Curtas

Bienal do Barro

Idealizada pelo artista Carlos Mélo, mostra de arte contemporânea retorna a Caruaru, após hiato de cinco anos, com o trabalho de 16 artistas

TEXTO Augusto Tenório

06 de Novembro de 2019

Galpão da antiga fábrica Caroá abriga a mostra até o dia 15

Galpão da antiga fábrica Caroá abriga a mostra até o dia 15

Foto Geyson Magno/Divulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 227 | novembro de 2019]

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A potência artística do barro é matéria da segunda edição da Bienal do Barro, que acontece no agreste pernambucano. A mostra de arte contemporânea, idealizada pelo artista Carlos Mélo, retorna ao galpão da antiga Fábrica Caroá, em Caruaru, após hiato de cinco anos. Ela reúne, sob curadoria de Marcio Harum, obras de 16 artistas e permanece até o dia 15 deste mês, contando com programação educativa.

“Esta segunda edição é uma constatação da importância desse tipo de projeto, sobretudo quando a cultura precisa se fortalecer e o desafio é fazer com que as coisas aconteçam. Esperávamos a realização desta segunda edição, mas não existiam garantias de que ela aconteceria a tempo, pois dependemos de editais”, afirma o idealizador.

A mostra reúne trabalhos de artistas de diferentes regiões do país, que dialogam com o Agreste sem a prerrogativa do barro enquanto matéria-prima. “A mostra não é voltada somente ao barro como matéria, o título desta edição é Nem tudo o que se molda é barro. Ela é sobre como os contingentes humanos se moldam às situações díspares na vida social e política. Todos os artistas são nascidos, criados ou possuem vivência no Nordeste. Então, o lugar de origem é o irradiador dessa rede de contatos do meio artístico”, comenta Marcio Harum, curador da segunda edição.

Carlos Mélo entende que o intervalo entre esta e a primeira edição da mostra, realizada em 2014, serviu a sua maturação. “É um projeto que precisa de tempo, principalmente por ser de arte contemporânea em uma região tradicional. Como eu sou da região, entendo os impactos que o projeto causa, tanto no sentido de ser empolgante para a comunidade, como no de causar estranhamento”, explica.

A Bienal do Barro surgiu a partir de Corpo barroco, obra de Carlos Mélo que pretende uma flexão semântica, em que se separam as palavras corpo, barro e oco, num anagrama em painel de neon. Carlos explica que “o barro se revelou nesse trabalho, mostrando que poderia ser transformado em uma exposição contemporânea, na qual fossem explorados esses outros caminhos, do corpo e do oco. O corpo, porque vejo a comunidade como um corpo subjetivado, em processo constante de transformação. E o oco é o espaço, o trânsito, que é preenchido e esvaziado, uma característica do Agreste, que é vista como uma região de passagem. Todas essas questões estão envolvidas na Bienal”.

A Bienal do Barro propõe a formação de pontes, seja entre a arte contemporânea e a tradição, entre a comunidade e suas raízes, ou entre produção artística local e a feita para além das fronteiras do Nordeste. Estão presentes na mostra, por exemplo, trabalhos de artistas como Claudineide Rodrigues, que integra uma família de artesãos do Alto do Moura, e Matheus Rocha Pitta, mineiro que hoje vive em Berlim. “É dessa maneira que vão sendo criadas as conexões entre o que é feito na região com o que está chegando de fora”, comenta Carlos Melo.

Ainda no sentido do diálogo entre tradição e contemporaneidade, projeta-se o núcleo histórico da Bienal do Barro. Mestre Galdino, homenageado desta edição, tem 24 obras inéditas exibidas em galeria que leva seu nome no Sesc Caruaru. A curadoria estabelece conexões entre o legado do mestre e a obra Luto e luta (2008),de Marcelo Cidade.

No que diz respeito à programação educativa, a mostra conta com três oficinas de arte, sendo uma delas de crítica e curadoria. “É comum, nas escolas da região, a falta de acesso à cultura, à arte e até à informação a esse respeito. Existe um apego muito forte à tradição, mas também uma falta de cuidado com o patrimônio cultural. Este ano nós começamos um trabalho com as escolas, pois o educativo é protagonista da edição”, explica o idealizador.

Sobre as próximas edições, Carlos Melo antecipa: “Continuaremos nessa questão da tradição e ruptura, mas com curadoria de alguém do Nordeste. Era algo que eu queria, mas precisava projetar a Bienal do Barro para o cenário nacional com curadores de fora para, então, contemplar curadores e outros artistas da região. O núcleo histórico será expandido, podendo ser levado para São Paulo. Mas a ideia é que continuemos firmes, para que a Bienal continue em Caruaru”.

VICTOR AUGUSTO TENÓRIO é um jornalista em formação e estagiário da Continente.

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