Arquivo

Versos

TEXTO José Cláudio

01 de Março de 2012

Capas de folheto, de Dila uma; outra sem assinatura visível

Capas de folheto, de Dila uma; outra sem assinatura visível

Imagens Reprodução

Não tenho a pressa que aniquila o verso. Manuel, João e Joaquim. Eu faço versos como quem chora. Severino Milanês/é um cantor de primeira/ele é filho natural/de Afogados da Ingazeira. Sabes quem foi Ahasverus?... — o precito,/O mísero Judeu, que tinha escrito/Na fronte o selo atroz!/Eterno viajor de eterna senda.../Espantado a fugir de tenda em tenda,/Fugindo embalde à vingadora voz!//O Gênio é como Ahasverus... Solitário/A marchar, a marchar no itinerário/Sem termo do existir./Invejado! a invejar os invejosos./Vendo a sombra dos álamos frondosos.../E sempre a caminhar... sempre a seguir… It was many and many a year ago,/In a kingdom by the sea,/That a maiden there lived whom you may know/By the name of Annabel Lee;/And this maiden she lived with no other thought/Than to love and be loved by me. Por um campo fantástico me vou/brutalmente pisando sobre flores/e nos meus ombros vai perdendo as cores/o paletó de Jean Arthur Rimbaud. Meu Deus! que sorte essa minha:/Na festa de Santo Antônio/Ver o dente do demônio/Na boca de Cazuzinha. Chi nel culo il dito mette/poi in bocca si 1o mette/così lascerà pulito/carta, muro, culo e dito. Nos Colégios Marista (Recife),/se a ciência parou na Escolástica,/a malvada estrutura da carne/era ensinada em todas as aulas,/com os vários creosotos morais/com que lavar gestos, olhos, língua;/à alma davam a água sanitária/que nunca usavam nas latrinas. A/cauã/a/cauã./Cauã! Mataram Pedro Mineiro/dentro da Secretaria/para dar depoimento/daquilo que não sabia. Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Fernão Dias Paes Leme agoniza. Um lamento/Chora longo, a rolar na longa voz do vento. Manuel Maria Barbosa du Bocage. Luiz Vaz de Camões. Manuel Bernardes. Com duas donzelas vim/Ontem de uma romaria;/Uma feia parecia;/Outra era um serafim./E vendo-as eu assim/Sós, sem os amantes seus,/Perguntei-lhes: anjos meus,/Quem vos pôs em tal estado?/Disse a feia, que o pecado!/A mais formosa, que Deus! Heureux qui, comme Ulysse, a fait un beau voyage,/Ou comme cestuy là qui conquit la toison,/Et puis est retourné, plein d’usage et raison,/Vivre entre ses parents le reste de son aage! O meu caixão ponham num burro/ajaezado à andaluza/a um morto nada se recusa/e eu quero por força ir de burro. Olha quem chegou de repente/Erasmo Carlos no seu novo carrão. Guariba vendia escova/que fazia do bigode/urubu vendia goma/porque tem de lavra e pode/a onça sussuarana/vendia carne de bode. (...) E ali trincou-se o tempo/na porta do barracão/da baronesa preguiça/comadre do rei 1eão/e ela telegrafou-lhe/pedindo paz na questão.//O leão passou depressa/um telegrama pra trás:/— minha comadre levante/a bandeira e peça paz/ela não tinha bandeira/levantou a macaxeira/ali ninguém brigou mais. José Pacheco. Veio uma diaba moça/com a calçola de meia/puxou a vara da cerca/dizendo: a coisa está feia/hoje o negócio se dana/e disse: eita baiana/agora a ripa vadeia. (...) Morreu a mãe de Canguinha/o pai de Forrobodó/três netos de Parafuso/um cão chamado Cotó/escapuliu Boca Ensoça/e uma moleca moça/quase queimava o totó. Pero lo que pintas? Lo que salir. Que cara de herido pongo/cuando te veo y me miro/por la ribera del hombro. Sus muslos se me escapaban/como peces sorprendidos/la mitad llenos de lumbre/la mitad llenos de frío. La ragazza indorata/si bagnava nell’àcqua/e l’àcqua s’indorava. Tu fais 1’effet d’un beau vaisseau que prends le large. Dom Frei Francisco de Assunção e Brito/Os teus olhos sonharam com certeza/Como era linda a nossa natureza/E como Pernambuco era bonito. Irene preta/Irene boa/Irene sempre de bom humor. Entro no samba meu corpo está duro/Bem que procuro cadência e não acho. Eu sou Jorge Veiga/cantor de samba de breque/eu faço a barba com Gillette Teck/com esse novo aparelho de fazer a barba/eu me barbeio num instante/sou um tipo elegante/guarde esse nome de cor/Gillette Teck. Todo gordo quer emagrecer/todo magro quer engordar/para o gordo não tem que fazer/para o magro biscoitos Pilar. Isso acontece a toda gente/seja no Norte ou no Sul/dormido em Cama Patente/mas que tenha a faixa azul. Porque sem Bébé/Ninguém pode brincar/Vamos cair na folia/Divertir no Carnaval. Mas o povo estão dizendo/você cai daí. Capinheiro do meu pai/não me corte o meu cabelo. Chove chuva/pra nascer capim/pro boi comer/pro boi sujar/pra sabiá ciscar/pra fazer seu ninho/pra por seus ovos/criar seus filhinhos/chove chuva. Se a vida fosse de rosas/se a gente nunca morresse/se cachaça fosse água/eu queria ser um peixe. Ô lelê ô bambu/Ói a morte atrás de tu. 

JOSÉ CLÁUDIO, artista plástico.

veja também

O teatro como grupo social

'Clara dos Anjos': A pele que o autor habita

Edu Lobo: Alguns anos depois daquelas férias...