Agenda

Livro resgata a trajetória do arquiteto Wandenkolk Tinoco

Com organização da arquiteta Betânia Brendle, publicação da Cepe é lançada nesta terça (18), na Academia Pernambucana de Letras, e sexta (21), na CasaCor

18 de Novembro de 2025

Arquiteto projetou o Edifício Villa Mariana, no bairro do Parnamirim, que exibe jardins e jardineiras lineares

Arquiteto projetou o Edifício Villa Mariana, no bairro do Parnamirim, que exibe jardins e jardineiras lineares

Foto Henrique Santos/Divulgação

Arquiteto, professor e amante da natureza, Wandenkolk Walter Tinoco (1936-2021) imprimiu sua marca em edifícios que se destacam na paisagem do Recife. É dele o projeto do Villa Mariana, no bairro do Parnamirim, que exibe “jardins e jardineiras lineares” na fachada principal, com a proposta de aumentar o sombreamento, melhorar a ventilação e criar proteção contra a chuva. Ele é também um dos pioneiros em prédios altos modernos na Avenida Boa Viagem, como o San Remo, o Queen Mary e o Bretanha, nos anos 1960. A trajetória pessoal e profissional desse pernambucano é narrada no livro Wandenkolk, que a Cepe Editora lança nesta terça-feira (18/11), às 19h, na Academia Pernambucana de Letras, nas Graças, Zona Norte do Recife, e sexta-feira (21), às 19h30, na CasaCor.

O livro tem coordenação editorial da arquiteta Betânia Brendle, ex-aluna e ex-estagiária do homenageado, em parceria com o arquiteto Fernando Diniz Moreira. Ao percorrer a trajetória do mestre, com textos e depoimentos de pesquisadores, o livro traz uma leitura crítica da produção arquitetônica moderna em Pernambuco, incluindo a destruição, descaracterização e o precário estado de conservação desse patrimônio. Wandenkolk Tinoco formou-se pela Escola de Belas Artes de Pernambuco, em 1958; atuou como assistente do arquiteto português Delfim Amorim (1917-1972), um de seus ex-professores, e foi docente de arquitetura na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“Desde muito jovem amante da natureza, ele orientou seus projetos para captar o sol da manhã, os ventos, as brisas e a sombra da vegetação tropical do Nordeste. Sua resiliência, autoconsciência e domínio da arquitetura como disciplina lhe permitiram lidar de forma eficaz com os desafios e a pressão do mercado de trabalho e dar evasão a sua fascinante e sensual inquietação plástica, que mais que artifícios superficiais de composição, eram princípios de sua arquitetura”, declara Betânia Brendle, Professora Emérita da Universidade Federal de Sergipe e docente da Technische Hochschule Lübeck, na Alemanha.

A contribuição de Wandenkolk para o patrimônio arquitetônico moderno, de acordo com Betânia Brendle, é significativa. “Ele conjuga a exuberância plástica com o racionalismo construtivo, rejeitando enfeites e disfarces em sua Arquitetura, de expressão pura, exuberante e fiel à tectônica da verdade estrutural e dos materiais expostos. Ao mesmo tempo, sua relação simbiótica com a natureza o fez sonhar em levar para os apartamentos ‘nas alturas’, os jardins e quintais recifenses e o Villa Mariana (projetado em 1976) é a expressão mais próxima desse sonho, apesar de estar parcialmente desfigurado”, afirma.

No livro, que mostra também a transição das moradias em casas térreas para prédios de apartamentos no Recife, há textos de arquitetos e urbanistas que estudam a obra de Wandenkolk Tinoco e que pesquisam a produção arquitetônica moderna em Pernambuco. “Wandenkolk vivia e pensava a cidade, tanto é que levou os quintais das casas recifenses para os andares mais altos de seus prédios de apartamentos, uma decisão, a meu ver, extraordinária: o ponto culminante do seu trabalho de arquiteto”, ressalta Glauco Campello, no prefácio.

“A inquietação de um espírito escultor, favorecida pela formação em Belas Artes, pareceu reforçar o forte viés plástico que Wandenkolk carregou consigo em seu ato de projetar. O arquiteto explorou essa vocação inata principalmente em suas preciosas edificações a partir da década de 1970”, escreve Aristóteles Cantalice. Ele cita, como um dos exemplos, a sede da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), em Santo Amaro, projetada em 1978 com o arquiteto Pedro Montenegro Filho, e atualmente modificada.

Coube a Luiz Amorim e Ênio Laprovitera o texto sobre a casa que Wandenkolk e Lyjane Tinoco (1940-2021) construíram em Aldeia, em 1989. “É um exemplo de perfeita mimese entre artista e obra. Ela nos mostra, com clareza, como a casa do arquiteto, neste caso do casal de arquitetos, condensa e exprime de maneira exemplar a personalidade deles e o ideário arquitetônico que comungavam: a relação entre homem, arquitetura e natureza.”

No fim dos 12 capítulos, há depoimentos dos arquitetos Ana Rita Sá Carneiro, Carlos Fernando Pontual, Marco Antonio Borsoi e Moisés Andrade, entre outros. “Professor de muitos e mestre na produção arquitetônica moderna brasileira, Wandenkolk Tinoco recebe uma homenagem à altura de seu trabalho com este livro, organizado por Betânia Brendle. Para a Cepe Editora, é um orgulho trazer para o seu catálogo uma obra com um esforço imenso de pesquisa, multiplicidade de olhares e inúmeros registros fotográficos. Wandenkolk e a arquitetura pernambucana merecem uma obra tão completa quanto esta”, afirma o jornalista e editor da Cepe, Diogo Guedes.

Coordenação editorial da publicação, Betânia Brendle fala sobre o surgimento da ideia do livro: "O patrimônio arquitetônico moderno da cidade do Recife tem sido sistematicamente destruído e/ou desfigurado. O livro Wandenkolk surge também como um instrumento de preservação da memória desse patrimônio através do registro da obra arquitetônica de um dos protagonistas referenciais da geração de 1960. Desejamos também inspirar outros estudiosos a registar a obra de Heitor Maia Neto, Vital Pessoa de Melo, Armando Holanda Cavalcanti, entre tantos outros representantes da Arquitetura Moderna pernambucana."

O personagem central do livro é Wandenkolk Tinoco e a partir dele a publicação traz a arquitetura de um forma bem ampla: a atuação de outros arquitetos, as inovações na arquitetura, a mudança da moradia em casas térreas para prédios, a descaracterização e a precária conservação dos edifícios modernos. "O foco do livro é a obra de Wandenkolk Walter Tinoco, arquiteto moderno graduado em 1958 pela Escola de Belas Artes do Recife, cuja arquitetura tem inspirado várias gerações de arquitetos de Pernambuco. Entretanto, para se compreender a obra de Tinoco a partir da década de 1960 é fundamental conhecer o cenário precedente, principalmente a partir da saída de Luís Nunes do Recife em 1937 até a construção dos primeiros edifícios modernos de Delfim Amorim e Acácio Gil Borsoi".

Segundo a arquiteta, esse "é um período ainda pouco estudado e repleto de experimentações e desafios projetuais e construtivos, ilustrado por obras de arquitetos como Hugo de Azevedo Marques, Hélio Feijó, José Norberto Castro e Silva, Gilvan Accioly Lins (possível autor dos postos de salvação da praia de Boa Viagem), Hélio Lage Uchôa Cavalcanti (edifício JK, 1949), o edifício Banco Hipotecário Lar Brasileiro, na Pracinha do Diário, projeto do arquiteto Florismundo Marques Lins Sobrinho aprovado em 1953, entre tantos outros. Na década de 1960 a transição da casa térrea para o edifício de apartamento residencial em altura se intensifica e ocorre uma mudança estrutural no modo de habitar da população, acostumada aos jardins e quintais das casas recifenses. A Arquitetura Moderna vai ser a linguagem estrutural dessa nova maneira de habitar coletivamente. Os primeiros edifícios residenciais em altura de Wandenkolk já expressam essa mudança e vão ser estruturados a partir de um rígido zoneamento funcional e do atendimento aos requisitos climáticos, ao tratar cada fachada de acordo com a incidência do sol, dos ventos e da brisa marítima. Wandenkolk reafirma a sua já consolidada sensibilidade e comprometimento com a verdade dos materiais e com a clareza construtiva."

SERVIÇO
Lançamento de Wandenkolk, de Betânia Brendle e Fernando Diniz Moreira
Academia Pernambucana de Letras
Onde: Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças, Zona Norte do Recife
Quando: Terça-feira (18/11), às 18h, com homenagem dos filhos do arquiteto e exibição do vídeo-documentário Wandenkolk, de Bruno Firmino

Lançamento de Wandenkolk na Casa Cor
Onde: Avenida Rio Branco, 162, Bairro do Recife, Centro
Quando: 21/11 (sexta-feira), às 19h30 
Quanto: R$ 200 (capa dura) e R$ 150 (brochura)


 

veja também

História de Preta é exibido no Mês da Consciência Negra

Mostra La Ursa das Artes promove ações culturais em São Lourenço da Mata

Arrenego faz sua estreia no 33º Festival Mix Brasil