Pioneirismo e teimosia
Paixão pelas letras levou Elizabeth Marinheiro a desbravar territórios dominados pelos homens e a realizar eventos internacionais de literatura
TEXTO Carol Botelho
25 de Junho de 2025
Foto Leopoldo Conrado Nunes
Artista da palavra, dama da literatura, mestre da intertextualidade. Não faltam predicados literários à escritora, ensaísta e crítica paraibana Elizabeth Marinheiro, 88 anos. Outros adjetivos como pioneira e vanguardista também lhe caem muito bem. Afinal, foi muita ousadia da parte dela se tornar crítica literária em uma época em que a função só cabia aos homens. E mais: só caía bem naqueles que se curvassem aos ditames dos intelectuais sudestinos. Imagina só, além de mulher, nordestina de Campina Grande! É muito atrevimento, Elizabeth, diriam eles. Pois nunca precisou trocar o Planalto da Borborema por outro CEP. A não ser por curtos períodos, para estudar ou dar aulas no Recife, Rio de Janeiro, Europa, África e onde quer que o compromisso com as letras e a literatura a levasse na eterna busca por enxergar além das palavras, como o faz uma verdadeira artista.
Muito bem-nutrida de erudição, subversão e coragem, Elizabeth Figueiredo Agra Marinheiro ousou mais ainda: foi a primeira mulher a envergar o pomposo fardão da Academia Paraibana de Letras (APL) – ocupa a cadeira número 20 desde 2 de maio de 1980. Até então, os imortais eram aclamados. A autora inaugurou, portanto, a fase das eleições na APL e saiu vencedora.
A lista de atitudes audaciosas não parou aí. A moça ficou conhecida por ter sido a idealizadora, organizadora e curadora dos mais importantes eventos literários que Campina Grande e o Brasil já tiveram: o Congresso Brasileiro de Teoria Crítica e Literária de Campina Grande e o Seminário Internacional de Literatura. Ambos se revezavam bianualmente e foram realizados entre 1977 e 1996. Os eventos voltados aos estudos literários e ao intercâmbio de pensamentos entre escritores de todos os cantos do Brasil e do exterior discutiam não somente literatura e língua portuguesa, também cultura, filosofia, ciências, arte e educação.
“Nunca imaginei que eles seriam banidos do calendário campinense”, lamenta Elizabeth sobre a extinção dos eventos. A questão foi mera e estupidamente política. E continua sendo. Afinal, como um país que ostenta tão prolífica literatura pode ter tão poucos leitores? A autora lamenta que o saudável vício da leitura encontre tão poucos addicteds no Brasil. “Em termos de leitura, somos subdesenvolvidos. Em ambientes universitários as pessoas desconhecem até autores locais.”

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