra. Mary En. Ela confessa que, desde que entrou para a equipe, em 2002, seu conceito de mundo mudou. “Meu trabalho ganhou uma dimensão muito maior, porque é social também, eu não tinha essa percepção antes de ir para o hospital.”
Seguindo a ética do humor requintado e do bom senso, o grupo é adepto da palhaçaria contemporânea, humana, olho no olho, enxergando a criança de igual para igual, e instigando nela o seu lado saudável, independentemente da situação. “Apesar da rotina dura do hospital, a criança nunca quer parar de brincar. É uma liberdade tolhida, e o palhaço, dentro desse contexto, vem pra quebrar hierarquias, pra distensionar essa rotina de uma forma responsável”, completa a coordenadora.
Convivendo com o medo e a morte, sempre com um sorriso no rosto, porém, sem fechar os olhos para a realidade dos hospitais, os palhacinhos acreditam no poder de transformação através da arte, encarando a missão com alegria. “Não negamos de jeito nenhum a realidade, nós a subvertemos. Claro, é difícil não chorar diante de um óbito, mas é recompensador quando vemos outras tantas crianças sorrindo, felizes junto com a gente. É em trabalhos como esse que percebemos a grandiosidade da arte”, diz Enne.
OLIVIA DE SOUZA, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.