É verdade que Tatiana conta com abundante material de referência para sua obra telúrica e vibrante. Nascida em São Paulo, em 1980, ela mora no Rio de Janeiro, num pedaço espesso de Mata Atlântica, na Serra da Itatiaia, onde também mantém seu ateliê. Além desse contato diário com os elementos da natureza muito bem interpretados em sua obra, ela investe constantemente em viagens de pesquisa a ambientes naturais, tanto no Brasil quanto fora dele. Dos relatos que faz dessas viagens, podemos depreender a tarefa de anotar elementos que posteriormente serão incorporados ao seu repertório imagético. “Sempre levo meus bloquinhos, que ficam repletos de anotações. Minhas viagens nada mais são que a busca pela beleza do aqui e agora.” Tatiana desenha animais – sobretudo aves, répteis e pequenos mamíferos – e vegetais, ciclos solares e lunares; e uma variadíssima gama de cores, padrões e texturas.
Nesta obra, alguns dos elementos caros à artista: vegetais, répteis, aves.
Imagem: Reprodução
Embora declarar-se autodidata não cause espanto – quando sabemos de incontáveis talentos que não tiveram qualquer educação formal –, surpreende o depoimento de Tatiana de que jamais havia pensado em ser artista plástica, até conhecer seu marido, numa viagem que fez à Austrália, no final dos anos 1990, quando ainda não tinha 20 anos. Quando casaram, eles foram morar numa fazenda no deserto australiano, “no meio do nada”, e naquele ambiente forte e isolado se dedicaram, ambos, inteiramente à pintura.
O grito de Thalu, o tigre da Tasmânia integra acervo recente da artista. Imagem: Reprodução
Ainda que não soubesse do seu futuro trabalho, Tatiana Clauzet vinha sendo preparada pela vivência familiar para a tarefa. Podemos verificar isso em sua árvore genealógica: os avôs paternos eram artistas da pintura e da madeira. O pai escreve, a mãe é paisagista. Em sua casa, portanto, sempre houve livros e arte, e um apreço pela natureza. Podia ter acontecido de nada disso gerar uma artista, mas... a semente germinou.
Elementos desta pintura sintetizam a imagética da obra da artista paulista, radicada
em Itatiaia, no Rio de Janeiro. Imagem: Reprodução
Árvore e germinação, palavras contidas no parágrafo anterior não são gratuitas, pois remetem a aspectos recorrentes na pintura dessa artista, em cuja obra há a imbricação de referências a simbologias antigas – de matrizes espirituais, artes e artesanias de povos tradicionais – e a representação de elementos da natureza. Tatiana diz que, muitas vezes, desconhece a interpretação de vários dos símbolos manejados e que recebe do público diversas informações, as quais ela vai agregando à sua experiência.
O caráter simbólico e espiritual de suas pinturas evidencia-se em Compasso do tempo.
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Sua obra alegre e colorida pode ser um testemunho de que não precisamos racionalizar tudo para chegarmos a resultados harmônicos e satisfatórios.
ADRIANA DÓRIA MATOS, editora-chefe da revista Continente.