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André Rosemberg

Ásia Easy Rider

TEXTO Adriana Dória Matos

01 de Junho de 2011

Trilhos de uma ferrovia nos arredores de Udaipur, uma das mais prósperas cidades da Índia

Trilhos de uma ferrovia nos arredores de Udaipur, uma das mais prósperas cidades da Índia

Foto Reprodução

Talvez, o que cause mais estranhamento ao viajante comum – aquele que percorre muitos lugares em pouco tempo, numa agenda frenética, cheia de horários e compromissos – seja a declarada ausência de objetivos das empreitadas de André Rosemberg. Não que ele dispense planejamentos – sobretudo aqueles que antecedem a viagem, relativos ao mapeamento do percurso, ao tempo total de duração e aos gastos, por exemplo –, mas ele não se impõe limites, preferindo reagir aos acasos. Assim é que, se uma localidade se mostrar mais ou menos atraente que o imaginado, se surgir um curso interessante ou se houver um distúrbio imprevisto, ele pode estender ou encurtar sua estada, num exercício de liberdade pessoal.


Pushkar significa flor de lótus, em sânscrito. Lótus é uma das posturas sagradas do hinduísmo

Não deixa de ser interessante, também nessas viagens, que ele escolha roteiros pouco comuns aos brasileiros em geral, cumprindo temporadas inteiras em lugares como Israel, Egito, Índia (na qual já esteve por três vezes), Nepal, Tailândia, Indonésia, Camboja, Vietnã, Malásia, Laos. Se tornarmos mais aguda a ideia de exercício de liberdade, poderemos supor que a ausência de uma interlocução direta com os moradores de cada um desses lugares – cujas línguas são estranhas ao aparato linguístico português – permite ao viajante um desprendimento maior, num estimulante aprendizado das regras e dos costumes locais.


É em Udaipur que ocorre o Mewar Festival, marco do começo da primavera, tendo como destaque a participação feminina

O que Rosemberg traz como caderno de viagem, para compartilhar as experiências de percurso com amigos e com quem quiser, são fotografias. Ainda que não seja fotógrafo profissional (ele é jornalista e empresário, dividindo com os irmãos a administração do bar Central, do Recife), as suas anotações visuais não podem tampouco ser enfeixadas entre os meros registros de presença, que reconhecemos muito bem quando nos oferecem para olhar álbuns em que o turista se interpõe entre a câmera e a situação fotografada, sempre. No caso de André, ele quase não aparece nas fotos, porque o que lhe interessa é o lugar e aquilo com o que é capaz de interagir.


A cada 12 anos, Haridwar recebe a celebração do Kumbha Mela. Para atender à horda de peregrinos, há os diversos restaurantes de rua típicos do país

Como a fotografia expressa a visão de mundo de quem a realiza, podemos observar os interesses e a sensibilidade desse viajante easy rider. A cidade e seus habitantes, registrados em composições despretensiosas, que colocam em cena o rotineiro, são constantes nas fotografias por ele selecionadas para este Portfólio, todas feitas numa viagem de sete meses pelo sudoeste asiático em 2010.


Desde o fim da ditadura de Pol Pot, nos anos 1990, o Camboja voltou a ser um importante destino turístico. Em Siem Reap, é intensa a movimentação comercial em torno do Mercado Antigo

Mesmo estando em localidades históricas e turísticas, grandes centros de peregrinação religiosa hindu, como Haridwar e Pushkar, e a superpopulosa Mumbai (ou Bombai), na Índia; ou em Siem Reap, um dos destinos turísticos mais populares do Camboja, André recolhe os pequenos acontecimentos que ocorrem sob a grandiosidade de eventos como o Kumbha Mela, registrados em coberturas jornalísticas.


É em Hampi, cidade do estado de Karnataka, no sudoeste da Índia, que estão localizadas as ruínas de Vijayanagara. Por ali, descansam tranquilamente as vacas sagradas

Ele se dedica especialmente ao assunto culinária e alimentação, bordejando mercados, frequentando restaurantes montados nas calçadas, atento ao comércio de vegetais, frutas, carnes e à gente que tem a rua como habitat, homens de turbantes, mulheres de sári, animais soltos pelas vielas, fiações precárias. Um repertório visual ao mesmo tempo estranho e comum aos que andam pelas ruas centrais das grandes cidades brasileiras. 


Quem olha esse poente repousante, não suspeita que ele foi captado na agitada Mumbai, capital de Maharashtra, maior cidade da Índia e do mundo, localizada no centro-oeste indiano

ADRIANA DÓRIA MATOS, editora-chefe da revista Continente.

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