FOTOS RENATO FILHO
01 de Março de 2012
Uso da focinheira aponta para as referências góticas do estilista, ainda que sublimadas pelo glamour
Foto Divulgação
Quando se trata de seu trabalho como estilista, o jovem Pietro Tales é taxativo: “Estou mais para um drama do que para uma comédia”. Foi num tom grave, com uma paleta de cores reduzida, sem estampas, que ele lançou, no final do ano passado, a sua primeira coleção totalmente autoral, durante o Moda Recife. Mítica trazia apenas sete vestidos – a quantidade que ele conseguiu produzir em pouco mais de 20 dias de trabalho. Usando tecidos nobres (como voile e organza) e pedrarias, suas peças exploram volumes e texturas e constroem os referenciais da coleção baseada numa mulher forte, sóbria e misteriosa.
Composto em recortes de organza negra, mini explora nudez das costas. Foto: Divulgação
Ele diz que seu processo de criação é bastante intuitivo. Nem sempre é preciso traçar, no papel, a peça que vai desenvolver. Com uma boa gama de materiais disponíveis em seu ateliê, o estilista vai experimentando. “Eu vou dobrando um tecido aqui, juntando com outra ponta ali e vão surgindo os efeitos”, conta. Foi assim quando aprendeu a fazer fuxicos, utilizando um tecido nobre e transparente. Depois, ao uni-los, gostou bastante do resultado volumoso do avesso da peça. Guardou aquela ideia e explorou-a na coleção Mítica. Pietro criou um vestido preto e transparente todo confeccionado de fuxicos invertidos. O ar futurista da peça ficou por conta do forro em tecido brilhoso e do volume criado ao usar o avesso dos fuxicos. Parte dos acessórios utilizados no desfile também surgiram dessas experimentações. Ao olhar as gargantilhas, tem-se a impressão de que elas foram produzidas em metal, mas, na verdade, trata-se de couro sintético que, após ser manipulado e misturado por Pietro a outros produtos, adquiriu um aspecto metalizado.
Único longo da pequena coleção, este vestido utilizou 30m de
tecido apenas para a cauda. Foto: Divulgação
Apesar de se interessar por elementos típicos do artesanato nordestino, a exemplo do fuxico, o estilista se esforça para buscar um caminho menos vinculado a essas tradições. “Eduardo Ferreira fez isso muito bem. Melk ZDa vem desenvolvendo, nessa área, um trabalho bastante competente. Então, não vejo por que seguir por esse caminho”, afirma o jovem estilista, que aponta para referências mais urbanas, cosmopolitas, góticas.
Coleção Mítica aposta na sobriedade e no mistério, utilizando uma paleta de nuances do branco e preto. O uso da organza conferiu ao vestido um efeito parecido com o de uma água-viva. Foto: Divulgação
Isso se explica, possivelmente, pelo seu interesse pela moda de rua japonesa, alemã e californiana. Como não encontrava as peças que queria usar, decidiu ingressar num curso de corte e costura para ter condições de fazer as próprias roupas. Com a nova habilidade, passou a receber pedidos de amigos e, depois, de amigos dos amigos... Para atender à crescente demanda, criou nas redes sociais a marca Petru’s, na qual oferece opções para um nicho específico de consumidores. Foi nesse momento que o jovem, recém-saído da adolescência, que pensava em se tornar arquiteto e biólogo, começou a encarar o estilismo como profissão. “No começo, eu até pensava em fazer um desfile, criar uma coleção bem autoral, mas acreditava que isso só viria em alguns anos. Tudo aconteceu muito rápido. Recebi o convite para fazer a campanha das santas da Gráfica Santa Marta e depois chegou o convite do Moda Recife”, detalha.
A produção do estilista nasce de experimentos com tecidos e
materiais para composição de acessórios. Foto: Divulgação
Agora, Pietro tenta conciliar as duas vertentes do seu trabalho. Está em fase de produção de uma nova coleção para a Petru's, cobrada há algum tempo pelos clientes (a maior parte de outros estados brasileiros), e, em paralelo, desenvolve sua coleção “Pietro by Pietro”, cujo lançamento deve acontecer em julho deste ano. Agora, o tema explorado são dragões. Mas ele desencoraja quem espera o fogo em tons de vermelho, amarelo ou laranja. O seu fogo são as cinzas, a fumaça. Novamente, mais para drama que para comédia.
MARIANA OLIVEIRA, repórter especial da revista Continente.
RENATO FILHO, fotógrafo.