Cabo Setenta e Visconde de Sabugosa, de O auto da Compadecida e do Sítio do Picapau Amarelo, respectivamente, são os campeões nas lembranças coletivas. “Nas ruas, as pessoas vêm falar comigo: ‘E aê, Setenta?’. Engraçado é que o Setenta não é um personagem original do Auto, e, sim, de outra peça de Ariano, Torturas de um coração. Pelo Visconde, tenho um afeto grande, porque ele é um importante personagem da literatura brasileira”, diz. A televisão traz um reconhecimento instantâneo – em maio e junho, Aramis esteve no elenco do seriado Amorteamo, dirigido pela conterrânea Flávia Lacerda, e comprovou: “É uma visibilidade marcante”.
Mesmo assim, ele não faz distinção entre as frentes de atuação. “Amo trabalhar nos três veículos – cinema, teatro e televisão. O teatro talvez exija uma carga dramática maior, mas eu me preparo com o mesmo afinco. O ator é um radar, alguém que sempre observa o comportamento humano. O método Stanislavski leva a gente a trabalhar com a memória emotiva, com o que temos no nosso cérebro. Esse é um gatilho que todo ator tem”, detalha.
Este 2015, porém, tem sido mesmo cinematográfico para o ator. Até aqui, “Mima”, como ele é apelidado, participou de quatro filmes. Meus dois amores, de Luis Henrique Rios, e Sorria, você está sendo filmado, de Daniel Filho, já estrearam no Sudeste, enquanto Entrando numa roubada, de André Moraes, e Um homem só, de Cláudia Jouvin, entrarão em cartaz neste segundo semestre. E foi com um longa-metragem – Baile perfumado, dos pernambucanos Lírio Ferreira e Paulo Caldas – que a versatilidade de Aramis foi premiada: o tenente Lindalvo lhe rendeu o troféu de melhor ator coadjuvante no Festival de Brasília, em 1996.
Lindalvo era astuto e vingativo, cria de um Aramis cerebral, sem sorriso. É inegável, contudo, a força da veia cômica desse que é o terceiro dos sete filhos do advogado Bóris Trindade e de dona Regina (seu pai ainda teria e/ou adotaria outros oito herdeiros) – ele mesmo pai de quatro filhos, “nenhum deles, até agora, nem aí para a carreira artística”. Mesmo na tragédia amorosa de Romeu e Julieta – Cordel de Ariano Suassuna, ele arrancou gargalhadas dos jovens com seu gestual e com as expressões típicas do vocabulário nordestino. “A comédia é forte mesmo, não posso negar. Mas não me sinto preso a ela. Há pouco tempo, recebi o convite para interpretar Dias Gomes em uma minissérie sobre Janete Clair, que a Conspiração Filme vai fazer. Estou superempolgado”, confessa.
Aramis Trindade se levantou da mesa da biblioteca da escola, atendeu a mais um pedido de selfie, despediu-se e saiu carregando a mala com o terno de algodão e o tecido que serve de cenário, tal qual um caixeiro-viajante a distribuir sua arte em qualquer lugar. “Meu objetivo com esse circuito escolar e alternativo é levar o teatro a quem não tem o costume nem os meios de vê-lo”, afirmou, saindo, apenas por hora, de cena.
LUCIANA VERAS, repórter especial da revista Continente.