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Arrenego faz sua estreia no 33º Festival Mix Brasil

Filme de Fernando Weller e Alan Oliveira parte do retorno da artista visual Naywá Moura Carvalho a Oeiras (PI) e da leitura de um documento colonial sobre um sabá de bruxas para investigar as marcas da colonização

13 de Novembro de 2025

Naywá Moura e Amanda Amora no set do filme

Naywá Moura e Amanda Amora no set do filme

Foto Divulgação

Misturando realidade e encenação, Arrenego faz estreia mundial no 33º Festival Mix Brasil da Cultura da Diversidade. O filme de Fernando Weller e Alan Oliveira parte do retorno da artista visual Naywá Moura Carvalho a Oeiras, sua cidade natal, no interior do Piauí, e da leitura de um documento colonial sobre um sabá de bruxas para investigar as marcas da colonização no país. 

O longa propõe a leitura e encenação de um documento de 1758 que narra um Sabá de Bruxas ocorrido na região. Um grupo de moradores de Oeiras, antiga capital do Piauí, é convidado a reler e encenar o texto colonial. Entre o gesto performativo e o ato político, o filme constrói um diálogo entre o passado e o presente, questionando as formas de opressão e violência herdadas da colonização. E investiga como as heranças da colonização seguem inscritas nas relações de gênero, raça e poder no Brasil. 

O ponto de partida de Arrenego também remete à pesquisa do antropólogo e historiador Luiz Mott, pioneiro nos estudos sobre religiosidade, sexualidade e dissidências no Brasil colonial. Em seu artigo “Transgressões na Calada da Noite: um Sabá de Feiticeiras e Demônios no Piauí Colonial”, Mott, que também participa da película, descreve o caso registrado em 1758 em Oeiras, que envolve mulheres acusadas de práticas heréticas e rituais noturnos. Esse documento, reinterpretado pelo filme, tornou-se base para uma reflexão sobre a perseguição a corpos dissidentes e o modo como as estruturas coloniais de poder seguem presentes nas narrativas e instituições brasileiras.

Pôster de "Arrenego" (2025), de Fernando Weller e Alan Oliveira
Imagem: Reprodução

“A riqueza de detalhes daquelas descrições e o modo como falavam de mulheres, corpos e fé me atravessou como uma flecha”, conta Naywá Moura Carvalho, diretora de arte, figurinista e corroteirista do filme. A artista destaca que o processo de filmagem foi, ao mesmo tempo, político e espiritual. “Os corpos articulados em cena vibraram o que aquele território nos inspirou e orquestrou, como um ritual”, acrescenta. “Nosso gesto era o de dissipar a névoa ciscolonial, racista e machista que ainda tenta nos sufocar. Que o cinema seja ferramenta para reinventar e reverter as ruínas à mostra".

Para o diretor Fernando Weller, o ponto de partida de Arrenego nasceu de um interesse antigo pelo imaginário da bruxaria no Brasil. “Conheci a história do sabá de Oeiras lendo o livro O Sabá no Sertão, da historiadora Carolina Rocha, e fiquei impressionado com a forma como aquelas mulheres apareciam nos relatos”, explica. “O encontro com Naywá redefiniu o projeto. A história dela e sua relação com a cidade tornaram-se o eixo do filme — uma maneira de reencenar o passado a partir de quem carrega, no corpo, as marcas do presente.” 

Já Alan Oliveira, parceiro de Weller na direção, vê no projeto um exercício de invenção coletiva. “O grande desafio era transformar um documento de 1758 em cinema”, pontua. “Decidimos viajar até Oeiras e, a partir do teatro, experimentar como essa memória ainda ecoava na cidade. O filme nasceu desse cruzamento entre pesquisa, performance e fabulação, fazendo o passado existir de novo - não como reconstituição, mas como criação compartilhada.”

REALIZADORES
Fernando Weller dirigiu os longas Língua Mãe (2010), sobre o músico Naná Vasconcelos, e Em Nome da América (2017), premiado como Melhor Documentário Brasileiro na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em 2024, finalizou a série Nova Cuba – O Nordeste Brasileiro em Dois tempos. Já Alan Oliveira, pernambucano radicado no Uruguai desde 2017, dirigiu e roteirizou Fé Sem Nome (2008) e Di Melo – O Imorrível (2011), vencedor do Prêmio Aquisição Canal Brasil e do Troféu ABD. Atuou como assistente de direção em produções como A Luneta do Tempo e Em Nome da América

Produzido pela Jaraguá Produções, em coprodução com a Pesado Filmes, o longa-metragem tem 75 minutos de duração. 

SERVIÇO
33º Festival Mix Brasil da Cultura da Diversidade
Mostra: Reframe
14 de novembro (sexta), às 17h, no Instituto Moreira Salles (IMS-SP) – com a presença de Fernando Weller e Naywá Moura Carvalho
22 de novembro (sábado), às 17h15, no Spcine Olido
Classificação indicativa: 14 anos

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