Já Yuri Kalil trouxe timbres menos convencionais para as faixas A solidão e sua porta e Adam, fruto de sua experiência com nomes como Cidadão Instigado, Thiago Pethit e a própria Karina Buhr. Enquanto Buguinha carimbou sua marca com dubs e efeitos em músicas como Keep fighting e Musa. “Cada uma tem uma sonoridade. Deu para sentir a mão da galera, isso é mágico. Um mixador não é só um mixador, é mais um para somar”, comenta Bactéria que, ao lado dos técnicos de som Djalma Rodrigues e Bruno Freire, do estúdio Casona, também assinou parte da mixagem sob o codinome de Dom Casebre.
Quem também contribuiu com o disco foi a atriz Hermila Guedes, revelando-se uma intérprete e tanto. A voz envolvente da atriz pega o ouvinte de surpresa, logo na primeira faixa, Esse samba, em que ela faz duo com Rozen. O convite partiu do compositor que, ao saber da vocação da amiga, enviou-lhe algumas músicas para que escolhesse. “Eu gosto de cantar, mas só uso essa pequena aptidão no teatro junto com meu grupo do Recife, o Coletivo Angu de Teatro. Foi uma surpresa muito boa, principalmente porque não sabia que André compunha, muito menos que cantava. Adorei a experiência e principalmente o resultado”, diz a atriz.
POETAS
Além de Hermila, outras vozes femininas entraram no disco, entre elas a de Joana Pena, neta de Carlos Pena Filho, de quem Rosemberg musicou o poema A solidão e sua porta. A escolha por musicar o poeta pernambucano se deu durante a montagem do repertório. “O poema de Carlos Pena já estava perto de mim há muito tempo, entre meus escritos, papéis e rascunhos”, explica. Como se não bastasse, outro poeta pernambucano lhe serviu de estímulo. Manuel Bandeira, cujas obras completas acompanharam Rosemberg em vários mochilões pelo mundo, foi a fonte de inspiração da música Éter, composta em parceria com Bactéria.
“Minhas músicas são todas cheias de referências”, diz o compositor. Quem escutar a faixa Teu nome, facilmente lembrará de Gal Costa recitando “E se um dia eu tiver alguém com bastante amor pra me dar, não precisa sobrenome, pois é o amor que faz o homem”, em Meu nome é Gal, escrita por Roberto e Erasmo Carlos. Assim como Esse samba faz alusão direta a Canto de Ossanha, de Vinícius de Moraes e Baden Powell.
“Apesar de terem sido feitas em épocas diferentes, inconscientemente, minhas músicas estão sempre falando das mesmas coisas: tempo, poesia, amor e desamor. Mesmo estando em primeira pessoa, eu ficcionalizo as letras, procuro falar de sentimentos mais amplos, não foco só o meu ego”, explica o compositor.
A despretensão com que André Rosemberg e Bactéria conceberam o projeto, sem convocar uma banda e ensaiar antes das gravações, somando-se à ausência de um conceito pré-estabelecido para o trabalho, torna o trabalho singular, fiel ao fluxo natural dos acontecimentos. O que arriscaram deu certo. A começar pelos músicos, que foram sendo chamados no decorrer das gravações. Sem falar dos integrantes do estúdio Casona – Cristiano Bivar (bateria), Djalma Rodrigues (violão e guitarras) e Bruno Freire (técnico de som) – que se dispuseram a executar algumas canções. Beto do Bandolim (bandolim), Marcos Axé e Malê (percussões), Hugo Carranca (bateria), Jô do Vale (piano rhodes), Parrô Melo (clarinete), Alberto Guimarães (violão de sete cordas) e Artur Dosa (guitarra) foram alguns dos convidados. “Foi um trabalho colaborativo, graças à abertura que dávamos a todos que chamamos para gravar”, contou Rosemberg.
Se considerarmos que os verdadeiros criadores são os compositores, RozenBac faz jus a tal princípio, uma vez que nos permite ter acesso direto à voz do compositor e, de quebra, aos que o ajudaram a se expressar. A influência de Bactéria como produtor também é notável: “Minha preocupação foi fazer um disco sem apelação musical. Tem que ter algo de orgânico, senão fica pasteurizado, artificial”, resume.
MARINA SUASSUNA, jornalista.