Lançamento

A trajetória do 'heavy' metal na terra do frevo

Leia trechos do livro 'PEsado - Origem e consolidação do metal em Pernambuco ', de Wilfred Gadêlha, relançado pela Cepe Editora

TEXTO Wilfred Gadêlha

02 de Maio de 2018

Livro 'PEsado' traz levantamento histórico da música pesada em Pernambuco

Livro 'PEsado' traz levantamento histórico da música pesada em Pernambuco

FOTO Acervo de Wilfred Gadêlha

NOSSA VERDADEIRA IDENTIDADE
Gritaria. Urros de raiva. Era um bêbado! Um homem descamisado que bradava e sacolejava a grade da entrada principal de uma academia de boxe. Gritava pedindo para entrar. Provavelmente, não sabia onde estava. Mas queria que abrissem. Devia ter uns 40 e poucos anos. O segurança do local acordou assustado. Veio lá de dentro, empunhando uma arma de fogo. Não reconheceu o bêbado. Mandou-o ir embora, ameaçando-o com a arma. A essa altura, acerca de 60 pessoas que aguardavam na frente do Teatro Apolo, no Bairro do Recife, o início do show, olhavam a cena esperando que o bêbado fosse embora. Ele não foi. Continuou forçando a grade. O segurança retornou e, depois de uma troca de insultos, levantou a arma e atirou, protegido pela grade, contra o peito do bêbado.

Correria geral! Cabeludos, carecas e moicanos, a maioria adolescentes, assustados com a possibilidade de mais tiros, correram e se agacharam atrás dos poucos carros que estavam estacionados na rua. Todos ouviram quando o homem atingido pela bala gritou: “Eu não morri!”

Ele cambaleava, repetindo a mesma frase, e o sangue não parava de esguichar do seu peito. O moribundo não interrompia seu caminhar, procurando o amparo de quem estava por ali.

— Eu não morri! Eu não morri!

Todos saíram correndo de seus esconderijos. Quando olhamos em direção ao homem, ele ainda estava de pé, próximo aos carros, jorrando sangue pelo peito. Alguns pararam e ficaram observando a cena. Em pouco tempo, o bêbado foi ao chão. Alguns correram para tentar socorrê- lo, mas já era tarde. Minutos depois a rua estava tomada por policiais.

“Será que não terá o show por causa dessa história?!”

Esse era o questionamento geral entre os presentes. Todos amaldiçoavam o segurança por sua estupidez e lamentavam a morte do homem, mas estavam mesmo preocupados era com o show. Éramos adolescentes e, como tais, tínhamos o nosso egoísmo exacerbado.

Na época, com apenas 14 anos de idade, eu nunca havia ido a um show de uma banda de heavy metal que não fosse pernambucana. Muito menos uma que já tivesse um LP gravado. A expectativa era grande. Vários dias antes, o meu grupo de amigos só falava no show da Taurus. A banda vinha do Rio de Janeiro para tocar pela primeira vez no Recife e lançar seu primeiro álbum, o Signo de Taurus. O ano era 1987. [leia também sobre o livro aqui]

             

*A Continente pode ser encontrada ainda na plataforma de revistas GoRead e nas principais bancas do Recife e em livrarias especializadas do país.

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