Coletiva 'Diálogo fugidio' na Garrido Galeria
Abiniel João Nascimento, aoruaura, Brígida Baltar, Grupo Urucum, John Baldessari, Thaes Arruda e Véio são os artistas que participam da exposição
TEXTO Erika Muniz
11 de Setembro de 2023
Sobre as relações do encontro, Abiniel João Nascimento, nanquim sobre papel, 30 x 42 cm, 2023
Imagem GARRIDO GALERIA/ DIVULGAÇÃO
[conteúdo na íntegra | ed. 273 | setembro de 2023]
O diálogo pressupõe múltiplas camadas, seja nas esferas que compõem esse encontro e desencontro do que se entende no campo do tangível, mas também quanto ao que escapa às nossas apreensões. Nesse local, que aproxima, mas se mantém “atento ao desejo daquilo que é turvo”, trabalhos de Abiniel João Nascimento, aoruaura, Brígida Baltar, Grupo Urucum, John Baldessari, Thaes Arruda e Véio tecem a nova exposição Diálogo fugidio, da Garrido Galeria, com curadoria assinada por Ariana Nuala, Guilherme Moraes e Steve Coimbra.
As aproximações que coreografam esse diálogo proporcionado pela mostra, evidencia relações intertextuais entre os trabalhos trazidos, mas, sobretudo – e a mesmo tempo –, apresentam as múltiplas formas que cada artista busca se expressa neste Diálogo fugidio. A proposta desse exercício demonstra uma espécie de caminho que não se direciona ao que se percebe enquanto transparente, mas que entende o que se faz denso, turvo. Ao reunir trabalhos cujas “camadas mais densas e mais superficiais” aparecem, a costura “por vezes falha”, mas também se “propõe a potencializar o estado nu de cada elemento, afastando-os de qualquer reconhecimento através de estigmas coloniais”.
A coleta do neblina, Brígida Baltar, frame de vídeo, 2001.
Imagem: Garrido Galeria/Divulgação
No conjunto costurado na exposição, o diálogo proposto pelas poéticas, abordagens e percepções de mundo trazidas, evidenciam além da potência de multiplicidade que a arte contemporânea no país vem demonstrando, o mergulho acerca de temáticas múltiplas – ou mais do que isso, na verdade, de percepções múltiplas – como transformação, interconexões e texturas. “A curadoria foi desenvolvida, principalmente, pela própria diferença entre os curadores. A gente recebeu esse convite da Garrido para trabalhar juntos, mas cada um tem uma trajetória e uma pesquisa diferente. Diante disso, a gente começou a entender o que era nosso diálogo, que mundo era esse, quais eram as ressonâncias de um processo de entendimento que acabava indo para as artes, mas que, na verdade, significavam diferentes lutas. E, então, a partir daí, acho que a gente começou a pensar nessas relações de artistas que traziam questões relativas a criar um novo léxico, a tentar conversar dentro de um processo relacional, como se entende (o escritor martinicano) Édouard Glissant”, comenta Ariana Nuala, uma das curadoras que, atualmente, é Gerente de Educação e Pesquisa na Oficina Francisco Brennand, sobre o processo curatorial para a mostra, e complementa: “O que seria esse ‘entendimento relacional’? Seria o entendimento a partir da diferença. Da diferença, primeiro, que é criada dentro da ficção do que é raça e também da diferença que podem ser criadas dessa relação interespécies”.
Teaching a plant de alphabet, John Baldessari, frame de vídeo, 1972.
Imagem: Garrido Galeria/Divulgação
Limpando a vista, aoruaura, autorretrato em smartphone (01/05 + 2 P.A.), 58 x 58 cm, 2019. Imagem: Garrido Galeria/Divulgação
Com atuação transdisciplinar, Abiniel João Nascimento, que desenvolve o Ciclo de Estudos Críticos: indigeneidade, mestiçagem e a maquinaria da ausência, participa da mostra coletiva com obras como Último dia antes do anoitecer e o tríptico Novíssima gramática historiográfica (Pré-colonial, Colonial e Pós-colonial), entre outros trabalhos. A artista aoruaura apresenta trabalhos em diferentes mídias, a exemplo de A natureza enfrenta a si mesma, desenvolvido em cerâmica esmaltada e suporte em aço, e o autorretrato Limpando a vista.
Véio traz esculturas em madeira. Brígida Baltar, John Baldessari e Grupo Urucum integram a exposição com obras pertencentes ao acervo de videoarte da Fundação Joaquim Nabuco e Thaes Arruda, por sua vez, apresenta trabalhos desenvolvidos em tapeçaria mesclando materiais sintéticos e naturais, como Amuleto e Movimentos que são seu próprio desenho.
Além da exposição, que é gratuita e fica aberta para visitação até o dia quatro de outubro, (de segunda a sexta, das 10h às 19h; aos sábados, das 10h às 14h), haverá também uma roda de conversa, com curadores e artistas, além de uma oficina de tapeçaria ministrada pela artista Thaes Arruda, com datas ainda a serem definidas e divulgadas pela galeria.
ERIKA MUNIZ, jornalista com formação também em Letras