CIRCUITO
O recorte que vai ocupar o Mamam é voltado para as questões da afetividade. O térreo do museu receberá os trabalhos de Leonilson, que evocam um certo discurso amoroso, em diálogo com pequenas esculturas de corpos masculinos desnudos, em madeira, em que o artista Efrain Almeida se autorretrata, num tom extremamente confessional. Do pernambucano Gil Vicente, vem a série Suíte safada, cujos primeiros estudos foram exibidos no começo dos anos 2000, no Recife. “O cerne da exposição, excetuando algumas obras pontuais, é a afetividade, a sexualidade. É uma discussão sobre formas de relacionamento, essas questões circulam pelas obras”, detalha Moacir dos Anjos. Entre os trabalhos, está ainda o slide show de 40 minutos com fotografias de Nan Golding. A obra é uma espécie de álbum de família junkie, com fotos de 1979 a 2004, sincronizadas com músicas do período. De acordo com o curador, esse foi um dos trabalhos que mais geraram empatia com o público jovem durante a exibição paulistana.
A Fundaj, por sua vez, se tornará um espaço tomado pela “marginalidade”. Hélio Oiticica será representado pelo seu Seja marginal, seja herói, uma “homenagem” ao bandido Mineirinho, ao lado do Lima Museun of Art, obra/museu da artista peruana Sandra Gamarra Heshiki, na qual ela reproduz e expõe aquilo que quer. A pedido da organização da Bienal, o Limac traz para a mostra cópias idênticas da obra de Gerard Ritcher sobre o grupo terrorista alemão Baader-Meinhof, que o MoMa não quis emprestar para a mostra. Ao lado das apropriações feitas pelos artistas, estão a foto do bandido Mineirinho morto e o catálogo produzido pelo museu novaiorquino com as obras de Ritcher. Unindo esses elementos, os curadores brincam com a questão da cópia e do original, do bandido e do herói, do central e do marginal.
A proposta do recorte do Mepe é discutir o dito e o não dito, o visível e o invisível. Nele, estarão expostas as colagens do pernambucano Marcelo Silveira e a apropriação dos cartazes do método pedagógico de Paulo Freire, feita pelo alagoano radicado no Recife, Jonathas Andrade, inéditas na cidade. Gustav Metzger apresenta fotografias de eventos catastróficos do século 20, exibidas atrás de paredes falsas, de panos, de dispositivos que interceptam a visão. O espectador é obrigado a se colocar em posições desconfortáveis para conseguir enxergar algo, cortinando e descortinado as imagens.
Moacir dos Anjos destaca a obra de Antonio Vega Macotela, que discute sobre o tempo. O artista visitou uma prisão na Cidade do México e propôs intercâmbios com os detentos. Ele passaria algumas horas fazendo coisas para os presidiários fora da prisão, enquanto eles fariam algo para o artista atrás das grades. Dessas 365 trocas, surgem resultados como um exemplar furado do Conde de Monte Cristo devido ao gesto repetitivo de um preso, que tinha TOC.
O projeto educativo da Fundação Bienal de São Paulo, que se tornou um departamento permanente, vai promover atividades nas três exposições do Recife. Uma visita virtual da exposição original também estará disponível aos visitantes. Contudo, para Moacir dos Anjos, as mostras em tamanho reduzido podem facilitar a apreensão da proposta. “Eu acho que, paradoxalmente, por ela ser menor, permite uma apreensão melhor do que foi e do que tentou ser a Bienal, da forma como se quis trabalhar a relação da arte com a política”, diz.
MARIANA OLIVEIRA, repórter especial da revista Continente.