Entrevista

“O que nos divide é pouco em relação ao que nos une”

Na sua última vinda ao Brasil, o africano François Moïse Bamba, do Burkina Faso, encontrou seu amigo Toni Edson. A conversa entre os dois contadores de história você lê a seguir

TEXTO TONI EDSON
FOTOS E TRADUÇÃO LAURA TAMIANA

11 de Março de 2020

O contador de histórias e produtor cultural François Moïse Bamba

O contador de histórias e produtor cultural François Moïse Bamba

Foto Paula Vanina/Divulgação

[conteúdo exclusivo Continente Online]

É com muita honra que publicizo uma entrevista com o contador de histórias burkinabé François Moïse Bamba. Recentemente, ele esteve no Brasil pela quarta vez, é ator natural do Burkina Faso (país no oeste da África) e reconhecido pelo mundo como “o ferreiro contador”. Em sua última temporada, entre 2019 e 2020, o artista passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e Pernambuco, fazendo, inclusive, uma imersão no Sertão do Pajeú e atividades na Região Metropolitana do Recife.

Acompanhando o contador, estava presente na turnê a artista Laura Tamiana, que além da tradução, organiza a vinda e a circulação de François no Brasil. A tradução dela é feita como parte da cena, com ambos os artistas contando juntos. Tudo é traduzido no momento, sem preparo prévio, já que Bamba carrega um repertório de contos tradicionais do Burkina Faso, dentro dos quais escolhe as histórias que serão contadas na hora da apresentação, de acordo com sua percepção do público presente.

Depois que fiz uma oficina sobre oralidade em Aldeia (PE) e acompanhei a imersão em comunidades quilombolas no Sertão do Pajeú, organizamos esta entrevista, feita pela internet. Foram bons momentos de conversa, entre o Recife e Maceió, e a transcrição foi feita por Jacqueline Silva, em Aracaju. Unimos diferentes localidades, como uma verdadeira ponte, fortalecida pela oralidade – acredito ser essa uma das metas da circulação de François no Brasil. A circulação brasileira desse encanto de pessoa tem a produção da Terreiro Produções (PE), produtora de Laura, em parceria com a companhia Les Murmures de la Forge, de François. 


As contações de François Moïse Bamba com tradução-interpretação de Laura Tamiana.
Foto: Alex Warton/Divulgação


Em Pernambuco, estado onde François passou mais tempo esse ano, e pude acompanhar um pouco, ele se mostrou encantado, disposto e ávido por conhecer e ofertar – como nas trocas mais sinceras – o manancial de cultura que carrega de seu povo, desde os primeiros ensinamentos da etnia Senufo, da qual faz parte. O djeli Sotigui Kouyaté, mestre artesão da palavra, contador de histórias, ator, conhecido no Brasil e no mundo, foi um grande incentivador do trabalho de François e os dois se tratavam como pai e filho.

François Moïse Bamba foi iniciado na arte do conto por seu pai e criado em estreita relação com a tradição da cultura e da arte djeli (portadores da palavra na sociedade tradicional da África ocidental que conhecemos como “griô”). Ele credita sua formação artística principalmente a Hassane Kouyaté, Habib Dembélé e Jihad Darwiche. Coletou e reescreveu contos do Burkina Faso, alguns deles dando origem a CD, DVD e livros publicados na França. Hoje é reconhecido internacionalmente por seu trabalho e viaja o mundo inteiro. Desde 2003, participou de festivais na França, no Niger, no Egito, em Djibouti, no Congo, em Québec, na Martinica e em outros lugares. Foi, por diversos anos, diretor artístico do festival Yeleen, no Burkina Faso, diretor artístico e cultural da Maison de la Parole (Casa da Palavra) e coordenador geral da rede internacional de contadores de histórias da África do oeste, Afrifogo. Anualmente, desde 2018, realiza em seu país o Festival Internacional dos Patrimônios Imateriais, que, a cada edição, propõe um mergulho em uma das 65 etnias do Burkina Faso. Tem vindo ao Brasil regularmente desde 2017 e desenvolvido, em parceria com Laura Tamiana, uma série de atividades artísticas e culturais que criam pontes entre o Brasil e o Burkina Faso, sendo realizadas aqui e lá.

Conheci François há cerca de cinco anos, em seu país, e com ele visitei sua comunidade em Ouolonkoto. Entendi, graças a ele, o sentido de irmandade cultivado em terras burkinabé e conservamos uma relação de fraternidade muito forte. Nesses últimos anos, tenho tentando acompanhar algumas de suas atividades no Brasil, principalmente em Pernambuco e Maceió. Em 2018, quando Laura Tamiana e François compartilhavam saberes em terras brasileiras, pude receber os dois na universidade em que ministro aulas (Universidade Federal de Alagoas) e também em minha casa, convivendo dias de muita troca, respeito e aprendizado junto aos meus filhos e eu.

A entrevista a seguir é um bate papo fraterno, leve, com uma cuidadosa tradução e revisão que buscam conservar a potência da oralidade e provocar a leitora e o leitor a compreender e buscar mais a força da palavra falada.

CONTINENTE Gostaria que falasse um pouco da sua etnia e do que você carrega dela até hoje.
FRANÇOIS MOÏSE BAMBA É uma pergunta complicada... Eu trago da minha etnia, primeiramente, minha herança do meu pai, da minha mãe, dos meus avós. É uma convicção de um estado de ser adquirido há várias gerações. É uma reivindicação de uma maneira de ver a vida. Uma maneira de conviver em sociedade: entre humanos, entre humanos e os animais, entre humanos e a natureza.

CONTINENTE Você percebe algum costume de sua etnia, do povo Senufo, no Brasil?
FRANÇOIS MOÏSE BAMBA Sim. Por exemplo, nas comunidades quilombolas onde a gente passou alguns dias agora há pouco: a relação deles com a natureza, a relação deles com os animais e a relação social deles, eu encontrei muitas semelhanças. Você que conheceu um pouco do meu vilarejo, você pode ver que é um pouco do mesmo jeito.


Foto: Deborah Kelly Nascimento/Divulgação

CONTINENTE Uma escritora burkinabé, a Sobonfu Somé, falou, numa entrevista, o seguinte: “Muitos ocidentais só veem a pobreza material do meu povo e não veem a sua riqueza espiritual, mas é a unidade espiritual e a simplicidade da vida que nos ajudam a levar uma vida sã e feliz”. Gostaria que você comentasse essa frase, falasse o que é ter um “pai espiritual” e quem é Sotigui Kouyaté na sua vida.
FRANÇOIS MOÏSE BAMBA Primeiramente, com relação à definição da pobreza em uma visão ocidental, do ponto de vista ocidental – em todo caso, de como eu vejo, do pouco que eu sei, o mundo econômico nunca foi um mundo social. Sempre foi um mundo de controle. É sempre uma minoria que controla uma maioria. E, para a minoria, é preciso dividir a maioria, justamente pra poder controlar. Trata-se de trazer conceitos, maneiras de ver a vida, de ver o humano, que consigam dividir. A partir daí, a última coisa em que a gente vai pensar é naquilo que temos em comum, nas nossas semelhanças. Então, realmente são criados parâmetros que eles possam controlar, sobretudo parâmetros que permitam a eles decidirem quem é pobre e quem não é. Para mim, esse mundo econômico não é a referência, ao contrário, a verdadeira pobreza é o mundo econômico. O fato de um individuo poder ter milhões guardados em um banco, sendo que ao redor tem pessoas em situação de necessidade. Não tem pobreza maior que isso!

Agora com relação ao meu pai espiritual, de uma maneira geral na sociedade tradicional de onde venho, a gente tem um pai biológico. Isso a gente não escolhe. Eles também não escolhem. A criança que foi concebida, chega. Chega como ela chega, e recebe educações, e essas educações ela integra de uma maneira ou de outra. Ninguém pode questionar ou criticar o pai biológico de ser pai de uma criança. Mas, na sociedade de onde venho, a gente tem vários pais e várias mães. Tem aqueles que se tornam o seu pai ou a sua mãe pelo respeito que você deve a eles; tem aqueles que se tornam o seu pai ou a sua mãe pelo que eles te ensinam; tem aqueles que se tornam o seu pai ou a sua mãe pela relação que criam com você, de cuidado. E aí, até dizer que é um “pai espiritual” já é uma visão ocidental. Pra gente, é simplesmente um pai. Da mesma maneira que você vai chamar seu pai biológico de pai, da mesma forma que você vai chamar o seu “pai espiritual” de pai. Sotigui foi uma pessoa muito importante na minha vida, como uma referência no mundo artístico e cultural, e também pelo privilegio que eu tive de ter podido desfrutar de momentos puramente humanos com ele. É ainda mais forte o fato de que foi ele quem me escolheu como seu filho. Ele me ensinou muito sobre a vida, como alguém ensina o seu filho, ele me deu muitos bons conselhos, para além da prática artística. Quando eu estava na França, eu nunca ia fazer um espetáculo sem ligar para ele e pedir que ele me desse suas bênçãos. E quando eu voltava de cada espetáculo, eu ligava para ele, pra dizer como tinha sido e ele me dava conselhos. Em todo caso, ele nunca vinha em Burkina sem que a gente não se visse, e eu nunca ia a França sem ligar para ele, sem passar para vê-lo, de acordo com a sua disponibilidade.


Foto: Deborah Kelly Nascimento/Divulgação

CONTINENTE Sotigui Kouyaté falava do Brasil? Se sim, o que ele contou pra você do Brasil?
FRANÇOIS MOÏSE BAMBA Os ensinamentos que ele me deu foram mais sobre a vida, sobre como se comportar, sobre a construção humana. Claro, ele chegou a me falar da humanidade e da acolhida que ele teve no Brasil. Teve uma equipe de brasileiros que o acompanharam até o Burkina para uma volta lá. Eu tive a sorte de encontrá-los também. Mesmo assim, não fiquei muito tempo, era um trabalho de acompanhamento pessoal que estava sendo feito sobre ele. A gente tinha mais conversas de pai e filho.

CONTINENTE Quando eu te conheci, François, você só conhecia o Rio de Janeiro no Brasil, se não me engano, e agora você conhece mais estados do que muitos brasileiros. Eu queria que falasse um pouquinho de como vê a diversidade cultural no Brasil.
FRANÇOIS MOÏSE BAMBA Na verdade, eu dizia que antes eu tinha “vindo” ao Brasil. Agora, eu digo que eu “cheguei” ao Brasil. Porque é sempre diferente quando você vem, fica hospedado no hotel e, depois do seu espetáculo, você volta. Agora eu fiz vários estados, várias regiões, várias cidades, vários espaços, e tenho encontrado muitas pessoas diferentes. Pessoas com quem eu compartilho do cotidiano, pessoas que conhecem um pouco mais o meu lado ruim, o meu caráter difícil, como todos nós temos, e as partes boas do caráter também. Pessoas com quem a gente consegue ir além dessas características difíceis e, depois dos momentos de desacordo, dos momentos de oposição, viver juntos coisas maravilhosas, extraordinárias. Como um pai e seu filho, como uma mãe e sua filha, como um homem e sua mulher, como uma mulher e seu marido. Eu me sinto privilegiado de conhecer tanto. De toda forma, o Brasil não é um país, simplesmente, é um país continente. Eu acho que faço parte de raros burkinabé que começam a conhecer tanto esse país. Já se vê pela quantidade de viagens entre os estados, as cidades, as regiões, os espaços. E a gente não chegou nem ainda perto da metade dessa grande diversidade cultural. Não posso dizer então, que eu não conheço, que eu não vejo, mas não posso dizer que conheço o suficiente ainda. O pouco que eu conheci, descobri, é realmente extraordinário! Aliás, é por isso que eu quero que nesse ano o Brasil seja representado no meu festival no Burkina, pra revelar uma amostra dessa diversidade cultural aos povos de lá.


Foto: Deborah Kelly Nascimento/Divulgação

CONTINENTE Aproveitando, gostaria que comentasse um pouquinho o que é o Festival Internacional dos Patrimônios Imateriais.
FRANÇOIS MOÏSE BAMBA O Festival Internacional dos Patrimônios ImateriaisTransmissão de saberes e fazeres antigos é um conceito que a gente colocou em prática a partir da constatação de que os jovens conhecem cada vez menos as suas culturas, os seus países, as populações de seus países; mais ainda, de outros países da África e do mundo. Muitos jovens estão perdidos hoje... Na noção que eles têm de valorização, de construção da vida deles, das artes deles, tem muito pouco conhecimento da genética deles, da genética cultural, da genética étnica e da genética de pertencimento social. A gente vê jovens que estão totalmente na cópia do Ocidente e, ainda mais, uma cópia ruim, uma cópia vista nas novelas, nos filmes, na TV, uma cópia que passa longe da realidade desses países ocidentais. Eu criei esse festival para tentar fazer com que esses jovens tomem consciência, mesmos os mais velhos, que eles têm uma identidade cultural que deve ser conhecida. E essa identidade cultural deve ser o fundamento que permite que eles possam ir ao encontro de todas as culturas do mundo, levando, assim, a contribuição deles a esse encontro, o que permite justamente uma complementariedade. Então, o festival foi criado, primeiramente, para levar os jovens do Burkina a conhecer os povos do Burkina e, já que em cada edição tem um país africano convidado, a conhecer a cultura dos outros países da África. E como também convidamos uma cultura internacional, a conhecer as culturas do mundo. E essas pessoas da África e do mundo que vêm ao Burkina, isso permite que eles conheçam os povos do Burkina. Então, se eu for resumir, esse festival é um chamado a que a gente se encontre para se descobrir mutuamente.

CONTINENTE Gostaria que falasse dessa última ação, que eu pude acompanhar também, o projeto Do Burkina Faso a terras quilombolas – Um encontro pela oralidade, no Sertão do Pajeú.
FRANÇOIS MOÏSE BAMBA Eu começo agradecendo muito às pessoas que conceberam esse projeto, agradeço também aos que financiaram, agradeço também aos que participaram de sua execução e agradeço imensamente a essas quatro comunidades que nos acolheram (Abelha, Travessão do Caroá, Gameleira e Brejo de Dentro, que compõem a Comissão Quilombola do Caroá). Foram momentos ricos, foram momentos intensos, momentos de encontro, descoberta e partilha. Momentos em que a gente se dá conta que o que nos divide é pouco em relação ao que nos une. Saber que têm pessoas interessadas, nesse Brasil profundo, em conhecer a cultura de onde eu venho... Eu também, trazendo a minha cultura, me dou conta de toda grandeza da cultura que eles têm... E, sobretudo, que esse encontro tenha dado vontade a essa população de vir descobrir minha casa, de onde venho... Isso me faz pensar que realmente algo deu certo. Porque, cada vez que o ser humano tem em si o desejo de ir até o outro, é uma fonte de aprendizado. Um aprendizado que acontece na viagem, um aprendizado que acontece no encontro, um aprendizado na descoberta. Então, foi realmente muito rico pra mim e, sobretudo, me dá uma vontade grande de trabalhar ainda mais, pra poder acolhê-los lá, e dar a eles a riqueza do acolhimento e a alegria que eles compartilharam comigo quando eu estive lá com eles.


François e mestre de pife. Foto: Paula Vanina/Divulgação

CONTINENTE Você falou, num evento em que eu pude ir, em Aldeia, na Região Metropolitana de Recife, e também no Quilombo Abelha, que os homens, antes de se cumprimentarem, dizem “m’ba” e as mulheres “n’se”. Você pode explicar esses termos? O que constitui uma sociedade matriarcal e qual o contexto do matriarcado atualmente no seu país, no Burkina?
FRANÇOIS MOÏSE BAMBA O Burkina faz parte de uma região da África e do mundo onde há muitos povos que têm concepções da vida diferentes. E, entre esses povos, tem o povo Mandiga, que tem um respeito profundo à mãe progenitora. A mãe progenitora que está em qualquer idade, a partir do momento em que se nasce mulher, se é uma mãe em potencial, e a partir desse fato, você merece o respeito como mulher. Nessa parte do mundo e do povo, as mulheres têm uma responsabilidade imensa, a vida delas é uma vida de sacrifício.

Antes de falar do mau comportamento que um homem ou uma outra mulher possa ter com relação a uma mulher, o processo da gravidez já é um sacrifício enorme que a gente não pode pagar. Lá, a gente diz que quando uma mulher fica grávida, ela fica entre a vida e a morte, porque a gente nunca sabe como vai terminar. Mesmo se na maioria dos casos termina bem, e é o desejo de todo mundo, quando uma a mulher perde a vida, na tentativa de dar a vida, cada vez deve ser considerado como milhares de mulheres que perderam a vida. Esse reconhecimento do sacrifício da mulher nos é ensinado desde pequenos. Nos ensinam, como eu estava dizendo antes, que quando se nasce mulher, se é uma mãe em potencial, uma mulher em potencial, uma irmã em potencial. Também, que esse sacrifício da mulher não pode ser pago, como eu dizia antes. Nos ensinam então, a respeitar a mulher, como nossa mãe. Se não for como sua mãe, que seja como a mãe de uma outra pessoa. Tanto quanto uma vida é uma vida, uma mãe é uma mãe. Do mesmo jeito que você respeita sua mãe, da mesma forma que deseja que respeitem a sua mãe, você também deve respeitar a mãe de alguém. Desde pequenos, então, nos ensinam que a palavra “mamãe”, que ela seja boa ou ruim, vai te acompanhar em toda a sua vida.

Nessa região do mundo e para esse povo, quando a gente diz “bom dia” a um homem, qualquer que seja a sua idade, ele responde “m’bâ”. Quando a gente dá parabéns a um homem, ele diz m’bâ. Quando a gente diz adeus, ele responde “m’bâ”. “M’ba” quer dizer simplesmente “à minha mãe”. Você me diz bom dia – é para minha mãe que você deve dizer; você me diz parabéns – é para minha mãe; você me diz adeus – é para minha mãe; porque é graças à minha mãe que eu “sou”. Quando a gente diz bom dia a uma mulher, ela diz “n’sé”; quando a gente diz parabéns a uma mulher, ela responde “n’sé”; tchau, ela responde “n’sé”. “N’sé” quer dizer “é o meu poder”, “é o meu poder de mulher”, de portadora da vida, isso é que nos ensinam desde pequenos, para que a gente meça a importância do lugar da mulher na sociedade.




François durante as vivências nas comunidades quilombolas do Sertão do Pajeú.
Fotos: Laura Tamiana/Divulgação


CONTINENTE O que você pode deixar como recado, mensagem, para os leitores da revista, para as brasileiras e os brasileiros que investigam a oralidade e a cultura africana?
FRANÇOIS MOÏSE BAMBA Eu digo que é uma boa coisa, muito boa. O Brasil é imenso, tem muitas coisas que se parecem em relação à África. E é descobrindo essa cultura africana que a gente pode se dar conta. Eu faço um convite profundo para que vocês tenham essa iniciativa de conhecer a África. Não falo de descobrir a África no sentido de se negar, mas de descobrir a África no sentido de se completar, de completar o que a gente é, de se completar a partir de onde uma grande parte dos ancestrais vieram... De conhecer a pureza e a profundidade da cultura desses ancestrais, que eles precisaram modificar um pouco para poderem perpetuá-las aqui. É realmente um convite! Para descobrir a África real. Não a África das reportagens da TV. Não a África das reportagens dos jornais escritos ou falados, mas a descoberta da África do humano, da humanidade. De homens e mulheres, com suas qualidades e defeitos. Das maneiras de viver de um povo, de povos, eu devo dizer, porque é tão variado. Descobrir as diferentes formas de convicção da vida, que vai da arte culinária à arte da vestimenta, passando pelos usos e costumes, indo na direção de um verdadeiro encontro, de um verdadeiro encontro humano.


Foto: Paula Vanina/Divulgação

TONI EDSON, contador de histórias, pesquisador da oralidade, ator da Associação Cultural Joana Gajuru e professor efetivo da ETA/UFAL.

*Colaborou Jacqueline Silva com a transcrição desta entrevista.

veja também

A África de língua espanhola e suas literaturas

Africanidades do período colonial brasileiro

A respeito de tornar-se ponte