“Acho que tenho tocado violino melhor do que já toquei. Certamente bandolim e violão, também. Consigo dar os agudos com a minha voz, então me sinto, como intérprete, num lugar, ainda, de muita felicidade”, reflete Antonio Nóbrega, que completa 70 anos dia 2 de maio, em entrevista à Continente. Comemorando, também, 50 anos de carreira neste ano 2022, o artista pernambucano vive em permanente inquietação criativa, o que se traduz na execução de projetos que permeiam a música, a dança e a literatura, construídos a partir de uma disciplina férrea, do amor à pesquisa e à cultura, além de uma capacidade ferrenha de sonhar.
Da sua casa no bairro de Pinheiros, em São Paulo, onde passou a maior parte do tempo, desde março de 2020, quando a pandemia da Covid-19 eclodiu no Brasil, Antonio Nóbrega nunca parou de criar. Mesmo quando tudo parecia (ou melhor, era) incerto, ele continuou seu mergulho nos estudos do universo cultural popular, tanto no âmbito da pesquisa intelectual quanto da artística. Na verdade, no seu caso, esses dois campos não andam separados. Seu caráter é agregador, multiplicador, como demonstra a complexidade do seu projeto inventivo. Instrumentista, cantor, compositor, dançarino e escritor, Nóbrega funde talentos e celebra a diversidade.
Mas, esse corpo-cérebro-coração que pulsa e fabula espaços fantásticos não estava, a princípio, programado para ser brincante. Foi a partir do contato com a cultura popular e seus criativos que ele virou uma chave interna e percebeu a riqueza das manifestações brasileiras, das tradições, das tecnologias avançadas que existem no corpo e, muitas vezes, estão escondidas nos interiores e periferias do país.
Nascido no Recife, no ano 1952, Antonio Carlos Nóbrega começou cedo seus estudos de música, quando o pai, o médico cearense João Ramos de Almeida, percebeu a aptidão do filho. Aluno do colégio Marista, seguia o currículo clássico de jovens de classe média da sua época, que incluía aulas de francês, e se mantinha restrito aos círculos da sua classe social. Pernambucano de primeira geração – a mãe, Maria Celestina Nóbrega, era paulista –, ele teve como primeiro instrumento o violino.
“Ainda que meu pai tivesse espírito musical, fosse sensível e gostasse de cantar, a sua função de médico não permitia que ele tivesse conhecimento de onde tinha professor de violino. Mas, no centro de saúde no qual ele trabalhava, havia um funcionário que tinha uma irmã musicista da Orquestra Sinfônica do Recife. Então, acabaram me levando para ser aluno de Dona Belinha, com quem tive as primeiras aulas de violino. Depois, ela me passou para o professor Benny Wolkoff, que era de uma família de músicos. Como terceiro, último e mais importante professor de violino, tive Luis Soler, um catalão que residia no Recife, era professor na Escola de Belas Artes, e foi meu professor mais importante. Na cola da minha formação musical, meu pai colocou minhas irmãs, Tereza Cristina, Tereza Isabel e Eugênia Maria para estudar, respectivamente, violoncelo e piano – com Eugênia depois se interessando pela flauta”, contou, em entrevista realizada em vídeo, à Continente.
Com as irmãs, Nóbrega iniciou a participação em pequenas solenidades de instituições de medicina do Recife, dos 14 aos 17 anos de idade. Com o grupo, ele amadurecia também como cantor e, aqui e acolá, fazia alguns passos de dança, inspirado pelas tendências da rádio e da ainda incipiente televisão, mesclando clássicos da chamada música erudita com sucessos da Jovem Guarda. Nessa fase, Antonio começou, intuitivamente, a experimentar a horizontalização de referências artísticas.
O quarteto de irmãos se dissolveu quando outras prioridades foram entrando em cena, como os estudos escolares e, no caso de Nóbrega, a preparação para o vestibular. Mesmo com essas demandas, e após ser aprovado para estudar Direito, Antonio Nóbrega continuou a se aperfeiçoar na música, caminho seguido também pela irmã Maria Eugênia.
Nóbrega, as irmãs Tereza Cristina, Tereza Isabel, Eugênia Maria e o amigo Alan Paterson em apresentação. Foto: Acervo de família/Cortesia
No primeiro ano como universitário, ele recebeu o convite de Ariano Suassuna para integrar o Quinteto Armorial, braço musical do movimento criado pelo escritor para fomentar uma arte erudita a partir das raízes populares brasileiras, em especial do Nordeste. Até então, crescendo nos bairros de Casa Amarela e Casa Forte, no Recife, e Casa Caiada, em Olinda, ele não havia tido contato com a cultura popular.
“Era um deserto [de referências da cultura popular]. Meu pai, no Carnaval, me levava fantasiado de índio apache, que na época era a representação simbólica de indígenas na televisão e nas classes dominantes, ou de cowboy. Nesse sentido, não mudamos muita coisa de lá para cá (risos)”, lembra. “Por orientação de Ariano e perguntas a ele, como o que ele queria dizer com raízes populares, de repente me vi nos morros do Recife, fazendo aulas com os mestres de caboclinho, subindo os altos – porque, no Recife, a periferia está nas regiões mais altas – então comecei a viajar pelo Nordeste. Fui a Juazeiro, ao Crato, Alagoas. Isso foi praticamente do ano 1971 até janeiro de 1983, quando vim para São Paulo.”
BRASIL ADENTRO
A imersão no universo cultural popular brasileiro teve um efeito transformador na visão de mundo de Nóbrega e passou a ser a sua fonte de pesquisa. Ainda em meados da década de 1970, começou a alicerçar o caminho que viria a ser identificado como o seu estilo, unindo música e artes cênicas.
Após se mudar para São Paulo, no ano 1985, começou a lecionar danças regionais brasileiras no Departamento de Artes Corporais do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Lá, permaneceu até o ano 1991, quando decidiu focar na criação artística e circular pelo Brasil e exterior. Agora, 30 anos depois, ele retorna à instituição para desenvolver, até o final do ano 2022, uma residência artística que envolve atividades teóricas e práticas que iniciou em março e segue até setembro deste ano. Intitulada Brasisbrasil, a ação leva o nome de uma publicação na qual vem trabalhando há algum tempo e sobre a qual conseguiu se debruçar com mais calma durante a pandemia.
“Na minha cabeça, tinha ficado algo inconcluso da minha passagem pela Unicamp. Sinto que, 30 anos depois, retorno à universidade para mostrar o fruto da jornada de campo. Durante a pandemia, não só pude me dedicar a organizar o material que escrevi, a partir do qual vou ter essas trocas na residência – testando na prática essas teorias –, como também revisitei o meu domínio do violino, do bandolim e do violão, no sentido de avançar um pouco mais no meu repertório. Foi uma introversão que, para mim, foi interessante. Em Brasisbrasil, parti com a perspectiva de um voo bem menor do que agora estou pretendendo, porque o objeto de estudo, o mundo cultural popular brasileiro, isso que eventualmente a gente chamou de folclore ou cultura popular, se tornou muito grande, e confesso que ainda não o domino completamente”, situa Nóbrega.
O artista com a tia materna Laura e a esposa Roseane Almeida.
Foto: João Barros de Almeida/Acervo da família
Durante este mês de maio, Antonio Nóbrega continua as suas pesquisas em Portugal, onde pretende investigar elementos das raízes da cultura popular portuguesa e as suas reverberações no Brasil. No país europeu, o pernambucano também faz uma primeira apresentação do que está chamando de Mestiçoflorilégio, que reúne parte dos seus espetáculos, do filme Brincante (filme do ano 2014 dirigido por Walter Carvalho que aborda, entre o documental e o ficcional, a trajetória de Nóbrega) e de canções autorais. Característica, inclusive, de seu processo criativo: o artista vai guardando referências – muitas vezes, apenas um título, a fagulha de uma ideia – que pode vir a ganhar forma em uma obra.
“Uma vez vi, em um folheto, o termo cinemaravilhoso e pensei que era um nome muito bonito para um espetáculo. Só não encontrei o espetáculo que se encaixe (risos). Lunário perpétuo, por exemplo, era uma espécie de almanaque que era muito usado pelas pessoas do Sertão, uma referência literária que documentava o ciclo dos astros, nomes de mitos gregos, dados do mundo agrário, e que acabou sendo muito usado por cantadores. Como o meu trabalho reflete um pouco as várias referências do mundo sertanejo, como se fosse uma espécie de almanaque, para mim, fiz essa correlação poética, simbólica, por isso nomeei assim meu espetáculo do ano 2002”, explica o músico pernambucano.
O apreço pela palavra e as suas várias possibilidades aparece, ainda, em muitos de seus trabalhos, como os shows: Na pancada do ganzá (1995), reunião de cantos brasileiros cujo título é inspirado na obra de Mário de Andrade; Nove de frevereiro (2005), homenagem ao frevo; Semba (2016), em que se debruça sobre o samba; e Circorama, espetáculo no qual homenageia o universo circense.
“Eu sou uma pessoa que guarda essas distintas naturezas de uma maneira, até, visivelmente muito perceptível. Todo mundo que me conhece sabe que tenho esse gosto pela intelecção, por falar sobre a cultura e estudar o mundo cultural popular brasileiro. Também tenho um personagem chamado Tonheta, não tem nada a ver com isso, é um bufão, tem outra natureza. Então, esses dois universos convivem comigo no dia a dia. Ora sou bastante sério, ora sou muito brincalhão. Acho que isso reflete, também, no meu jeito de fazer arte. É um pouco o dionisíaco e o apolíneo”, define Nóbrega.
EM FAMÍLIA
Estar aberto aos ensinamentos transmitidos, a partir da colaboração, é outra característica marcante da personalidade e, consequentemente, da arte de Antonio Nóbrega. De seus primeiros professores, passando por Ariano Suassuna e os vários mestres da cultura popular com quem estabeleceu trocas ao longo da carreira, durante a conversa, ele fez questão de ressaltar que seu trabalho, mesmo em espaços solitários, como o da sala de criação, é resultado do coletivo. Entre as suas grandes colaborações, está a sua parceira de vida, a artista curitibana Rosane Almeida.
Antonio e Rosane se conheceram nos anos 1980, na Fundação Casa das Crianças de Olinda, criada pelo marchand italiano Giuseppe Baccaro, onde havia um pequeno espaço para as apresentações. Ela estava visitando Pernambuco e, desse encontro, surgiu o interesse em conhecer mais sobre o trabalho de Nóbrega. Se apaixonaram e, hoje, ambos mantêm um vívido intercâmbio de ideias que se materializa nas criações artísticas, assim como na manutenção do Instituto Brincante, espaço voltado para promover a união do processo artístico ao pedagógico, a partir da cultura popular brasileira. O projeto, baseado em São Paulo, existe desde o ano 1992 Em 2008, Nóbrega recebeu o título de Cidadão Paulistano, concedido pela Câmara de Vereadores da cidade.
Roseane Almeida e Antonio Nóbrega em cena do filme Brincante. Imagem: Walter Carvalho/Divulgação
“A partir dos meus estudos e pesquisas, ela começou também a encontrar o seu caminho, criando seus espetáculos, escrevendo livros, e veio a participar comigo da maioria dos meus espetáculos. Com isso, nós criamos não só um consórcio afetivo, como também de trabalho artístico e pragmático, que é o Instituto Brincante. Não tinha como, nesse ambiente, a gente não falar a mesma língua. Rosane sempre foi perspicaz, curiosa. É a pessoa com quem eu não tenho reservas para falar sobre qualquer coisa; é minha melhor interlocutora. Tive muita sorte”, conclui o músico.
A dedicação de Antonio e Rosane ao fazer artístico criou uma dinâmica própria para a família, influenciando seus dois filhos, os artistas Maria Eugênia Tita e Gabriel Nóbrega. O multiartista nunca quis que seus filhos se sentissem impelidos a seguirem o caminho das artes, mas sempre considerou imprescindível introduzi-los ao universo que movia seus processos criativos e, especialmente, à cultura nordestina, que o moldou.
“Houve uma influência forte porque, quando saí do Recife, a cultura popular era impregnada em mim. Então, quando cheguei em São Paulo, eu achava inacreditável que meus filhos não fossem contaminados por essa cultura. Eu achava que esse Brasil, na escola e na vida deles, estava muito longínquo. Por isso, eu os aproximei dessa cultura através do pandeiro e fazia com que tocassem um ritmo: um coco, uma ciranda. Trazer a pulsação rítmica já insere um mundo de coisas, porque mexe com o corpo e a cabeça”, lembra.
Os filhos também viajavam com os pais quando estes saiam em turnê, além de, todos os meses de janeiro e fevereiro, passarem uma temporada no Recife, momento em que Antonio Nóbrega organizava idas a lugares onde ele se reencontrava com mestres, como o Mestre Salustiano e seu filho Pedro, além dos brincantes. Eram momentos não só para matar a saudade, mas também para praticar junto àqueles que viviam a cultura popular. Quando Maria Eugênia e Gabriel entraram na adolescência, os primos e os amigos foram incorporados às caravanas da família. Desse grupo de amigos, alguns acabaram levando essas vivências para suas carreiras, como o caso da cantora e instrumentista Flora Poppovic e do percussionista Matheus Prado.
As colaborações em família mantêm-se até hoje. Antonio e Rosane participam do projeto audiovisual Abordagens sobre as danças brasileiras, um material artístico e educativo que está sendo capitaneado por Maria Eugênia.
No espetáculo Naturalmente, com as bailarinas Maria Eugênia Tita, sua filha e Marina Abib. Imagem: Walter Carvalho/Divulgação
CORPO BRINCANTE
Descobrir o corpo brincante foi, para Antonio Nóbrega, um processo de acessar outras camadas do fazer artístico e sensível. Para ele, música, dança e teatro se encontram da mesma forma que se fundem na cultura popular do Brasil e do mundo. Ele reforça que o teatro popular brasileiro é dançado, pois é parente do teatro Nô japonês, do teatro Kathakali, da Índia, da Ópera de Pequim e até do musical estadunidense, expressões artísticas nas quais a música e as representações dançadas estão presentes. São obras que não se prendem apenas à palavra, mas que trabalham as potências do corpo.
“Nunca me projetei como dançarino, artista de palco ou de teatro. Inicialmente, me via como músico, com o violino, e um pouco como cantor. Quando comecei a frequentar as manifestações cênicas do cavalo-marinho, do caboclinho, me afeiçoei por aquelas danças e seus brincantes e, curiosamente, fui puxado para dentro do brinquedo. Tudo isso se processou de forma muito inconsciente. Talvez, o fato de eu ter exercitado a arte enquanto espetáculo – quando criança com minhas irmãs, através do conjunto que nós tínhamos – tenha deixado uma sequela. Quando vi aquele Mateus fazendo suas estripulias, percebi que aquilo também podia se transportar para novos recursos que aprendi com os artistas populares. Como não fiz terapia, isso vai ficar talvez um pouco no limbo, mas o fato é que a dança, para mim, foi uma coisa fortíssima e ficou como a segunda linguagem que mais exercitei, afora a música”, dimensiona Nóbrega.
Para o artista, é preciso olhar para a cultura popular para além dos espaços que hoje lhe são reservados. Quando se pensa no Carnaval, por exemplo, e especificamente o do Recife, tem-se a perspectiva de que se trata de uma festa em que as expressões da cultura pernambucana encontram destaque equivalente, o que não condiz com a realidade. Ainda que preze pela multiculturalidade, a festividade – na qual Antonio Nóbrega foi homenageado em 2014 – segue uma lógica que continua privilegiando certos sons, danças e corpos mais ligados à indústria cultural. Assim, nos principais palcos recifenses, como o montado no Marco Zero, as manifestações populares, a exemplo do coco, caboclinho, cavalo-marinho e maracatu, não assumem espaços de protagonismo.
“Embora eu reconheça o esforço que a Prefeitura tem feito no sentido de mostrar essas agremiações, a gente ficou em um impasse, porque o mundo cultural permanece distanciado do mainstream. São universos na contramão um do outro. Os palanques, em seus momentos nobres, traziam Alceu Valença, Elba Ramalho, Antonio Nóbrega, Caetano Veloso, Gilberto Gil, enquanto o pessoal do maracatu ficava passando enquanto a gente se preparava para entrar. A gente não soube como resolver essa fissura que faz com que a gente continue a ter duas vertentes que se tocam em vários momentos, mas que, na maior parte do tempo, se afastam. É um problema estrutural, porque a gente vê a cultura popular como residual, folclórica, e a outra como a que importa. Isso vai dos recursos à própria recepção do público, então, passa também pela criação de hábitos culturais. Se não houver medidas pragmáticas para mudar esse panorama, a tendência é se afastar mais”, indica o multiartista.
Nóbrega no espetáculo coreográfico PAI.
Foto: Silvia Machado/Divulgação
Nóbrega acredita que esse distanciamento também se reflete na desconexão da sociedade contemporânea com o corpo. Na cultura tecnológica e tecnocrata, se mostra como uma oposição, justamente, no espírito do brincante. Para ele, os que vivem o universo da cultura popular acabam desenvolvendo uma maior liberdade de movimentos, inclusive de questionar alguns padrões de gênero, com corpos que têm procedimentos diferentes do burguês. O artista lembra que, quando começou a frequentar os sambas de maracatu, eram os homens que protagonizavam as danças.
“O nosso corpo foi deixado muito às traças. A tecnologia nos beneficiou de tal maneira, por um lado, mas, por outro, nos destruiu. E ninguém quer voltar atrás, porque a gente se acostumou com essas facilidades tecnológicas. As sociedades estão cada vez mais subjugadas ao consumismo e, por isso, ao meu entender, vemos essa ascensão da extrema-direita, que quer manter as coisas em um certo padrão. E isso está nos levando à autodestruição. O que eu acho mais terrível nisso é que, quando a gente mede nossas forças, nos sentimos quase impotentes. Eu falo dos outros abrirem mão, mas também tenho que falar de mim. Temos que abrir mão em nome do coletivo”, enfatiza.
Longe de ser fatalista, Antonio Nóbrega acredita no poder transformador do conhecimento e da arte e diz vislumbrar outras possibilidades de vida no pós-pandemia. Ele ressalta a importância de abrir espaço para pesquisadores, artistas e à população como um todo construírem caminhos de forma horizontal. O pernambucano diz que sente que algumas pessoas se surpreendem com seus posicionamentos pois, para o grande público, sua imagem está ligada à ideia do brincante, mas que este momento é de reflexão, com as energias coletivas focadas em se mobilizar e mudar o presente e o futuro.
Sobre a chegada aos 70 anos, e revisitando a sua trajetória artística de cinco décadas, ele diz continuar a se encantar com seu fazer criativo e deseja compartilhar com o público seu olhar sobre o ser humano. Praticando diariamente, o que ele atribui a uma vontade e persistência que lhe acompanham desde jovem, ele percebe que seu trabalho ganha conotações cada vez mais abrangentes, tendo como norte formas de contribuir com a melhoria da sociedade.
“Quando comecei a me tornar íntimo do mundo cultural popular, a minha visão era muito local, regional, depois ganhou um status mais nacional, entendendo-o como uma coisa brasileira. Agora, estou entendendo a universalidade desses estudos. Nesse mundo que a gente está vivendo, o que a gente fizer, principalmente nós, os artistas, precisamos universalizar. Então, falar da cultura popular como um deleite, algo que é bonito e que precisamos preservar, não tem sentido se não se insere dentro de um contexto em que se coloca a serviço da nossa realidade. No final de tudo, canto e danço em função dessa ideia: como, ao exercitar a minha arte com maior rigor, estou ajudando as pessoas, minimamente, a sair desse lugar ruim e difícil onde a gente se meteu.”
MÁRCIO BASTOS é jornalista cultural e mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.