Lia Letícia realiza performance no Mamam

O açúcar, na visão da artista visual Lia Letícia, é o elemento fundante da colonialidade brasileira, e, por outro lado, matriz de uma grande rede de afetos comunitários a partir dos doces e bolos. “Há muito tempo tenho vontade de abordar esse paradoxo do açúcar, de uma história tão colonial e sangrenta, mas também sinônimo de fartura e comunidade”, diz ela que, no sábado (1/11), a partir das 15h, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, apresenta a performance "Doce Vintém".

A performance surge da residência artística realizada, sob curadoria de Ariana Nuala, na Vila do Vintém, comunidade localizada no noroeste do Recife. Ao longo dos últimos meses, Lia Letícia partilhou de vivências com doceiras da comunidade no intuito de identificar e ressaltar redes de sentidos acionadas a partir da doçaria. A apresentação consiste em compartilhar com o público os sentidos e o preparo do bolo Doce Vintém, receita criada durante a residência pelas moradoras Diana Fernandes da Silva, Maria José Félix da Silva e Maria “Ceça” Lopes de Souza, cuja receita e sabor só serão conhecidos na hora.

“A doçaria faz parte do sentido de comunidade ali, uma área que, apesar de ser uma Zona Especial de Interesse Social, é também uma área ameaçada pela especulação imobiliária da cidade”, afirma a artista. Originalmente formada por habitações precárias às margens do Rio Capibaribe desde os anos 1960. “Análises de fotos e fotocartas antigas foram feitas neste trabalho, pois mostram a reorganização espacial ‘do Vintém’ nas últimas décadas, revelando que antigos domínios da comunidade são atualmente obras públicas de infraestrutura ou grandes empreendimentos imobiliários. Observa-se que, a valorização do espaço ocupado pela comunidade, e de seu entorno, foi responsável pela remoção de grande parte dos moradores a partir do final do século passado, diminuindo o domínio das habitações mais simples do local para potencializar os investimentos empresariais”, diz.

A performance é uma ação da exposição Tudo Dá, em cartaz no Mamam. Sob curadoria de Clarissa Diniz, a exposição sintetiza 30 anos da trajetória de Lia em cerca de 30 obras, articulando linguagens várias, provocações, ironia e ativismo para questionar disparidades sociais, ecocídio colonialista e a própria arte como instituição.

SERVIÇO
Partilha-performance: Doce Vintém, com Lia Letícia, Diana Fernandes da Silva, Maria José Félix da Silva e Maria “Ceça” Lopes
Onde: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Rua da Aurora, 265 - Boa Vista, Recife - PE, 50060-010)
Quando: Sábado (1º/11), 15h
Informações: (81) 3355-6871