A introdução ao livro O fole roncou! Uma história do forró (Jorge Zahar Editor) oferece uma leitura sobre a importância que tiveram os forrozeiros no que concerne à manutenção da cultura tradicional, alguns anos depois daquelas andanças de Cascudo. Escrita pelos jornalistas paraibanos Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues, e lançada no ano do centenário de Luiz Gonzaga, a publicação pode ser considerada a primeira biografia do estilo que teve o Velho Lua como seu maior representante. Por conta disso, a trajetória dele é esmiuçada no livro, sendo seu ponto de partida.
Entre fatos curiosos sobre o Rei do Baião, está explicitada sua vontade de se vestir de símbolos que pudessem ser diretamente associados ao Nordeste – daí sua escolha pelos acessórios de couro que o acompanharam pelo resto da vida, inspirados por sua admiração pelo cangaço. Também a influência do pai Januário, exímio sanfoneiro de oito baixos da região. O livro revela que a parceria de cinco anos com o letrista Humberto Teixeira possibilitou a Gonzaga perder a vergonha de “mostrar as coisas que tinha trazido do mato”, rendendo belíssimas composições que tinham como temática central a dor da ausência e a melancolia do sertanejo com saudades de sua terra (sendo Asa branca e Assum preto referências diretas a esse respeito).
O livro também oferece espaço para outros importantes representantes do gênero, como Jackson do Pandeiro e Geraldo Correia (o “João Gilberto dos oito baixos”), além de trajetórias como a do casal Marinês e Abdias, Genival Lacerda, Dominguinhos e Alcymar Monteiro. Dos cânones para a atualidade, chega-se ao “forró universitário” (em São Paulo) e o “forró eletrônico”, este último surgido no Ceará, na década de 1980.
Outra qualidade de O fole roncou é a abordagem de assuntos pouco comentados, como o fato de o forró não ter passado incólume à censura militar, que vetou letras de duplo sentido. Além disso, o livro dispõe de vasto material gráfico, fotografias de artistas e capas de discos.
OLIVIA DE SOUZA, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.
Leia também:
As várias faces de um tributo