Ubiratan Muarrek lança "Meio do Céu" no Recife
Lançamento acontecerá na segunda-feira, 30 de junho, na Livraria Jardim, com debate e autógrafos de exemplares
30 de Junho de 2025
Foto Divulgação
Considerado um escritor arrojado, que vem construindo uma nova narrativa e linguagem nos seus livros, o paulista Ubiratan Muarrek lança, nesta segunda-feira, dia 30, no Recife, seu mais recente trabalho, Meio do Céu. O lançamento será às 19h, na Livraria Jardim, com um debate especial entre o autor e a professora e escritora Fernanda Pessoa, celebrando a chegada do livro justamente à terra de origem das vozes que o compõem.
Meio do Céu propõe uma forma radical de prosa brasileira: escrito em formato de peça teatral, sem narrador, conduzindo o leitor por diálogos truncados e silêncios carregados de tensão. A história se passa em Londres, em 25 de julho de 2000, dia da queda do Concorde em Paris — que matou 113 pessoas — metáfora central da obra, que anuncia um século marcado por rupturas, desigualdade e instabilidade.
O livro brinda os leitores com um novo tipo de prosa, com elementos inovadores e que bebe do teatro. Escrito no formato de um espetáculo teatral, eliminando, portanto, o narrador, Meio do Céu se situa, contemporaneamente, como um drama tragicômico, caracterizado por apresentar elementos cômicos e trágicos na sua composição - dentro de uma tradição que remonta à Grécia Antiga e que se instalou no coração da modernidade, em nomes como Antonin Artaud e Samuel Beckett.
A história se dá no seguinte âmbito: na metrópole inglesa, duas amigas brasileiras, Sofitel e Greta — uma negra e uma branca, ambas vindas de um Recife ainda assombrado pela escravidão — se reencontram em um parque e confrontam o passado que compartilham. A partir desse embate, Muarrek constrói o que o dramaturgo Leo Lama define como uma “cacofonia de palavras”, na qual os personagens, como o próprio Concorde, atravessam suas zonas de turbulência pessoal e histórica.
Muarrek descreve os dilemas contemporâneos entre o Brasil arcaico e o Brasil moderno. Assim como o supersônico colapsa no ar, os recifenses expatriados de Meio do Céu enfrentam o próprio esfacelamento: o racismo, as tensões de classe e as feridas coloniais ganham corpo numa Londres que funciona menos como refúgio e mais como espelho distorcido do Brasil.
"O autor aborda temas fundamentais da literatura contemporânea — regionalismo, pautas identitárias, luta de classes — mas o faz de forma original, recusando formatos narrativos convencionais e apostando em uma estrutura fragmentada e caótica, onde a própria linguagem se torna o campo de batalha", escreve a poeta e escritora Tatiana Eskenazi.
Várias vozes
Em Meio do Céu, as histórias passam a ser montadas por meio de várias vozes, inserindo-se, de acordo com a crítica literária Flora Süssekind, em uma nova vertente na literatura brasileira, na qual as obras são construídas na forma de um coral, com vozes dissonantes, na maioria das vezes.
Questionado se a ruptura é proposital, diante do fato da crítica vir lhe nomeando como inventor de uma nova linguagem, Ubiratan Muarrek afirma que sim. Que nos seus dois últimos livros tentou soltar-se das narrativas convencionais.
“Venho de dois romances, e senti que não conseguiria avançar na linguagem repetindo as fórmulas, na minha opinião já bastante gastas, da “novela de duzentas e poucas páginas”, predominantemente urbana, esse padrão que se estabeleceu na cultura de forma dominante nas últimas décadas, com variações regionais, diga-se. Narradores têm me aborrecido ultimamente. A saída foi a dramaturgia, seu caráter polifônico e seu repertório formal praticamente inesgotável”, explicou Muarrek à revista Pernambuco.
Ainda segundo ele, “aproveitar a riqueza das vertentes faladas do português foi outra maneira que encontrei de avançar na minha poética, e o português falado do Recife – cheio de história, música e ritmo - foi a língua escolhida para o que, no meu trabalho, foi uma revolução. E, sim, a ideia é extrapolar o teatro, e até, sendo bem radical, prescindi-lo: escrevi um texto para ser lido antes de tudo, e é essa experiência, que eu vivo intensamente – tenho Beckett e Ésquilo na cabeceira – que eu quero compartilhar com os leitores.”
Escrito com um ritmo claramente pernambucano - a partir da voz das duas personagens principais - o autor também explica que a escolha de Pernambuco não foi aleatória.
“Pernambuco é palco de questões sociais, culturais e políticas que perpassam o Brasil desde sempre. O Recife particularmente é um farol cultural, e está aí o cinema que não me deixa mentir. Essa terra é um oceano de mitologias, antigas e contemporâneas. Meu livro embute uma ideia literária: dar centralidade cultural ao Recife por meio da linguagem. Daí minha escolha pelos diálogos, dadas as características dessa fala, e por personagens intensos, como Greta e Sofitel, a que você se refere. Eu quis situá-las no tempo e no espaço, conferindo-lhes uma dimensão histórica. E quis também universalizar o 'recifês', dentro de minhas possibilidades", explica.
Com carreira já consolidada na literatura brasileira — autor dos romances Corrida do Membro (2007) e Um Nazista em Copacabana (2016), semifinalista do Prêmio Oceanos — Ubiratan Muarrek reafirma aqui sua aposta na tragicomédia como lente para o Brasil contemporâneo: “Nas raízes da comédia, há uma capacidade de perigo muito mais ameaçadora do que qualquer sentimento gerado pela tragédia. Tempos ameaçadores, arte ameaçadora — ao invés de arte ameaçada. Daí a minha escolha pelo tragicômico”. Ao fazer dos recifenses o centro do seu projeto literário, Muarrek — ele próprio paulista — devolve ao Recife, nesta noite de 30 de junho, uma narrativa que, ao mesmo tempo, o reconhece e o confronta.
SERVIÇO
Meio do Céu - Ubiratan Muarrek
Editora Assírio e Alvim
210 páginas
R$ 69,90