Artigo

Vem ver o vento que é o verso das poetas do Pajeú

Algumas contribuições do projeto 'As Poetas do Pajeú'

TEXTO MARIANA DE MATOS, ROSE LIMA, THAYS ALBUQUERQUE E UILMA QUEIROZ

02 de Outubro de 2020

A poeta Severina Branca

A poeta Severina Branca

Imagem Mariana de Matos

[conteúdo na íntegra | ed. 238 | setembro de 2020]

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– Vamo?:
Se eu pudesse não via
um canário na prisão
É de cortar coração
quando ele canta mêo dia
Quando é de noite ele chia
sentindo o cheiro das pranta
Tempera sua garganta
canta sem tá com vontade
E pra matar a saudade
um passarin preso canta

(Severina Branca, maio de 2019, em Mundo Novo)

Severina Branca (1945) nasceu pra explicar que o feminino de poeta só pode ser poesia. Com essa resposta como princípio, saímos em maio de 2019, acompanhadas de outras perguntas: O que faz do Pajeú um território tão associado à prática da poesia? Por que existe uma ode a ela no cotidiano? Como uma comunidade aprende a defender o valor de se ensinar poesia? Quando foi que a poesia surgiu no imaginário da população? Desde quando a poesia mora na rotina desta região? Como nascem tantos poetas em uma mesma geografia? São poetas as mães que gestam na barriga os poetas? Onde estão as poetas deste território marcado pela poesia? Com esse mapa de perguntas, iniciamos a trajetória do projeto As poetas do Pajeú, que vem se desenvolvendo ao longo dos últimos três anos.

QUEM PROCURA, ACHA
Nas livrarias, nas publicações, antologias e coletâneas de literatura pernambucana, nas mesas de glosas, na boca das pessoas, quando pedimos referências de poetas do Sertão do Pajeú: quase não encontramos mulheres. Dizemos que nossa inquietação nasce ao notar a escassez da presença, para dizer que sentíamos mesmo muita falta das poetas no palco da palavra do Pajeú.

A partir disso é que organizamos uma busca por rádio, carros de som, intervenções públicas com faixas, batendo na porta das casas das pessoas, conversando com professoras, no supermercado, por telefone, e-mail, no Instagram, no Facebook, no WhatsApp, de carro, percorrendo comunidades rurais e 17 cidades, além de outras ativações de uma equipe de cinco mulheres em imersão, com a contribuição de tantas outras, nessa busca.

Nosso ímpeto em empreender uma iniciativa que desse maior visibilidade às mulheres poetas do Sertão do Pajeú, considerando produções dos últimos 100 anos, configura, de fato, uma pesquisa audaciosa, que está em andamento ainda e que esperamos que continue para além dessa ação. Consideramos fundamental questionar o lugar ocupado pelas poetas no cenário do Sertão do Pajeú, assim como compreender a realidade social, as diferentes gerações, a diversidade de enunciações, de características temáticas, formais e o desenvolvimento da poesia nas modalidades falada ou escrita, por exemplo.

O projeto, que propõe uma fissura na suposta harmonia estabelecida no uso da nomenclatura poetisa frente ao vocábulo poeta, encara o ruído em experimentar diante da tradição como um traço inerente à natureza de nossa proposta. Reivindicando uma reestruturação da linguagem, uma reconfiguração do imaginário e do olhar, vivemos e registramos um sertão plural, verde, líquido, narrado por mulheres.

Dessa forma, contrapomos um sistema histórico e socialmente organizado que tende a inferiorizar e invisibilizar as mulheres através da narrativa de um sertão masculino, seco, árduo. Com o entendimento que a pesquisa possibilita não só a criação de uma narrativa focada na produção das poetas da região, mas também uma reflexão analítica que pretende confluir na palavra poeta, como termo que comporta a existência e produção poética das pessoas, sem enquadrá-las em binarismos, atitude que pode provocar debates, transformação e reordenação das estruturas de convivência.

Como se pode notar, no processo de pesquisa, houve cuidado para reunir estratégias de entrecruzamentos, encontros, contatos para podermos aprender sobre a poesia do Pajeú, reverberar esse patrimônio cultural e produzir conhecimento a partir dele com uma equipe formada exclusivamente por mulheres. A metodologia de investigação permitiu traçar dois caminhos para encontrar a poesia feita por mulheres no Pajeú, atentas à multiplicidade de manifestações do fazer poético: debruçamo-nos sobre material bibliográfico e transitamos tanto pelas cidades mais conhecidas como por estradinhas de terra de povoados de difícil acesso para encontrar vivências plurais.

Essa imersão no cotidiano do Pajeú nos presenteou com momentos de franca beleza, como escutar as irmãs do Sítio Serrinha – Maria de Lourdes, Maria Valderisa e Ana Maria – declamarem versos passados de geração em geração na família, escutar os poemas enquanto juntas debulhávamos feijão verde e víamos a feitura do queijo coalho. Registrar Jéssica Caitano, cantando junto ao pandeiro, na Cachoeira do Pinga, no sertão verde e fértil, nos alimentou com paisagens, situações, experiências poéticas,para além do Triunfo dos versos.

Da geração mais antiga de mulheres da zona rural de São José do Egito, fomos para a comunidade quilombola de Brejo de Dentro, em Carnaíba, ler e ouvir a jovem Beatriz Eduarda, que na sombra de um cajueiro também compartilhou seus afazeres e desejos de poeta, conectados às pisadas e ao ritmo do coco cultivados pelo pai, José Josinaldo, que fez questão de dançar e cantar um pouco de sua arte.

Vento de ventilador
Que não vence a maresia
Moleque dentro da rede
Fazendo “estripulia”
Gavião voando solto
Ou brigando com galinha
O matuto do sertão,
Feijão, arroz e farinha
A festa de fim de ano,
Conversa do dia a dia
A mãe, o pai, a criança,
Avó, cunhada e tia
Os “bebo” no meio da rua
Desafiando a polícia,
A melancia na rama,
Macaxeira com linguiça,
A pega de boi no mato
E reunião de família
Isso tudo e um pouco mais
É que faz a poesia!!!

(Isso tudo e um pouco mais é que faz a poesia, Beatriz Eduarda, 2004)

Atravessamentos típicos do Pajeú, região que se conecta pelo rio, onde há um diálogo e interação intersemiótica entre as artes, o que podemos ver de forma bem potente nas rimas do rap-coco-cibernético de Jéssica Caitano, no teatro de Odília Nunes, nas canções e nos poemas que marcam as apresentações de As Severinas, banda composta por Isabelly Moreira, Marília Correia e Monique D’Angelo, por exemplo.

Essa efervescência artística que encontramos no Pajeú configura-se a partir da heterogeneidade que marca a relação particular de cada um dos 17 municípios pajeuzeiros com a experiência poética. Há inegavelmente um maior quantitativo de poetas em cidades como São José do Egito, Tabira e Afogados da Ingazeira, por exemplo; no entanto, houve um cuidado na organização do acervo de poemas em ter acesso às poetas de cidades que possuem um menor quantitativo populacional e também apresentam um número mais reduzido de poetas encontradas, como Flores, Solidão e Brejinho.

Configurou-se, portanto, como um dos objetivos do projeto trazer além de nomes já consolidados, como o de Bia Marinho e o de Beatriz Passos, os de poetas ainda pouco conhecidas dentro do território do Pajeú, ou até mesmo que nunca foram publicadas, ou recitadas, já que nesse contexto cultural a prática de oralizar publicamente a poesia é bem mais recorrente quando comparada à de publicar. Se, por um lado, o registro escrito permite essa possibilidade de apreensão do poema de outrora, por outro, o contato aprofundado com a poesia do Pajeú nos fez pensar que pode ser limitada a experiência de, algumas vezes, ler os versos em um livro ou em uma tela de computador, já que há um destaque à presença do corpo na construção de sentidos do fazer poético sertanejo, que delineia uma poesia pensada para um público que escuta, não apenas lê.

QUEM NÃO LÊ, LEMBRA
Antes de ser letra, a poesia do Pajeú é voz, distante de uma composição ou leitura silenciosa, ela chama a música até mesmo na arte de declamar, com um propósito de partilha, encontro público. Constatamos que as marcas da oralidade estão tanto nos poemas escritos quanto nos falados, seja através da rima, do ritmo, da escolha vocabular que remete à fala na modalidade escrita, seja a partir da entonação, da cadência, da ênfase sonora, das pausas marcando som e silêncio, nos gestos, na dramatização de uma poeta performando seu poema na modalidade falada da língua. Dessa forma, a oralidade é uma das características constitutivas da poesia do Pajeú.


Imagem: Mariana de Matos

Nesse sentido, trata-se de uma experiência absolutamente distinta escutar, por exemplo, Severina Branca dizer seus poemas e de uma forma única performar, com musicalidade e trabalho de voz específicos, agregando sentido ao oralizar as composições. Há uma vivência de corpo, de voz, de olhar, de boca e de ouvidos que exercitam a poesia ora memorizando para compartilhar ora escutando com atenção, revelando-se uma prática comunitária da habilidade poética. Como Severina, outras poetas da geração antiga, Rafaelzinha e Luzia Batista, por exemplo, configuram-se como artistas na tradição oral, cultivam essa poesia que pode ser percebida através da memória como artifício, ao produzir e reproduzir os versos sem apoio da escrita e com elaboração poética de excelência.

No entanto, a técnica de criar e registrar apenas na memória também está atravessada pela possibilidade do esquecimento, já que se trata de um material vivo e mutável que abrange o processo lacunoso da recordação, podendo promover adaptações, o que expõe ainda mais camadas da construção do conhecimento e da cultura com base na língua em sua modalidade falada. Nessa trama, demonstra-se a importância de incentivar agentes e trabalhos da memória cultural, ou seja, desenvolver empreendimentos que se respaldam em registrar em diversas mídias a produção oral para que ela permaneça ecoando nas gerações futuras. O projeto As poetas do Pajeú se alinha e fomenta essa perspectiva.

As poetas da poesia falada serviram-se das peculiaridades da modalidade da língua que dominavam e desenvolveram poesia, disseram e cantaram seus poemas, no caso de Severina Branca e Luzia Batista continuam reverberando seu fazer poético. Ao escutar os relatos das mulheres com mais idade, evidenciam-se as dificuldades da cultura patriarcal que fazia com que elas abandonassem as vivências artísticas por conta do casamento ou dos filhos, como nos testemunhou D. Luzia. Por isso, provavelmente, há um número limitado de registros em mídias escritas ou audiovisuais das poetas não letradas, já que seria mais curto o tempo que desfrutavam como poetas. Ademais, constata-se, ontem e hoje, o preconceito que acaba subvalorizando e tratando com demérito essas valiosas contribuições artísticas da oralidade.

Em relação a essa situação, essas produções culturais que vêm de uma contínua reverberação a partir do contato entre as gerações enquanto manifestação oral estão recebendo possibilidades de registro em artefatos da memória cultural, tanto através de iniciativas audiovisuais quanto de publicações literárias.

Por exemplo, D. Luzia Batista, que fez sucesso em sua juventude nos anos 1970 e 1980, nos improvisos das cantorias, mas só aos 66 anos publicou seu primeiro livro, a partir da iniciativa de Isabelly Moreira e Vinícius Gregório de organizar sua produção poética. Também no que se refere às poetas da escrita, há o livro póstumo de Clene Valadares que está no prelo, editado por sua filha Anaíra Mahin.

Empreendimentos como esses se assemelham aos anseios do projeto As poetas do Pajeú, pois permitem uma política da memória contra o apagamento, o esquecimento de poetas que ainda não obtiveram o devido reconhecimento público e podem não ter registros de sua poesia em mídias da recordação. Diante dessa constatação, o projeto pretende disponibilizar o acesso ao acervo construído durante a pesquisa a partir de um arquivo rizomático, em uma pluralidade de mídias – poemas escritos, em áudios e em vídeos – exatamente por entender o caráter plural do Pajeú.

Nessa trilha, precisamos enfatizar outra camada da poesia do Pajeú que está relacionada a uma poesia da oralidade: as mesas de glosas e as cantorias. Populares e prestigiosos são esses encontros de poetas, redutos tradicionalmente pouco ocupados pelas mulheres. Ainda assim, na antiga geração, Anita Catota e Luzia Batista fizeram sucesso nesse cenário.

Por outro lado, a nova geração de mulheres que desenvolve o improviso nas mesas de glosas já conjuga a espontaneidade dos versos articulados em poucos minutos e com motes compartilhados com a experiência da escrita, sobretudo, em coletâneas regionais e nacionais, como é o caso de Francisca Araújo, Dayane Rocha, Elenilda Amaral, Erivoneide Amaral e Milene Augusto.


Severina Branco em criação de Mariana de Matos

Observamos que o desejo pelo exercício da poesia elaborada em uma comunicação poética engendrada no “aqui e agora”, no improviso e na fala, não está associado intimamente a ser ou não letrada, senão a uma mais complexa tradição poética compartilhada através da experiência oral e de partilha pública da comunidade. Traços esses que podemos encontrar como ecos em manifestações poéticas que acontecem em diferentes países e culturas, através das batalhas de improviso do rap e do slam, por exemplo.

EM TODO CANTO HÁ UM MUNDO NOVO

Quis fugir do conforto do meu ninho,
Engasguei no silêncio dos meus lábios,
Pois só vi, nas lonjuras do caminho,
Passos tolos buscando rumos sábios.
Voltei sem explicar essa magia...
Pois só sei contemplar a Poesia
Sendo ela que em tudo me completa,
Entre tantas razões, por ser perfeita...
E, pra tentar desvendar do que foi feita,
Sonhos às vezes, meu Deus, que sou Poeta!

(Trecho de poema de Francisca Araújo, 1995)

Quando pensamos o local e o global, os desdobramentos se multiplicam em distintas gradações e caminhos. Assim, podemos notar uma articulação da tradição poética da região com novas formas de produzir, divulgar, apreender poesia, conjugando as características locais com perspectivas nacionais e globais do cenário literário, dissolvendo barreiras, promovendo contatos e se espalhando pelo mundo.

Atualmente, essa característica parece estar mais evidente, embora poetas como Clene Valadares já apresentassem traços rizomáticos e multiculturais, ao produzir poemas em inglês sobre experiências em diversos países. Junto a ela e mantendo a poesia como tradição de família – outra característica do Pajeú –, a sua filha Anaíra Mahin também explora a subjetividade em relação a um território familiar, marcando o encontro entre mãe e filha através de uma casa-ruína e de um país no desamparo.

Desert
So much hate in this country,
So much love in my soul.
Sometimes I think
I’m speaking in the desert.

(Clene Valadares, 1946-2019)

&

Na minha casa brotou uma mata
Os espíritos de ferrão defendem a ruína
Por toda parte há estilhaço
Como se a casa estivesse nas entranhas
me habita uma borboleta de madeira com cheiro de chuva
Ouço dentro o som da panela que ampara essa goteira antiga
Ouço a louça frágil
como uma guerra que findou
sem socorro
Com os olhos secos
a vista traga mormaço
O vento cisca as telhas
Esfrego as janelas
A casa assim é palavra ao avesso

(Anaíra Mahin, 1986)

Como evidenciamos na pesquisa e podemos ver nesta reflexão crítica, a produção das poetas do Pajeú está fortemente ligada às práticas da tradição oral, seja na poesia de bancada (das poetas que não improvisam), seja na das mesas de glosas, ambas poetas costumam dizer, declamar, performar seus poemas. Há uma variedade formal, ainda que se cultivem muito as formas fixas, com versos e estrofes metrificados, a presença do soneto se destaca, nesse sentido, junto aos poemas de verso livre, mais exercitados pela nova geração quando comparada com as gerações anteriores.

Quanto às temáticas, as poetas meditam sobre um universo complexo, sobre uma infinidade de assuntos, por exemplo: a própria vida, no sentido filosófico de poemas ontológicos de Carmen Pedrosa, Dulce Lima e Maria Cinthia Pio; a paisagem e o território na poesia de Elenilda Amaral, Verônica Sobral e Rafaelzinha; as particularidades da mulher nos poemas de gozo e maternidade de Dayane Rocha; a sociedade e a política nos versos de Celeste Vidal e Maria Samara; a metalinguagem presente na poesia de Thaynnara Queiroz. Essas constituem um pequeno panorama para citar alguns nomes do amplo universo poético das mulheres do sertão do Pajeú, que também tratam de amor, desilusão e saudade, dentre tantos outros aspectos da existência.

I
Quando é de manhãzinha
No tempo da trovoada
Canta alegre a passarada
Lá nas matas da serrinha
Vê-se logo a andorinha
Voando sem direção
Quando vê preparação
Muito cedo se levanta
Toda passarada canta
Quando chove no Sertão

II
Nem bem amanhece o dia
O xexeú se acorda cedo
Canta lá no arvoredo
Sua linda melodia
O concriz com alegria
Também faz sua canção
O bacurau pelo chão
Pulando de planta em planta
Toda passarada canta
Quando chove no Sertão

III
Canta o “galo-de-campina”
Canário e salta-caminho
Canta todo passarinho
Quando vê uma neblina
Todo pássaro faz buzina
Quando a chuva cai no chão
Lá na lagoa o carão
Prepara sua garganta
Toda passarada canta
Quando chove no sertão

IV
A jaçanã na lagoa
Vai logo se sacudindo
Quando a chuva vai caindo
Ela acha ser uma boa
Toda passarada voa
Causando admiração
Até mesmo o mergulhão
Dentro d’água se levanta
Toda passarada canta
Quando chove no Sertão

(Efigência Sampaio de Lima Bezerra, 1935-1999)


Imagem: Mariana de Matos

O projeto As poetas do Pajeu, até o momento, reuniu mais de 150 poetas a partir de material bibliográfico, 55 entrevistas feitas por pesquisadoras locais (Dayane Rocha, Silmara Marques e Bruna Florie), em todo o território do Pajeú, e ainda por 20 entrevistas filmadas durante a viagem de imersão realizada em maio de 2019. Parte desse material estará disponível a partir deste outubro nos diferentes territórios virtuais do projeto As poetas do Pajeú.

Além disso, apresentaremos uma proposta educativa para ensino-aprendizagem da produção das poetas, para somar com a presença da poesia nas escolas, nos saraus, concursos e múltiplas atividades artísticas. No sertão do Pajeú são comuns atividades com poesia nas escolas, com destaque para São José do Egito, que oferece, desde 2014, a disciplina Poesia Popular na Educação Infantil. A poeta Beatriz Eduarda amadurece como exemplo dessa conjuntura, pois foi com o estímulo das professoras Sueli Pereira da Silva e Cícera Morato da Silva, que começou a escrever poemas no 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Padre José de Anchieta, povoado de Serra Branca, em Carnaíba. No entanto, apesar dessas características positivas, observamos a falta de atenção específica à produção das mulheres.

Nossa pesquisa pode ser vista como um ponto de encontro com a multiplicidade de sentidos e experiências poéticas. Assim, desejamos compartilhar, além dos desdobramentos desse projeto, atenção com outras iniciativas de pesquisa, reflexão crítica e divulgação da fortuna cultural do Pajeú. Há diversos coletivos, festivais e projetos que estão engajados nesse propósito de promoção e vivência da cultura da região, inclusive da poesia: o Coletivo Mangaio, formado por uma articulação de coletivos locais de várias cidades do Pajeú; a Festa do Louro, o Circuito das Artes e o Festival Coco Cocada, em São José do Egito; a Missa do Poeta e o Festival de Cinema Poesia na Tela, em Tabira; o projeto No meu Terreiro tem Arte, em Ingazeira; o Clube do Cordel e o Xerém Cultural, em Afogados da Ingazeira; e o Festival Pajeú-Várzea, que ocorreu no Recife, para fomentar o intercâmbio entre sertão e litoral. Esses são apenas alguns exemplos de ações culturais do Sertão do Pajeú, esperamos que, como essas, outras iniciativas tenham sucesso na divulgação da cultura poética pajeuzeira, que deve ser cada vez mais conhecida por todas as pessoas que sabem que abrir caminhos é um dos poderes da poesia:

A poesia veio antes
Dos tempos coloniais
Das lamparinas de azeite
Das festas medievais
Das mais lindas frases ternas
Dos suspiros das cavernas
Dos saudosos ancestrais

(Trecho do poema Como veio a poesia, de Carmen Pedrosa, 1930-1997)

MARIANA DE MATOS, artista transdisciplinar.

ROSE LIMA, produtora transdisciplinar e pesquisadora de arte.

THAYS ALBUQUERQUE, professora e escritora.

UILMA QUEIROZ, professora, realizadora audiovisual e poeta.

Juntas articulam o projeto As poetas do Pajeú (@aspoetasdopajeu).


Extras

Reportagem A poesia do corpo, de Erika Muniz, investiga uma nova geração de poetas declamadores que instiga debates contemporâneos a partir da oralidade e da web

Poemas

Antipoema (Anaíra Mahin)

Poema que balbucia
Poema em silêncio
Que qualquer palavra restringe
Esse verso poema vivo
Antipoema
Será carne animada?
Milagre comum
Cria
Poema misterioso
Que a gente nomeia
E é apenas ave
E somos apenas ninho
E cresce apenas
Feito planta
E apenas canto
Porque canta

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