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"É preciso sair do mesmo lugar"

De passagem pelo Recife, para apresentar 'Hamlet' com os Clowns de Shakespeare, a atriz potiguar Titina Medeiros fala sobre as peculiaridades dos seus trabalhos na TV e no teatro

TEXTO Pollyanna Diniz

01 de Janeiro de 2013

Titina Medeiros

Titina Medeiros

Foto Pablo Pinheiro/Divulgação

[conteúdo vinculado à reportagem de "Palco" | ed. 145 | janeiro 2013]

As apresentações de Sua incelença, Ricardo III
na abertura do Festival de Curitiba, em 2011, renderam fruto especial para a atriz Titina Medeiros, que faz o papel de Rainha Elizabeth na montagem. Foi no Paraná que um produtor de elenco da Globo gostou do trabalho do grupo e fez o convite para que os atores fizessem testes. Tempos depois, Titina estreava como a espevitada Socorro, na novela Cheias de charme, em que fez uma dobradinha com Cláudia Abreu. Mas como a raiz de Titina é mesmo o teatro e, mais especificamente, o Clowns de Shakespeare, depois do folhetim, ela está de volta em Hamlet, como Ofélia.

CONTINENTE Quais as semelhanças entre o trabalho no teatro e na teledramaturgia?
TITINA MEDEIROS Penso que a principal semelhança é a presença do jogo entre os atores e, consequentemente, entre os outros profissionais que estão realizando a cena. Sem jogo não há teatro e também não há televisão; e foi muito bom constatar isso. Apesar de serem linguagens diferentes, as duas permitem muitas possibilidades. Em Cheias de charme, por exemplo, a indicação de Carlos Araújo (diretor de núcleo da novela) era a de que estávamos fazendo uma fábula, o que ampliava muito o nosso campo. Tenho certeza de que o teatro me ajudou muito a compor Socorro.

CONTINENTE Como montar Hamlet trazendo as referências do grupo ao palco?
TITINA MEDEIROS Tem sido muito pertinente montar esse texto exatamente no momento que estamos vivendo no grupo, porque o drama de Hamlet passa por uma questão de escolha: que caminho tomar? Continuar vivendo como ditam os mandamentos morais da época ou se permitir um novo caminho, aparentemente menos claro, no entanto, tão necessário? Acho que nós, do grupo, estamos vivendo exatamente isso – é preciso dar outros passos e estamos nos permitindo essa aventura. Se ela vai ser bem-sucedida, ainda não sabemos, mas é preciso sair do lugar em que se está e permitir-se o movimento.

CONTINENTE Como está sendo a experiência com Marcio Aurelio na direção?
TITINA MEDEIROS Trabalhar com Marcio é genial, porque ele faz você aprender a partir do ponto em que você está. Tenho aprendido muito, por exemplo, com os seus silêncios. Ele é um diretor que possibilita a descoberta. Tem a paciência necessária para que a luz se faça em nós.

CONTINENTE O que faz com que o grupo continue por 20 anos? Por que fazer teatro?
TITINA MEDEIROS Acho que o amor ao que se faz, a admiração pelos demais integrantes e o desejo de se manter juntos são fatores fundamentais para que o grupo continue. E acredito que insistimos em fazer teatro porque fomos escolhidos para isso. É como diz o samba de João Nogueira: “Não, ninguém faz samba só porque prefere; força nenhuma no mundo interfere sobre o poder da criação”. É mais ou menos isso. 

POLLYANNA DINIZ, jornalista e organizadora do blog Satisfeita Yolanda?.

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