“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução.” A frase de Machado de Assis, escrita em um de seus contos datados de 1884, representa a celebração destes 10 anos da Cepe Editora. De 2008 até hoje, palavras, ideias, livros e revolução marcaram a sua história, permeada pela crescente formação editorial, gráfica e profissional. Hoje, a Cepe é uma das editoras de referência no cenário nacional – a segunda maior entre as de imprensa oficial do país –, com centenas de obras lançadas e um amplo e diversificado catálogo, além da publicação de periódicos como a revista Continente e o suplemento Pernambuco. Ao longo dos anos, a Cepe Editora conquistou reconhecimento regional e nacional pela qualidade gráfica e editorial do seu trabalho, além do seu importante papel na promoção, apoio e divulgação da cultura pernambucana.
A atividade de produzir livros existe desde 1924, quando ainda era o Departamento de Imprensa Oficial, responsável pelas publicações oficiais, como a edição e a impressão do Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Embora seja sucessora de estruturas de governo, a Cepe só foi fundada nos moldes atuais em 1967 e tem sua trajetória marcada pelo pioneirismo e pela modernização do seu parque gráfico. Dessa forma, paralelamente à publicação do Diário Oficial, a produção de livros foi se tornando uma parte essencial da instituição, decorrente do aperfeiçoamento das ações editoriais e dos investimentos em tecnologia.
Infográfico: Janio Santos
Contudo, foi a partir de 2008 que, oficialmente, a Cepe Editora foi criada, como uma iniciativa da presidente da Cepe na época, a atriz Leda Alves, e do atual diretor de produção e edição, Ricardo Melo. Nesse mesmo ano, foram estabelecidos critérios técnicos para garantir a qualidade gráfica e editorial das obras, assim como a sua relevância para o público leitor, com a implantação do Conselho Editorial, que já foi presidido pelo jornalista Mário Hélio e pelo escritor Everardo Norões. Formado por cinco especialistas de diversas áreas, entre eles o atual presidente, o editor e livreiro Tarcísio Pereira, o Conselho tem um importante papel de suporte, ao analisar e selecionar os títulos a serem publicados de acordo com as normas de submissão da Cepe, propondo também reedições de livros já esgotados, raridades ou destaques.
Então, a partir desse marco, novas ações contribuíram para o crescimento e especialização da Cepe enquanto editora. Além da criação da Superintendência de Produção Editorial e da construção de espaço para a redação e para a própria editora, a quantidade de profissionais foi ampliada com a incorporação de revisores, jornalistas, designers, ilustradores e diagramadores. Hoje, todos esses setores não somente interagem entre si, como também atuam conjuntamente com outros departamentos da Cepe, como as superintendências de Produção Gráfica, de Marketing, Comercial, a Assessoria de Imprensa e, sobretudo, com o Conselho Editorial. Ricardo Melo relembra que a equipe dedicada à editora iniciou-se pequena em 2008 e, na medida dos anos, cresceu e se tornou cada vez mais integrada a todos os processos de publicação: da etapa da diagramação à impressão do livro.
Assim, logo em seu primeiro ano, a Cepe Editora lançou cinco obras: o livro inaugural foi Guel Arraes: um inventor no audiovisual brasileiro, organizado por Alexandre Figueirôa e Yvana Fechine. Os outros quatro compõem a coleção de memórias políticas do jornalista, advogado e político Paulo Cavalcanti, narradas na tetralogia O caso eu conto como o caso foi.
Em uma década, essa produção aumentou gradualmente, com vários destaques entre os títulos e a seleção de autores, tanto pernambucanos, como de renome nacional, como Hermilo Borba Filho, Gilvan Lemos, Silviano Santiago. Entre os destaques, estão as cartas escritas por Dom Helder Camara, reunidas e publicadas em quatro volumes de Circulares; o livro sobre as histórias dos nomes dos municípios do estado Pernambucânia: o que há nos nomes das nossas cidades?, de Homero Fonseca, com várias reedições; a biografia Antonio Callado: fotobiografia, organizado por Ana Arruda Callado, indicada ao Prêmio Jabuti 2013; Poemas, do padre Daniel dos Santos Lima, obra vencedora do Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacional em 2011, na categoria Poesia; e o mais recente lançamento, Barléu, história do Brasil sob o governo de Maurício de Nassau (1636-1644), de Gaspar Barléu e traduzido do original em latim por Blanche T. van Berckel-Ebeling.
Hermilo Borba Filho e Gilvan Lemos estão entre os autores publicados pela Cepe Editora. Fotos: Reprodução
De acordo com Luiz Arrais, superintendente de Produção Editorial, para inovar seu catálogo, a Cepe Editora também produziu cinco coleções especiais, entre elas a Acervo Pernambuco, um conjunto de obras que visam resgatar autores e livros que contribuíram para a formação da memória cultural e história do estado, de forma a apresentá-los à nova geração de leitores. Essa coletânea republica obras raras em quatro selos, estes relacionados à literatura, ao teatro, às artes plásticas e às obras de sociologia, história, geografia e antropologia.
Outro destaque do acervo da Editora são os livros infantojuvenis, publicações que vêm crescendo e se tornando mais interativas ao longo dos anos. Algumas delas foram lançadas através do Concurso Cepe de Literatura Infantil e Juvenil, criado em 2010. Entre os títulos vencedores das edições estão Bia Baobá, de Itamar Morgado; O dia em que os gatos aprenderam a tocar jazz, de Pedro Henrique Barros; e o indicado ao Prêmio Jabuti 2012 Anjo de rua, de Manoel Constantino.
A promoção de diversos concursos literários tem sido uma ação importante da Cepe Editora, de modo a incentivar a produção escrita em Pernambuco e se estendendo também para o âmbito nacional. Segundo Ricardo Melo, além do Concurso Cepe de Literatura Infantil e Juvenil, o Prêmio Cepe Nacional de Literatura e o Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura, por exemplo, são realizados para promover novos escritores, como uma estratégia de proporcionar a distribuição e circulação da literatura contemporânea e de democratizar o acesso ao livro e à leitura. Além das diversas obras publicadas e dos concursos literários, a Cepe Editora também vem se consolidando no âmbito do jornalismo literário e cultural com a publicação da revista cultural Continente e do jornal literário Pernambuco.
A Companhia Editora de Pernambuco investiu num parque gráfico moderno. Foto: Divulgação
A Continente é produzida mensalmente desde os anos 2000, o periódico consolidou sua proposta editorial baseada em expressões culturais, arte e jornalismo. Entre outras reformulações para aprimorar seu conteúdo e seu projeto gráfico, em 2017, a Continente passou por uma reformulação editorial, incorporando uma nova maneira de organizar seus textos e seções: a revista foi dividida então por gêneros como ensaio, reportagem, crítica, entrevista, artigo, aprofundando sua produção de conteúdo, que entende a cultura de sua forma mais ampla, não apenas focada nas manifestações do campo artístico. A editora da revista, a jornalista Adriana Dória Matos, salienta que esses 18 anos de existência do periódico são uma prova de resistência, principalmente pelo contexto de fechamento de várias publicações dedicadas à cultura no Brasil neste período. “Isso decorre, claramente, de uma política pública estadual que valoriza a cultura e que entende que publicações voltadas ao assunto aliam informação e formação, ingredientes fundamentais em um país de tão baixos índices de leitura”, comenta.
Criado em 1986, com o nome de Suplemento Cultural do Estado de Pernambuco, o jornal circula uma vez por mês abordando o universo da literatura, com entrevistas, artigos e resenhas de autores de diversas gerações. Inicialmente encartado no Diário Oficial, em 2017 o suplemento Pernambuco tornou-se uma modalidade de assinatura individual e ganhou, nesse mesmo ano, o selo Suplemento Pernambuco na Cepe Editora, com o lançamento de livros inéditos, como O corpo descoberto: contos eróticos brasileiros (1852-1922), organizado pela pesquisadora Eliane Robert Moraes e Antologia fantástica da República brasileira, de José Luiz Passos. O ensaio Genealogia da ferocidade, de Silviano Santiago, inaugurou o selo literário que visa publicar obras que pensem a relação entre literatura e o contemporâneo. “O Suplemento Pernambuco tem se preocupado em estar atento às mudanças que a literatura tem vivido nesse começo de século, as quais detectam uma movimentação no cânone literário. Por isso, a cada edição, procuramos ser democráticos nas vozes que são representadas no jornal: estar atento às várias vozes que estão falando nesse momento é fundamental para quem faz jornalismo cultural”, afirma seu editor, o jornalista Schneider Carpeggiani.
Embora a Cepe Editora continue atualmente editando e publicando o Diário Oficial do Estado de Pernambuco, a prestação de serviços gráficos e os crescentes investimentos em produtos e eventos literários também ampliaram o seu papel como formadora de público leitor e difusora da rica e diversificada cultura do estado. Essas atividades também resultam de um constante investimento em tecnologia, que sustenta todo este processo editorial.
A Cepe Editora tem participado de diversas feiras, a exemplo da Fenelivro. Foto: Divulgação
Concomitantemente à modernização e informatização do suporte industrial do seu parque gráfico, da maior profissionalização dos quadros e fortalecimento das ações de marketing, a Cepe Editora também investe, cada vez mais, no lançamento de e-books. O processo de digitalização começou em 2015, transformando as obras físicas já esgotadas no acervo em livros virtuais. O primeiro deles foi o clássico A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela, contudo, hoje são mais de 200 e-books disponíveis no catálogo, que podem ser acessados em qualquer plataforma digital.
Em 2018, muitas novidades permearam a trajetória da Cepe Editora. A entrada do escritor Wellington de Melo como o novo editor, em 2017, em substituição ao jornalista Marco Polo Guimarães, resultou em diversas transformações este ano. Desde então, ele e a equipe já estabeleceram diversas mudanças a fim de otimizar todo o processo de publicação de obras, trabalho que resultou em um número recorde de lançamentos em 2018, com quase 80 títulos publicados, entre eles a tetralogia de Raimundo Carrero, Condenados à vida;Ypiranga Filho, organizado por Lêda Regis; o infantil Dianimal, de Alexandre Revoredo; Teatro Popular do Nordeste: o palco e o mundo de Hermilo Borba Filho, de Luís Reis; e A coisa brutamontes, de Renata Penzani, obra vencedora do Prêmio Cepe e o lançamento da coleção É Campeão!, editada pela Cepe e idealizada pelo jornalista Marcelo Cavalcante.
Wellington de Melo explica que a elaboração de uma ferramenta de verificação simultânea de todas as etapas de produção das obras gerou uma maior interação entre os setores envolvidos. “A implantação desse sistema mais integrado, que permite acesso, em tempo real, a todas as etapas do processo de edição (do setor de diagramação até o de marketing), resulta em um histórico e em um controle maior da produção dos títulos. Portanto, esse modelo só favoreceu a eficiência do processo de publicação”.
Além do lançamento recorde de obras, da inauguração da nova livraria no Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda, e da contínua participação em seminários e feiras de livros em diversas cidades do estado, a Cepe Editora conquistou três prêmios literários da Fundação da Biblioteca Nacional em 2018. Em nove indicações, ficou em primeiro lugar na categoria Literatura Juvenil com a obra Os filhos do deserto combatem na solidão, de Lourenço Cazarré; em segundo lugar na categoria Poesia, com o título O voo da eterna brevidade, de José Mário Rodrigues; e, na terceira colocação, na categoria Romance, com Outro lugar, de Luis Sérgio Krausz.
Hoje a equipe dedicada exclusivamente à editora cresceu, chegando a quase 20 pessoas. Foto: Divulgação
Luiz Arrais destaca que, apesar do fechamento e falência de grandes livrarias brasileiras, o ano de 2018 foi profícuo para a empresa, como um período que resultou das diversas ações investidas nesses últimos anos. “Ao longo dessa década, o principal resultado alcançado pela Cepe Editora é o reconhecimento geral da qualidade editorial e gráfica da sua produção, notoriedade que também foi adquirida com a indicação a importantes premiações nacionais como o Prêmio Jabuti, o da Fundação da Biblioteca Nacional e o Prêmio Oceanos, o que só reforça a sua crescente atuação no mercado livreiro do país”.
Portanto, durante toda essa década, a Cepe Editora teve como objetivo primordial publicar obras com relevância para a cultura pernambucana, nordestina e brasileira, em todos os seus aspectos – eruditos ou populares –, com abrangência nos campos científico, técnico, literário e artístico. Seus mais de 300 títulos publicados, não só divulgam ou ampliam a cultura do estado de Pernambuco, mas, sobretudo, também se constituem como patrimônio com valor artístico e literário. Ricardo Leitão, presidente da Companhia Editora de Pernambuco desde 2014, destaca todas essas ações como fundamentais para a expansão da Editora, tanto no Nordeste, quanto nacionalmente. “A Cepe cada vez mais dá passos largos para tornar-se uma editora de participação no cenário nacional e também de interesse de autores nacionais. Hoje, ela já se transformou na segunda instituição pública que mais publica livros no país, e isso resulta de esforço de ano após ano: com a participação conjunta e efetiva da equipe, com a otimização dos equipamentos da gráfica e da promoção do livro e da leitura, que é a missão da empresa”.