Cortina de vidro de prédio do New York Times maximiza luz. Foto: DivulgaçãoO diretor educacional do GBC ressalta que alguns dos projetos mais sustentáveis do mundo apresentam sistemas de consumo eficientes e foram construídos com matérias-primas renováveis. Esse é o caso do jornal The New York Times, o primeiro edifício dos Estados Unidos a adotar uma cortina de vidro (ultra-clear low-e) que maximiza a luz, e que ainda possui mais de 95% do aço de sua estrutura reciclado, entre diversas outras medidas. O Hospital Dell’Angelo, em Veneto (Itália), incorporou, desde a concepção do projeto arquitetônico, conceitos que valorizam a humanização e cura do paciente. O destaque são os jardins que unem os blocos e transformam o espaço em um ambiente agradável, favorecendo a calma e a tranquilidade.
Já o exemplo do Parlamento Alemão, o antigo Reichstag, demonstra que também é possível adaptar ou reconstruir projetos para deixá-los mais sustentáveis. Com uma arquitetura diferenciada, a sua reconstrução possibilitou o uso intensivo de energias primárias renováveis, como o biodiesel, que é produzido no próprio edifício. Os elementos fotovoltaicos instalados na cobertura alimentam a rede interna e o calor excedente é usado para aquecer o edifício através do aquífero em frente ao prédio.
NO BRASIL
O arquiteto e urbanista Jorge Wilheim (leia entrevista a seguir) dedicou grande parte dos seus mais de 60 anos de carreira a proporcionar mais qualidade de vida às cidades. Professor e gestor público, ele também fez diferença no cenário ao seu redor. A rua onde mora, na capital paulista, é uma das mais arborizadas do Bairro de Pinheiros. Mas não foi sempre assim. Quando Wilheim mudou-se com a família para a pequena rua sem saída, em 1957, a paisagem era desnuda e sem verde. Foi ele quem plantou sibipurinas e paus-ferro para embelezar o ambiente.
Melbourne Recital Center aproveita iluminação externa. Foto: Divulgação
No bairro recifense da Várzea, o desejo de morar num ambiente mais verde também foi responsável pelo diferencial da casa de Anna Karina Alencar e Werther Ferraz. Professores e arquitetos, eles aproveitaram o conhecimento técnico e a criatividade para implantar soluções inovadoras e mais sustentáveis. A casa deles é a única da rua que possui um sistema de esgotamento sanitário – realmente – ecológico, pois não despeja efluentes no terreno nem na drenagem da rua, como é comum na cidade. Além disso, eles têm uma cisterna para captar água da chuva e aproveitá-la para irrigação do jardim e outros usos domésticos.
As medidas adotadas nesses casos representam a tendência global na busca por mais qualidade de vida. Já há algum tempo, o discurso da sustentabilidade virou moda. Agora, começa a entrar em prática nas mais diversas agendas, sendo a da arquitetura uma das mais centrais. A modernidade dos aglomerados de arranha-céus e as vantagens das grandes cidades vêm perdendo espaço para ambientes mais planejados que, em alguns casos, resgatam a simplicidade de hábitos antigos e aproveitam o que o ambiente ao redor oferece.
A transformação acontece aos poucos. Empreendimentos que são concebidos de maneira mais ecológica também estão em alta. “Tudo relacionado à sustentabilidade está na moda, e a arquitetura sustentável ganhou força. No momento, observo que muito tem se falado. Mas ainda há muito por fazer”, destaca Anna Karina.
Arquitetura de hospital italiano prevê bem-estar do paciente. Foto: Divulgação
Ela e Werther ressaltam que nem sempre os padrões estéticos da atualidade seguem medidas mais ecológicas e, por muitos anos, a estética venceu essa batalha. Um exemplo disso pode ser visto nos edifícios de escritórios com fachadas de vidro. “O uso exagerado desse material permite a passagem excessiva dos raios solares, que se convertem em calor e exigem mais do ar condicionado. Hoje, até já temos vidros que reduzem essa transmissão de calor. Mas esse uso demonstra que nem sempre as escolhas atendem ao que é melhor para o clima”, ressalta Werther. Outra dificuldade, cita, é que o padrão dos sistemas de engenharia já regulamentado adota as soluções mais inteligentes, o que inibe a adoção de projetos mais eficientes e em maior quantidade.
Os sistemas de esgotamento sanitário são um exemplo desse descompasso. Normalmente, uma mesma tubulação recebe a água utilizada no banho, na pia e no vaso sanitário e direciona todo o recurso para a fossa séptica. Dessa maneira, uma quantidade muito grande de água que ainda poderia ser aproveitada é contaminada. Esse desperdício incomodava Anna, que buscou uma alternativa para separar essas águas e, assim, reutilizar o recurso não contaminado para irrigação do jardim. “Como também captamos a água da chuva, nosso consumo da água que chega pelo abastecimento público é bastante reduzido”, destaca.
Incluir outros elementos que tornem os hábitos da família cada vez mais sustentáveis faz parte dos planos do casal, em constante busca por soluções. “Estamos sempre refletindo, vendo o que poderíamos implementar. Adotar essa postura sustentável requer planejamento. Aos poucos, vamos fazendo mudanças, aprimorando os ciclos”, ressalta Werther. E, enquanto criam a casa dos sonhos, se satisfazem com a contribuição a projetos de outros imóveis. “É sempre gratificante quando conseguimos incluir uma ou outra iniciativa no trabalho com nossos clientes”, comenta Anna.
Empreendimentos da Reserva do Paiva seguem padrão sustentável. Foto: Tiago Calazans
O arquiteto Yuri Moraes, representante do Fórum Estadual de Reforma Urbana, afirma que a sustentabilidade não é um conceito fechado. “Não é um lugar aonde se pretende chegar. Ela está no caminho, no dia a dia. Para alcançá-la, é necessário adotarmos uma visão mais generalista das coisas”, defende, citando a permacultura como uma metodologia que tem a contribuir com a criação de ambientes humanos sustentáveis, economicamente viáveis e ecologicamente corretos. No passo a passo da concepção de um projeto arquitetônico, esses elementos incluiriam a escolha do local, dos materiais utilizados, dos sistemas e tecnologias adotados e, por fim, do uso desse ambiente.
APELO VERDE
Em sintonia com a busca por mais qualidade de vida, surge a tendência de bairros planejados e sustentáveis. Em Pernambuco, mais de cinco grandes projetos estão em desenvolvimento no Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Goiana, São Lourenço da Mata e Camaragibe. Guiados pelo pioneiro Bairro da Reserva do Paiva, eles apresentam uma combinação de elementos urbanísticos e arquitetônicos para assegurar a preservação dos recursos naturais.
O diretor de incorporação da Odebrecht Realizações Imobiliárias, Luís Henrique Valverde, responsável pela Reserva do Paiva, destaca que todos os empreendimentos do bairro seguem o padrão de baixo adensamento e baixo gabarito, ventilação cruzada e soluções para uso racional de água e energia. “Nós acreditamos que essa é uma tendência irreversível. Inclusive porque também é a visão do cliente que, naturalmente, irá optar cada vez mais por empreendimentos verdes. As próximas gerações não aceitarão de outra forma”, defende.
Arquitetos Anna e Werther utilizam conhecimento sobre o tema
na própria casa. Foto: Tiago Calazans
Valverde explica que toda a infraestrutura do bairro foi calculada a partir da previsão de população a longo prazo, a exemplo do sistema viário. “Nosso objetivo é que tudo tenha um sentido plural para que, no final, o bairro seja integralmente sustentável”, diz. Para isso, entre outras medidas, a Reserva do Paiva oferecerá um conjunto de serviços que possibilite o uso de bicicletas e caminhadas sem que o morador precise se locomover em grandes distâncias. Cada solução ecológica, segundo Valverde, foi implantada de maneira adequada ao empreendimento.
No caso do Residencial Morada da Península, foi instalada energia solar para aquecimento de água, válvulas redutoras do consumo de água no banheiro, captação de água da chuva para irrigação do jardim e madeira certificada. Já em um empresarial, uma das prioridades é a qualidade térmica dos ambientes para reduzir o consumo de energia com refrigeração, e não o aquecimento de água. “Dessa forma, optamos por incluir vidros especiais, que retêm o calor externo, captação de água da chuva e reuso de água”, lista o diretor.
Luís Henrique ressalta que a busca pela sustentabilidade inicia-se na concepção dos projetos que envolvem profissionais com expertise sobre o assunto. “Nós ponderamos desde a posição nascente do empreendimento, para favorecer a temperatura, à adoção de sistemas que garantam um uso mais eficiente dos recursos, como sistema de iluminação automática”, descreve, lembrando que o mercado brasileiro tem se adaptado e passa a oferecer alternativas nacionais cada vez mais vantajosas.
Leia também:
"Para mim, não é claro o que se quer dizer com arquitetura sustentável"
Desde o início do ano, cinco novos empreendimentos brasileiros já podem ser intitulados como “verdes”. Eles receberam o selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) da ONG Green Building Council (GBC) Brasil, que visa estimular projetos sustentáveis no país. Com esses, o Brasil soma 88 imóveis reconhecidamente ecológicos, entre casas, escritórios, hospitais, escolas, estádios e museus. O crescimento ao longo dos anos demonstra o fortalecimento da arquitetura que pensa no meio ambiente em todo o mundo. As referências internacionais começam a ser acumuladas e a criar tendências, como a sede do jornal The New York Times, em Nova York, o Parlamento Alemão, em Berlim, e o Hospital Dell’Angelo, na Itália.
Entre as iniciativas adotadas para obtenção do selo LEED estão sete categorias: eficiência energética, uso racional de água, materiais e recursos, qualidade ambiental interna, espaço sustentável, inovações e tecnologias e créditos regionais. Todas são direcionadas à redução de consumo ou uso eficiente do recurso – o que garante a qualidade de vida nesses ambientes e preservação dos recursos naturais. O diretor técnico e educacional do GBC Brasil, Marcos Casado, ressalta ainda que as soluções sustentáveis também resultam em economia, como a redução de 30% no consumo de energia, de até 50% no de água e de 80% dos resíduos sólidos.
Em crescimento constante nos últimos três anos, o Brasil ocupa a 4ª posição no ranking de edificações sustentáveis, atrás apenas dos Estados Unidos, Emirados Árabes e China. Até o fim de 2013, a expectativa é de que 900 novos processos de certificação sejam iniciados e outros 120 sejam concluídos. “A região Sudeste é a mais avançada hoje, mas temos visto o Nordeste despontar no número de edificações que buscam os diferenciais da certificação LEED, com destaque para Pernambuco e Ceará”, explica Casado.
O diretor educacional do GBC ressalta que alguns dos projetos mais sustentáveis do mundo apresentam sistemas de consumo eficientes e foram construídos com matérias-primas renováveis. Esse é o caso do jornal The New York Times, o primeiro edifício dos Estados Unidos a adotar uma cortina de vidro (ultra-clear low-e) que maximiza a luz, e que ainda possui mais de 95% do aço de sua estrutura reciclado, entre diversas outras medidas. O Hospital Dell’Angelo, em Veneto (Itália), incorporou, desde a concepção do projeto arquitetônico, conceitos que valorizam a humanização e cura do paciente. O destaque são os jardins que unem os blocos e transformam o espaço em um ambiente agradável, favorecendo a calma e a tranquilidade.
Já o exemplo do Parlamento Alemão, o antigo Reichstag, demonstra que também é possível adaptar ou reconstruir projetos para deixá-los mais sustentáveis. Com uma arquitetura diferenciada, a sua reconstrução possibilitou o uso intensivo de energias primárias renováveis, como o biodiesel, que é produzido no próprio edifício. Os elementos fotovoltaicos instalados na cobertura alimentam a rede interna e o calor excedente é usado para aquecer o edifício através do aquífero em frente ao prédio.
NO BRASIL
O arquiteto e urbanista Jorge Wilheim (leia entrevista a seguir) dedicou grande parte dos seus mais de 60 anos de carreira a proporcionar mais qualidade de vida às cidades. Professor e gestor público, ele também fez diferença no cenário ao seu redor. A rua onde mora, na capital paulista, é uma das mais arborizadas do Bairro de Pinheiros. Mas não foi sempre assim. Quando Wilheim mudou-se com a família para a pequena rua sem saída, em 1957, a paisagem era desnuda e sem verde. Foi ele quem plantou sibipurinas e paus-ferro para embelezar o ambiente.
No bairro recifense da Várzea, o desejo de morar num ambiente mais verde também foi responsável pelo diferencial da casa de Anna Karina Alencar e Werther Ferraz. Professores e arquitetos, eles aproveitaram o conhecimento técnico e a criatividade para implantar soluções inovadoras e mais sustentáveis. A casa deles é a única da rua que possui um sistema de esgotamento sanitário – realmente – ecológico, pois não despeja efluentes no terreno nem na drenagem da rua, como é comum na cidade. Além disso, eles têm uma cisterna para captar água da chuva e aproveitá-la para irrigação do jardim e outros usos domésticos.
As medidas adotadas nesses casos representam a tendência global na busca por mais qualidade de vida. Já há algum tempo, o discurso da sustentabilidade virou moda. Agora, começa a entrar em prática nas mais diversas agendas, sendo a da arquitetura uma das mais centrais. A modernidade dos aglomerados de arranha-céus e as vantagens das grandes cidades vêm perdendo espaço para ambientes mais planejados que, em alguns casos, resgatam a simplicidade de hábitos antigos e aproveitam o que o ambiente ao redor oferece.
A transformação acontece aos poucos. Empreendimentos que são concebidos de maneira mais ecológica também estão em alta. “Tudo relacionado à sustentabilidade está na moda, e a arquitetura sustentável ganhou força. No momento, observo que muito tem se falado. Mas ainda há muito por fazer”, destaca Anna Karina.
Ela e Werther ressaltam que nem sempre os padrões estéticos da atualidade seguem medidas mais ecológicas e, por muitos anos, a estética venceu essa batalha. Um exemplo disso pode ser visto nos edifícios de escritórios com fachadas de vidro. “O uso exagerado desse material permite a passagem excessiva dos raios solares, que se convertem em calor e exigem mais do ar condicionado. Hoje, até já temos vidros que reduzem essa transmissão de calor. Mas esse uso demonstra que nem sempre as escolhas atendem ao que é melhor para o clima”, ressalta Werther. Outra dificuldade, cita, é que o padrão dos sistemas de engenharia já regulamentado adota as soluções mais inteligentes, o que inibe a adoção de projetos mais eficientes e em maior quantidade.
Os sistemas de esgotamento sanitário são um exemplo desse descompasso. Normalmente, uma mesma tubulação recebe a água utilizada no banho, na pia e no vaso sanitário e direciona todo o recurso para a fossa séptica. Dessa maneira, uma quantidade muito grande de água que ainda poderia ser aproveitada é contaminada. Esse desperdício incomodava Anna, que buscou uma alternativa para separar essas águas e, assim, reutilizar o recurso não contaminado para irrigação do jardim. “Como também captamos a água da chuva, nosso consumo da água que chega pelo abastecimento público é bastante reduzido”, destaca.
Incluir outros elementos que tornem os hábitos da família cada vez mais sustentáveis faz parte dos planos do casal, em constante busca por soluções. “Estamos sempre refletindo, vendo o que poderíamos implementar. Adotar essa postura sustentável requer planejamento. Aos poucos, vamos fazendo mudanças, aprimorando os ciclos”, ressalta Werther. E, enquanto criam a casa dos sonhos, se satisfazem com a contribuição a projetos de outros imóveis. “É sempre gratificante quando conseguimos incluir uma ou outra iniciativa no trabalho com nossos clientes”, comenta Anna.
O arquiteto Yuri Moraes, representante do Fórum Estadual de Reforma Urbana, afirma que a sustentabilidade não é um conceito fechado. “Não é um lugar aonde se pretende chegar. Ela está no caminho, no dia a dia. Para alcançá-la, é necessário adotarmos uma visão mais generalista das coisas”, defende, citando a permacultura como uma metodologia que tem a contribuir com a criação de ambientes humanos sustentáveis, economicamente viáveis e ecologicamente corretos. No passo a passo da concepção de um projeto arquitetônico, esses elementos incluiriam a escolha do local, dos materiais utilizados, dos sistemas e tecnologias adotados e, por fim, do uso desse ambiente.
APELO VERDE
Em sintonia com a busca por mais qualidade de vida, surge a tendência de bairros planejados e sustentáveis. Em Pernambuco, mais de cinco grandes projetos estão em desenvolvimento no Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Goiana, São Lourenço da Mata e Camaragibe. Guiados pelo pioneiro Bairro da Reserva do Paiva, eles apresentam uma combinação de elementos urbanísticos e arquitetônicos para assegurar a preservação dos recursos naturais.
O diretor de incorporação da Odebrecht Realizações Imobiliárias, Luís Henrique Valverde, responsável pela Reserva do Paiva, destaca que todos os empreendimentos do bairro seguem o padrão de baixo adensamento e baixo gabarito, ventilação cruzada e soluções para uso racional de água e energia. “Nós acreditamos que essa é uma tendência irreversível. Inclusive porque também é a visão do cliente que, naturalmente, irá optar cada vez mais por empreendimentos verdes. As próximas gerações não aceitarão de outra forma”, defende.
Valverde explica que toda a infraestrutura do bairro foi calculada a partir da previsão de população a longo prazo, a exemplo do sistema viário. “Nosso objetivo é que tudo tenha um sentido plural para que, no final, o bairro seja integralmente sustentável”, diz. Para isso, entre outras medidas, a Reserva do Paiva oferecerá um conjunto de serviços que possibilite o uso de bicicletas e caminhadas sem que o morador precise se locomover em grandes distâncias. Cada solução ecológica, segundo Valverde, foi implantada de maneira adequada ao empreendimento.
No caso do Residencial Morada da Península, foi instalada energia solar para aquecimento de água, válvulas redutoras do consumo de água no banheiro, captação de água da chuva para irrigação do jardim e madeira certificada. Já em um empresarial, uma das prioridades é a qualidade térmica dos ambientes para reduzir o consumo de energia com refrigeração, e não o aquecimento de água. “Dessa forma, optamos por incluir vidros especiais, que retêm o calor externo, captação de água da chuva e reuso de água”, lista o diretor.
Luís Henrique ressalta que a busca pela sustentabilidade inicia-se na concepção dos projetos que envolvem profissionais com expertise sobre o assunto. “Nós ponderamos desde a posição nascente do empreendimento, para favorecer a temperatura, à adoção de sistemas que garantam um uso mais eficiente dos recursos, como sistema de iluminação automática”, descreve, lembrando que o mercado brasileiro tem se adaptado e passa a oferecer alternativas nacionais cada vez mais vantajosas.
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[vinculada] Aos 85 anos, o italiano, naturalizado brasileiro, Jorge Wilheim é um dos principais arquitetos e urbanistas do país. Já teve atuação política como secretário de planejamento e meio ambiente de São Paulo, foi nomeado pela ONU para conduzir a Conferência Habitat II, na Turquia, é escritor e um ferrenho defensor do planejamento estratégico. Foi responsável pelo Projeto do Vale do Anhangabaú, pelo Complexo do Parque Anhembi e pelo Plano Diretor de São Paulo, aprovado em 2002, entre outras obras.
Continente O que significa o conceito de arquitetura sustentável?
JORGE WILHEIM Para mim, não é claro o que se quer dizer com “arquitetura sustentável”. Permito-me retroceder no tempo: o termo sustentável surge na década de 1980, no título do Relatório Bruntland da ONU, o qual trata do desenvolvimento. Significava a característica, a qualidade que permitiria dar prosseguimento a um processo de desenvolvimento. Posteriormente, o adjetivo virou substantivo: sustentabilidade, e adquiriu tonalidade verde. Finalmente, esse substantivo virou sinônimo de “ambiente bem cuidado” e agora simples palavra em moda, imprescindível ao discurso politicamente correto.
Continente Nesse sentido, o que seria um projeto sustentável ou soluções arquitetônicas sustentáveis?
JORGE WILHEIM Como explicar uma arquitetura sustentável? Seria uma arquitetura que se mantém? Que não cai? Que envelhece bem? Pensa-se nela como sendo uma arquitetura que não desperdiça materiais, poupa energia, enfim, o que chamo de arquitetura boa. A arquitetura pode ser boa ou má, pioneira ou redundante, adequada ao contexto ou equivocada. Costuma-se chamar de arquitetura sustentável um prédio que tem plantas em sua cobertura, esquecendo que esse mesmo prédio pode estar desafiando a poupança energética por substituir quebra-sóis por fachadas de vidro. Para que um desenvolvimento seja sustentável é preciso que diversas condições econômicas e sociais sejam atendidas, além das ambientais!
Continente O avanço da tecnologia contribui para o desenvolvimento soluções mais sustentáveis?
JORGE WILHEIM Soluções tecnológicas são avanços, porém são neutras quanto ao seu uso. A tecnologia para a matança de judeus nos campos era muito avançada e servia a seus perversos objetivos. High tech é, em tese, um avanço pelo seu uso para beneficiar um espaço dar mais conforto aos seus usuários. Ou, ao contrário, pode também ser um trambolho que os usuários do espaço em questão não sabem usar, nem manter. O ambiente doméstico ou o de trabalho depende de muitos fatores: escala, luz, cor, som, relação com exterior, condições e conforto de uso. Não é tão importante a tecnologia que é empregada para otimizar esses fatores, embora seja natural que se empregue a melhor solução tecnológica.
Continente O senhor se descreve como um otimista. Acredita que estamos no caminho certo? As pessoas estão mais conscientes e ativas?
JORGE WILHEIM Sim, as pessoas estão mais conscientes e ativas. Existem centenas de grupos e ONGs desfraldando suas bandeiras, a sociedade brasileira está ficando mais exigente e sábia. Apesar de ainda persistirem vícios de formação, personalismos, pragmatismo e outros. Um bom exemplo do uso da inteligência direcionada à preservação da natureza é o etanol como combustível, é menos poluente.