Comentário

Tão próximos e tan lejos: o que nos impede de conhecer mais a música da Colômbia

TEXTO Jarmeson de Lima

11 de Setembro de 2023

Festival Estéreo Picnic ocorre em Bogotá desde 2010

Festival Estéreo Picnic ocorre em Bogotá desde 2010

Foto Divulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 273 | setembro de 2023]

 

LADO A – ABRINDO-SE AO MUNDO

Em meados dos anos 1990, quando a MTV Brasil era sinônimo de música e não de realities, junto da invasão do Grunge e do Britpop, os espectadores mais atentos notavam que havia um idioma diferente do português e do inglês naquela programação. Por mais que parecesse estranho hoje em dia, a emissora brasileira também exibia ao longo do dia videoclipes de bandas latino-americanas como Aterciopelados, Cafe Tacvba, Los Fabulosos Cadillacs e outros grupos de referência para o rock na América hispânica. Pouco tempo depois, foi criado até um evento transcontinental no Sul do Brasil chamado de Tordesilhas para celebrar essa irmandade ou hermanidade na música.

Mas algo depois se perdeu e esses laços foram ficando mais frouxos e, hoje, pouco se conhece no Brasil o que está sendo produzido na música independente latino-americana, com algumas breves exceções. Nessas exceções, estão artistas e grupos que, a bem da verdade, já vieram ao Brasil em turnês e também já passaram pelo Recife, a exemplo do Puerto Candelaria, Monsieur Periné, Frente Cumbiero e a diva negra caribenha Totó la Momposina. Em comum entre eles, está a nacionalidade colombiana e o fato de serem atrações bastante requisitadas e aclamadas em festivais e feiras mundo afora.

Eventualmente, quando fui a convenções de música em outros países nos anos pré-pandemia, me surpreendia como sempre havia delegações e representantes da Colômbia por lá. Podia ser no Visa for Music (Marrocos), podia ser no Reeperbahn Festival (Alemanha), podia ser no Le Printemps de Bourges (França) ou mesmo na SIM São Paulo. Sempre vi que a presença colombiana era frequente e forte, diferente de outros países da Sulamérica. De certa forma, foi uma maneira de demonstrar que aos olhos do mundo a Colômbia está viva e atuante.

Ok, então um país do tamanho da Bahia consegue mostrar ao mundo que é mais do que apenas salsa, cumbia e Shakira, e consegue representar a diversidade que sua geografia possui? Porque apesar de “pequeno”, o país tem regiões bem distintas que impactam diretamente a cultura e os hábitos da população: temos uma parte andina e, ao lado do Pacífico em paralelo com o norte caribenho, uma grande área que é coberta pela Amazônia.

Foi em parte motivado por essas questões que fui até a Colômbia neste ano para passar algumas semanas com a aprovação de um projeto através do programa Ibermúsicas. Por lá tive a oportunidade de conhecer melhor a cena musical contemporânea de um país que está se reerguendo e se revitalizando após anos ofuscado pela violência de guerrilhas urbanas e pelo narcotráfico.

Nas lembranças do jornalista Enrique Manjarrés, em depoimento no livro Nación Rebelde*, a capital colombiana nos anos 1980 “tinha sua própria trilha sonora com canções do Morfonia, 1280 Almas, Nueve, Danny Dodge e outras”. O criador da Surtidora Cultural, um espaço itinerante de divulgação de produtos alternativos, se recorda ainda de andanças pela cidade mesmo sendo menor de idade. “Tomar táxi na noite de Bogotá era tentar a própria sorte. Se não era uma bomba que podia explodir, poderia ser que a morte estivesse a bordo de um transporte público. Nessas idas e vindas desafiava a vida, mas havia vida porque via bandas ao vivo e escutava músicas que não estavam nos meios de comunicação tradicionais”.

Hoje, felizmente, o país está pacificado e deixou de ser o patinho feio das democracias latino-americanas, sendo um dos principais locais de destino turístico da Europa e Estados Unidos, tanto pela proximidade geográfica com menos horas de voo, quanto pela moeda de câmbio estável e barata. Situação bem diferente de 10 anos atrás, quando turnês de grandes astros do pop e do rock evitavam passar pelo país e cancelavam turnês com explicações baratas. Neste ano, headliners do Lollapalooza estiveram tocando em Bogotá e até Drake, que cancelou sua apresentação no Brasil, chegou a pintar por lá.

“O fato de estarmos incluídos aí como um dos locais importantes para turnês acho que foi um grande avanço pelo menos na última década aqui na Colômbia”, ressalta a locutora e apresentadora Catalina Bernal, do programa Puerto Ibero. “Bogotá nos anos 1990 não era nada do que é agora. Muitas possibilidades foram abertas em termos de música e de diferentes artistas de todo o mundo. Quem imaginou que aconteceria, por exemplo, de vermos o Guns’N’Roses duas vezes na Colômbia, ou que no mesmo ano teríamos uma edição do festival Estéreo Picnic, uma edição do Cordillera e a estreia do Primavera Sound?”, completa.

Ainda assim, não foi fácil este ‘renascimento’ com os acordos de paz com as FARC e um maior controle na eterna “guerra às drogas”. Os antigos toques de recolher determinaram hábitos diurnos na maioria da população que, sem perceber, acaba indo a shows e eventos que são realizados “cedo” para nossos padrões de festas a partir das 23h.


Festival Rock Al Parque é realizado pelo governo de Bogotá. Foto: Divulgação

As pessoas na Colômbia só passaram a sentir mudanças no país nos anos 1990. Mais precisamente depois de 1991, quando foi promulgada uma nova Constituição e novos marcos legais que decretaram o fim do monopólio estatal nas comunicações, incluindo a radiodifusão comercial e uma legislação a respeito de TVs e Rádios públicas e comunitárias.

É ainda importante ressaltar o papel fundamental que o poder público possui no fomento desse cenário artístico colombiano mantendo espaços culturais e realizando grandes eventos ao longo do ano. Uma referência para se conhecer a cena musical colombiana é ver o festival Rock al Parque, um dos mais longevos em atividade contínua no país e uma vitrine de destaque para a música local. Esse é um dos festivais de caráter estatal criado pelo IDARTES, órgão público de cultura que, além desse evento focado no rock, também realiza a cada dois meses eventos já esperados pelo público como o Jazz al Parque, Salsa al Parque, Hip Hop al Parque e Colombia al Parque.

Mas foi só a partir de 2005, na cobertura da 10ª edição do Rock al Parque, que nasce uma importante ferramenta para a divulgação da cena alternativa local: a Radiónica FM. Esta foi uma rádio que conheci durante o período de distanciamento social no início da pandemia de Covid-19 enquanto caçava outras coisas para ouvir na internet. E foi justamente sua programação mais variada e diversa que me chamou a atenção, dando destaque tanto para a música latino-americana quanto para nomes do rock alternativo, mas sem se furtar a tocar bandas mais conhecidas, a exemplo de Gorillaz, Boygenius, Depeche Mode ou Paramore. Tudo isso em horários nobres.

“Isso tem a ver com a missão que a Radiónica possui enquanto rádio pública, que se foca em apresentar artistas independentes nacionais que não têm espaço noutras estações comerciais”, explica Iván García, diretor da emissora. Ele ainda lembra que esta abertura a novidades também é percebida entre os artistas “que nos consideram como a casa em que eles vêm e que aqui podem tocar”.

E de fato, a Radiónica foi uma emissora bastante citada pelos artistas com quem tive contato durante meu período de imersão na Colômbia entre os meses de abril e maio deste ano. Todos foram unânimes em reconhecer o trabalho desta rádio em não só tocar as músicas deles, como ainda divulgar os eventos, os lançamentos e dar destaque à cena local.

Gabriela Ponce, vocalista da banda Buha 2030, uma das atrações do Primavera Sound de Bogotá, tem boas recordações com relação a esse espaço dado na FM. “Foi muito especial quando, no dia 5 de maio de 2019, nossa música Eva tinha começado a tocar às cinco da tarde. Lembro bem porque era meu aniversário e Eva foi o lançamento da semana na Radiónica e o primeiro single que lançamos sem apoio nem nada”. Navegando pelo experimentalismo, mas sem descuidar do faça-você-mesmo, os integrantes da Buha 2030 ainda contam que, na época, eles cuidaram de todo o processo. “Gravamos a música, carregamos, nós mesmos, nos streamings e mandamos para a rádio. O gratificante foi ver, naquele momento, amigos e conhecidos nos enviando vídeos de quando estavam ouvindo”, salienta Gabriela.

O apresentador Eduardo Rendón, do programa Oferta Local, ressalta a importância da Radiónica para este cenário independente sem que as bandas e artistas descuidem do restante. “Acho que a rádio continua a ser mais um elo que os artistas têm e mais uma possibilidade de chegar a mais pessoas. Sinto que se um artista emergente focar apenas em tocar na Radiônica e negligenciar o resto, negligenciar as redes sociais, negligenciar seus vídeos e streamings, shows, merchandising, então ele não vai conseguir avançar”. Transmitido de segunda a sexta por duas horas ao vivo, o Oferta Local tem trazido diversos artistas novos e revelações dos mais diversos estilos na cena independente e com isso, Rendón tem acompanhando essa evolução.

“Acho que as bandas que estavam começando há 10 anos estão agora atingindo um nível importante de maturidade. E mesmo no rock, por exemplo, isso vem mudando. Há 10 anos, estávamos aqui em uma moda mais indie rock, depois as bandas fizeram electropunk e agora vejo uma aproximação em direção aos sons colombianos e em direção ao que é tradicional, ou seja, mais voltada para a América Latina”, lembra Eduardo.


Balthvs, banda de funk psicodélico formada em 2019. Foto: Divulgação


Oh’LaVille, grupo de rock alternativo fundado em 2009. Foto: Divulgação

A sensação compartilhada pelo apresentador se reflete em um fenômeno causado pela explosão do Bomba Estéreo e por mais uma série de grupos que, num misto de sorte e talento, foram lançados pela Pólen Records. Ao longo dos últimos 20 anos, o selo representou uma espécie de embaixada sonora da Colômbia para o mundo, revelando artistas como Systema Solar, Chocquibtown, Pernett & The Caribbean Ravers e o próprio Bomba Estéreo, sendo esses grupos que mesclam a sonoridade latino-americana, a música tradicional colombiana e uma série de tendências contemporâneas.

“Quando começamos a trabalhar por volta de 2006, essas eram músicas que já víamos de forma diferente com um sotaque mais colombiano. Foi realmente um risco porque não sabíamos se o público ia gostar, mas estávamos convencidos que era o que tinha de ser feito”, reconhece Felipe Álvarez, fundador da Pólen Records. A aposta deu certo e os lançamentos do selo logo chamaram a atenção de olheiros nas feiras de música e nas convenções que ocorrem pelo mundo. “Começamos a ver que havia interesse por este som fora da Colômbia, tipo nos Estados Unidos, na Inglaterra... Foi realmente uma surpresa e um novo mundo se abriu para nós como músicos independentes”, acrescenta Álvarez.

Tudo levava a crer que era questão de pouco tempo para esta cena de rock/indie e música alternativa da Colômbia também estourar no mundo, assim como ocorre com o reggaeton de Porto Rico. Mas assim como aconteceu com todo mundo em todo o mundo, a pandemia de Covid-19 deu uma esfriada geral e foi como uma torneira de água gelada em cima de uma panela de pressão prestes a ferver.

Nesse período, algumas bandas refizeram seus planos diante do baque, enquanto outras, como o BALTHVS, estavam apenas começando. E num período de isolamento, sem shows, cresceu em estúdio, em composições e em repercussão, mais fora do que dentro de seu próprio país. “Bem, a banda começou em março de 2020 e foi na época em que foi decretada a emergência global. Como não tivemos uma oportunidade inicial de sair e tocar para as pessoas por aqui, fizemos o inverso do que todo mundo faz. Enviar fotos no Instagram, mandamos músicas no Spotify e fizemos uma divulgação voltada para veículos internacionais”, explica Balthazar Aguirre, guitarrista e fundador do grupo.

E de certa forma isso parece ter funcionado, o grupo tem mais de 2,5 milhões de streams, foi citado em sites no Canadá, na França, na Holanda, no México, participou de duas edições do SxSW emendando a ida a Austin (Texas) com uma turnê por outras partes dos Estados Unidos, graças a uma exótica fusão de guitarras psicodélicas com tonalidade turca e um inegável tempero latino.

Com números mais modestos, mas também reconhecida como uma dessas novidades bem-vindas do país de Gabriel García Márquez, a Maiguai se apresentou em vários teatros, ganhou convocatórias distritais para eventos e vem realizando videoclipes bastante criativos. “A verdade é que para nós, enquanto banda, a questão de gerir um show é um pouco difícil precisamente porque não há tantos locais que se apresentem para projetos alternativos em Bogotá. São os mesmos espaços e grupos com um círculo de amizades e de bandas independentes, o que também não é ruim porque nos une ainda mais”, ressalta Marisol, vocalista do grupo.

LADO B – UM MUNDO COM BARREIRAS

Agora vem a parte polêmica desta análise. Mas, antes disso, é preciso reconhecer que, como brasileiros, nós conhecemos muito pouco sobre a história dos nossos vizinhos e sobre a música latino-americana. Mas e a recíproca seria verdadeira? Afinal, o mercado brasileiro é gigante, tem artistas que viralizam hits na internet o tempo todo e até tem cantores premiados no Grammy Latino. Isso deve significar alguma coisa, certo?! Não necessariamente.

Quando a Netflix lançou a série documental Quebra Tudo: A História do Rock na América Latina (Rompam Todo), muita gente por aqui no Brasil questionou a ausência de menções ao país no seriado. Afinal, não seríamos parte da América Latina? Ou este seria apenas um relato do rock na América Hispânica? Perdemos um protagonismo nessa região ou esse protagonismo nunca existiu para nossos hermanos? Para sermos justos, a única menção feita em Quebra Tudo no Brasil vem por parte dos Paralamas do Sucesso, uma unanimidade e referência de música brasileira para os demais latinos. Eis, inclusive, uma banda que soube fazer valer os laços de irmandade regional para não apenas circular, como ainda criar vínculos com artistas de outros países.


Buha 2030 foi uma das atrações do Primavera Sound, em Bogotá.
Foto: Divulgação

Mas nem sempre foi assim. Os mais experientes devem lembrar que havia uma grande produção de coletâneas voltadas ao público latino com regravações de canções brasileiras em espanhol como bem fizeram Roberto Carlos e Nelson Ned, que inclusive chegou a lotar um dos principais espaços de shows em Bogotá nos anos 1970.

Enfim, voltando ao caso em questão… se hoje nós aqui não conhecemos direito os artistas latino-americanos, como e por que eles também deveriam conhecer a música brasileira? São questões que vão além dos hits e do Top 20 do Spotify, que inclusive separa o ranking da América Latina do ranking brasileiro, que é praticamente autossuficiente de quantidade de plays internos e de sucessos que só existem nesta realidade agropop nacional. O tamanho continental do Brasil e esse mercado dominado por artistas do agronejo afastam, assustam e intimidam bandas e grupos latinos que preferem tentar a sorte em mercados mais complexos como o do México ou se aventurar para buscar a atenção de um público hispano nos Estados Unidos.

Essa também é a visão de Andrés Toro, guitarrista da banda colombiana Oh’Laville: “Minha percepção é que o Brasil é tão grande, que é um mercado que não precisa dos outros. E é natural como vemos que há bastante espaço de circulação interna e uma cultura musical tão rica. A comparação mais justa que poderíamos fazer seria tipo Brasil x México onde, claro, o México é mais distante da Colômbia, mas tem muito mais pontes no nível cultural”.

Durante a BIME, convenção musical que ocorreu em Bogotá ao longo da primeira semana de maio deste ano, ficou mais claro como o mercado latino pós-pandemia prefere apostar em cenas similares do que em territórios “diferentes”. Em uma das mesas da programação havia organizadores de festivais do México, Argentina, Chile e Colômbia. Em todos eles, não havia em suas edições nenhum artista brasileiro. E ao menos desses mencionados, três países são próximos ao Brasil e fazem parte do Mercosul, facilitando entradas e saídas para turnês.

Quando perguntei sobre a presença ou ausência de artistas brasileiros no line up, todos fizeram uma mea culpa e de fato “lembraram” que era possível que houvesse essa participação num futuro próximo. Entretanto, para isso era preciso haver interesse por parte dos artistas nacionais que nem sempre conseguem sequer sair de sua região.

Ainda assim, vale ressaltar que, nas três últimas edições do festival Rock Al Parque, o maior evento do estilo na Colômbia, só três atrações brasileiras estiveram presentes: Angra, Liniker e Scalene. E, recentemente, quem também pisou por lá foi a cantora Pabllo Vittar, primeiro em 2022 no festival Estéreo Picnic e, neste ano, em maio, em um show solo numa turnê pelo continente. Vale ressaltar que, diferentemente das edições que ocorrem no Chile e na Argentina, quando há um intercâmbio de atrações dos dois países e da América Latina, o Lollapalooza Brasil não recebe estas atrações.

O fato é que antes de se aventurar em uma turnê pelos países vizinhos, é preciso exercitar e praticar a empatia com nossos hermanos. Nesse mesmo evento aconteceram duas coisas bem significativas que demonstram uma certa falta de tato e uma arrogância para com os nossos vizinhos. Vamos ao primeiro caso: uma representante de uma cidade brasileira foi convidada para participar de uma mesa junto a autoridades de cidades criativas para expor projetos e soluções que envolvem o cenário cultural de sua localidade. A representante da Secretaria de Cultura dessa cidade brasileira sequer se esforçou para falar em espanhol ou em portunhol para que a audiência pudesse compreender suas falas.

O máximo de esforço foi dizer que falaria mais devagar porque assim todos poderiam entender. Não bastasse isso, toda a apresentação de seu Powerpoint não foi traduzida e a todo instante havia pessoas curiosas perguntando o significado de alguns termos e palavras que obviamente, não tinham o mesmo sentido em espanhol.


Espaço Cultural La Media Torta realiza festivais em Bogotá desde 1985. Foto: Jamerson de Lima

Outro pequeno exemplo de empáfia relacionado ao evento veio de uma das atrações musicais na programação de showcases. Nessas feiras e convenções musicais, diferentemente de um festival em si, as oportunidades dadas às bandas são iguais, sem que o evento tenha que fazer uma divulgação diferenciada para um show ou outro. É por isso que produtores de artistas que estão em eventos assim correm de um lado para outro fazendo networking com agentes, curadores e delegações de outros países para que confiram o show e reforcem local e horário das apresentações.

Diferentemente do que se podia esperar, não foi bem isso que ocorreu com uma incensada atração brasileira que estava nesta programação de showcases da BIME. A banda, que no Brasil possui um certo hype, sequer chegou completa em Bogotá. Por motivos diversos e não explicados sequer nas redes sociais da banda, só metade dos integrantes estava no dia do evento, usando o palco para uma espécie de ensaio aberto para uma turnê que viria a seguir.

Não bastasse isso, sequer tinham se esforçado para divulgar o show na cidade e no evento, que ocorreu em uma praça aberta ao público. Em contraste a eles, um dia antes, a local Nicolas y Los Fumadores tinha realizado entrevistas, divulgado o show em suas redes sociais e viu o Parque de La Araña lotado para ver sua performance. Dá para tirar várias conclusões a respeito dessas duas coisas, mas a principal é que não dá para chegar na casa dos outros achando que se é maior ou melhor do que quem já está lá.

Essa aparente desconexão da realidade brasileira com a América Latina contrasta com o que citei no início do texto. Tanto que esse fato causou espanto aos colombianos com quem conversei, que jamais imaginaram haver tal espaço na mídia brasileira.

Ainda assim, é preciso perceber que existem espaços e há uma carência do público latino pelo que vem do Brasil. “Existe, claro, um pouco de dificuldade porque não há tantos espaços como queríamos. Mas também há noites com festas de músicas brasileiras em cidades mais turísticas. Adoraria que houvesse mais essa movimentação em Bogotá porque sou um amante da música brasileira. Acho que tem muito terreno que pode ser conquistado aqui”, avalia o produtor Felipe Álvarez.

Por fim, o diretor da Radiónica, Iván Garcia também faz uma consideração importante acerca do que chega aos ouvidos dos programadores da emissora: “Na realidade, conhecemos muito pouco de música do Brasil atualmente. Eu realmente não entendo essa desconexão que se apresenta porque, enfim, o Brasil é um país com uma riqueza cultural impressionante e a quantidade de músicas que existe, acredito que a gente não consegue dimensionar aqui. Sinto que é um tesouro ainda a ser descoberto para nós”.

Ou seja, isso tudo só mostra que é preciso romper mais barreiras e se abrir para outras fronteiras absorvendo o que os hermanos têm, em uma saudável troca entre lá e cá, sabendo que isso jamais faria que nossa identidade se perca.

JARMESON DE LIMA, jornalista, produtor cultural, curador e cofundador do festival No Ar Coquetel Molotov que ocorre no Recife desde 2004.

* Mais informações sobre a história do rock na Colômbia e um panorama mais amplo sobre a cena musical do país nos últimos 50 anos podem ser vistos na websérie Nación Rebelde, da RTVC, um conteúdo transmídia criado em conjunto pela Radiónicaao lado das demais emissoras estatais do país.

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