Cobertura

Um festival que reverbera em imagens o seu tempo

Janela Internacional de Cinema do Recife anuncia programação de filmes, que começam a ser exibidos na sexta-feira (3/11) e seguem até o dia 12, nos cinemas São Luiz e do Museu

TEXTO Luciana Veras

31 de Outubro de 2017

'Açúcar', de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, está entre as estreias pernambucanas do festival

'Açúcar', de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, está entre as estreias pernambucanas do festival

Foto Divulgação

Não importa se você chama “a” Janela, respeitando o feminino do substantivo, ou “o” Janela, aludindo à ideia de um festival. O que importa é que, finalmente, saiu, neste último dia de outubro (31/10), a programação da X Janela Internacional de Cinema do Recife, que se abre do dia 3 até 12 de novembro, no Cine São Luiz, no centro da cidade, e no Cinema do Museu, em Casa Forte. Os números arrebatam: 120 filmes, 10 dias, 50 países, como bem resumiu Emilie Lesclaux, produtora e co-diretora, ao lado do cineasta e crítico Kleber Mendonça Filho, do evento – talvez uma palavra mais adequada para descrevê-lo – cinematográfico de maior relevância neste 2017 em Pernambuco.

E sim, a programação apresenta vários enigmas para cinéfilos e cinéfilas (veja a lista completa abaixo). Porque há sessões conflitantes, filmes em exibição especial que só passam uma vez e clássicos que começam às quinze para meia-noite. Mas de um festival, em sua décima edição, cada vez mais integrado à urbe de onde se origina e que reverbera em suas imagens, não se pode esperar menos do que o entusiasmo, o ímpeto, a dúvida e o frenesi similares aos que acometem cariocas e paulistanos nos meses de outubro e novembro, quando se realizam o Festival do Rio e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. 

Assim, há competição de curtas e longas-metragens, há programas especiais como o L.A. Rebellion, com produções de 1970 e 1980 dirigidas por cineastas negros de Los Angeles, e há uma fatia considerável de excelentes filmes exibidos ao longo do ano – tudo agrupado sob a égide das Heroínas, que surge como tema desta edição. Uma das heroínas, por assim dizer, é a cineasta argentina Lucrecia Martel, que vinha ao Recife para uma master class na IX Janela, mas cancelou sua participação já perto do festival de 2016. Terminou que foi melhor assim: Zama, sua obra mais recente, uma coprodução com o Brasil, abre o festival nesta sexta (03/11), no São Luiz, e Lucrecia conversa com o público na manhã do sábado, no Cinema do Museu. Toda a sua filmografia será exibida ao longo dos dez dias de Janela. 

Zama passou em Veneza. Me chame pelo seu nome, de Luca Guadagnino, esteve em Sundance e em Berlim e está na lista dos melhores do ano de muitos críticos e jornalistas, entre eles Mariane Morisawa, colaboradora frequente da Continente. Mariane, inclusive, esteve em Cannes e lá viu Gabriel e a Montanha, de Fellipe Gamarano Barbosa, um dos que serão exibidos aqui sob o selo “especial”; sobre ele, escreveu na nossa edição de agosto. De Cannes, vêm também 120 batimentos por minuto, de Robin Campillo, vencedor do Grande Prêmio do Júri (atenção: apenas uma única sessão, no sábado, 11, no Museu), e A trama, de Laurent Cantet, que exibe neste sábado, 4, no São Luiz. Cantet, vencedor da Palma de Ouro em 2008 por Entre os muros da escola, estará na sessão do São Luiz e recebe o público na manhã do domingo, no Cinema do Museu.

Outro título brasileiro que chega referendado é As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, melhor filme do Festival do Rio e prêmio especial do júri em Locarno. As boas maneiras está na competição, junto a Era uma vez Brasília, de Adirley Queirós, melhor direção em Brasília, e outros títulos garimpados por Kleber, Emilie e pelo coordenador de programação Luís Fernando Moura em conclaves cinematográficos ao redor do mundo. 

De Pernambuco, em sessão especial, estão os longas Em nome da América, de Fernando Weller, documentário exibido no Festival do Rio, na Mostra de São Paulo e no CachoeiraDoc); o impactante Açúcar, de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, que também esteve no Rio e em SP; Modo de produção, de Déa Ferraz, e Camocim, de Quentin Delaroche, ambos exibidos no último Festival de Brasília. Três curtas pernambucanos estão na programação: Terremoto santo, de Barbara Wagner e Benjamin de Burca, atualmente em exibição na exposição Corpo a corpo, no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, O peixe, de Jonathas de Andrade (cuja carreira iniciou na 32ª Bienal de São Paulo, no ano passado), e O olho e o espírito, de Amanda Beça.

E X Janela Internacional de Cinema do Recife ainda tem John Waters, Dario Argento, Victor ou Victoria, Aliens, o resgate e Contatos imediatos do terceiro grau. E muitos filmes que não couberam aqui, mas que passarão pela cobertura da Continente. De fato, não importa se o festival, uma realização da CinemaScópio Produções Cinematográficas e Artísticas com patrocínio da Petrobras e do Governo de Pernambuco por meio do Funcultura, será chamado de “a” Janela ou “o” Janela. É interessante e simbólico, até, a mescla de gêneros. Diluição de fronteiras e provocações de linguagem precisam estar em qualquer festival. 

Neste caso, trata-se de uma Janela que, ao se escancarar, propõe diálogo direto com diversas cinematografias e promove um espetáculo de reflexão e cinefilia. Nos tempos de hoje do Brasil, no qual a cultura tem se tornado pauta em discussões estéreis e moeda de troca para grupos de pensamento retrógrado e conservador, o quão rica é essa experiência?

Ao cinema, pois!

EM TEMPO e muito importante: dessa vez, os ingressos para todas as sessões no São Luiz vão poder ser adquiridos online, já a partir da quarta, 01/11. Para as sessões no Cinema do Museu, vendas somente no local. 

Programação

Cinema São Luiz

Sexta (3)

16h | L.A. REBELLION: Filhas do pó, de Julie Dash - 123 min
18h15 | ESPECIAL: Me chame pelo seu nome, de Luca Guadagnino – 132 min
21h | FILME DE ABERTURA: Zama, de Lucrecia Martel - 115 min
23h45 | CLÁSSICOS: Pink Flamingos, de John Waters – 93 min

Sábado (4)

11h | L.A. REBELLION: O matador de Ovelhas, de Charles Burnett - 83 min
13h45 | CLÁSSICOS: Garota Negra, de Ousmane Sembène - 65 min
15h10 | ESPECIAL: A trama, de Laurent Cantet – 114 min + debate
17h50 | L.A. REBELLION: Bush Mama, de Haile Gerima - 97 min
20h | ESPECIAL: Gabriel e a Montanha, de Fellipe Gamarano Barbosa - 130 min + debate
23h | CLÁSSICOS: Aliens, o resgate, de James Cameron - 137 min

Domingo (5)

11h | CLÁSSICOS: Tudo que o céu permite, de Douglas Sirk - 89 min
14h30 |L.A. REBELLION: Curtas 1: Corra! - 75 min
16h10 | CLÁSSICOS ESPECIAL: Contatos imediatos de terceiro grau, de Steven Spielberg, 135’
18h50 | COMPETITIVA CURTAS NACIONAL 1: Em caso de fim do mundo - 84 min + debate
21h | COMPETITIVA LONGAS: As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra – 121 min

Segunda (6)

13h30 | COMPETITIVA LONGAS: Verão 1993, de Carla Simón - 97 min
15h30 | COMPETITIVA CURTAS NACIONAL 2: Tomar os Tronos - 82 min + debate
17h40 | ESPECIAL: Série Fantásticos / Piloto: Mancupium, de André Pinto e Henrique Spencer - 48 min
19h | ESPECIAL: Açúcar, de Renata Pinheiro e Sergio Oliveira - 100 min + debate
21h30 | ESPECIAL: O nó do diabo, de Ramon Porto Mota, Ian Abé, Gabriel Martins e Jhésus Tribuzi - 124 min

Terça (7)

13h50 | COMPETITIVA CURTAS INTERNACIONAL 2: O Diabo, provavelmente - 76 min
15h30 | LUCRECIA MARTEL: A Menina Santa - 106 min
17h40 | COMPETITIVA CURTAS NACIONAL 3: Se essa rua fosse minha - 78 min + debate
19h45 | COMPETITIVA LONGAS: Que o verão nunca mais volte, de Alexandre Koberidze -202 min + debate

Quarta (8)

13h50 | COMPETITIVA CURTAS INTERNACIONAL 3: Arregace as mangas - 79 min
15h40 | COMPETITIVA CURTAS NACIONAL 4: Nada será como antes - 80 min + debate
17h45 | L.A. REBELLION: O Cavalo, de Charles Burnett, 14 min + Assim na Terra como no Céu, de Larry Clark, 52 min + debate
19h15| ESPECIAL: Em Nome da América, de Fernando Weller - 96 min + debate
21h40| ESPECIAL: Vacancy, de Matthias Müller - 16 min + COMPETITIVA LONGAS: Era uma vez Brasilia, Adirley Queiroz - 140 min + debate

Quinta (9)

14h | COMPETITIVA CURTAS INTERNACIONAL 4: De caravela ou ovni - 79 min
16h |COMPETITIVA LONGAS: A fábrica de nada, de Pedro Pinho – 177 min
19h20| ESPECIAL: A moça do calendário, de Helena Ignez - 86 min + debate}
21h40| ESPECIAL: Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida - 98 min + debate

Sexta (10)

14h | reprise CLÁSSICOS: Uma canta, a outra não, de Agnès Varda - 120 min
16h |reprise COMPETITIVA LONGAS: O peixe, de Martin Verdet - 82 min
18h10 | reprise CLÁSSICOS: Victor Victoria, de Blake Edwards – 133 min
20h50 | ESPECIAL Leona Assassina Vingativa - 11min + COMPETITIVA LONGAS: Jovem Mulher, de Léonor Seraille - 97 min
23h15 | reprise CLÁSSICOS: O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante, de Peter Greenaway - 124 min

Sábado (11)

10h | Tour pelo cinema São Luiz
11h | ESPECIAL: 66 cinemas, de Philipp Hartmann - 98 min + debate
14h20 | reprise L.A. REBELLION: O matador de ovelhas, de Charles Burnett - 83 min
16h10 | CACHAÇA CINEMA CLUBE: Etéia, a extraterrestre em sua aventura no Rio - 93 min
18h15 | ESPECIAL: Invisível, de Pablo Giorgelli - 87 min + debate
20h30 | ESPECIAL: Arábia, de Affonso Uchoa e João Dumans - 97 min + debate
23h | Reprise CLÁSSICOS: Suspiria, de Dario Argento + curta Figuras impossíveis e outras histórias 2 - 100 min

Domingo (12)

11h | ESPECIAL: Cinema, Aspirinas e Urubús, de Marcelo Gomes - 99 min + apresentação
15h | reprise COMPETITIVA LONGAS: Baronesa, de Juliana Antunes - 73 min
15h45 | CLÁSSICOS ESPECIAL: Vá e Veja, de Elem Klimov Peter Brook - 137 min
18h30 | ESPECIAL: Todos os Paulos do mundo, de Gustavo Ribeiro e Rodrigo Oliveira - 80 min + apresentação
20h30 | ENCERRAMENTO: Vendo/ouvindo 6min + CLÁSSICOS: Protéa - 50 min

Cinema do Museu

Sexta (3)
 
16h | ABERTURA CLÁSSICOS: Victor Victoria, de Blake Edwards - 133 min
18h30 |  CLÁSSICOS: Suspiria, de Dario Argento - 100 min

Sábado (4)

11h | UM ENCONTRO COM LUCRECIA MARTEL - 120 min
13h50 | CINELATINO: Pequenas Historias da América Latina - 54 min
15h | CLÁSSICOS: Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, de Chantal Akerman - 201 min + Surpresa
18h40 | LUCRECIA MARTEL: O pântano - 103 min + apresentação
20h45 | ESPECIAL: Modo de produção, de Dea Ferraz, 75 min + debate

Domingo (5)

11h | UM ENCONTRO COM LAURENT CANTET - 120 min
14h30 | CLÁSSICOS: Uma canta, a outra não, de Agnès Varda - 120 min
16h45 | COMPETITIVA LONGAS: Baronesa, de Juliana Antunes - 73 min
18h15 | ESPECIAL: Camocim, de Quentin Laroche - 76 min + debate
20h15 | CLÁSSICOS: As lágrimas amargas de Petra Von Kant, de Rainer Werner Fassbinder - 124 min

Segunda (6)

14h | COMPETITIVA CURTAS NACIONAL 1: Em caso de fim de mundo - 84 min
15h40 | Reprise COMPETITIVA LONGAS: As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra - 135 min
18h10 | L.A. REBELLION: Dando um rolê, de Larry Clark - 105 min
20h10 | COMPETITIVA CURTAS INTERNACIONAL: O Peixe, de Martin Verdet- 82 min + debate

Terça (7)

14h40 | Reprise COMPETITIVA CURTAS NACIONAL 2: Tomar os Tronos - 82 min
15h50 | L.A. REBELLION: Curtas 2: Nesse meio tempo - 81 min
18h | ESPECIAL: Pela Janela, de Caroline Leone - 96 min + debate
20h30 | TOCA O TERROR: Curtas Brasileiros - 82 min

Quarta (8)

14h20 | Reprise COMPETITIVA CURTAS NACIONAL 3: Se essa rua fosse minha - 78 min
16h | COMPETITIVA LONGAS: O gênero, de Klim Kozinsky - 61 min
17h15 |reprise COMPETITIVA LONGAS: O Peixe, de Martin Verdet - 82 min
18h50| reprise COMPETITIVA LONGAS: Verão 1993, de Carla Simón - 97 min
20h45 | Reprise CLÁSSICOS: Tudo que o céu permite, de Douglas Sirk - 89 min

Quinta (9)

15h | Reprise COMPETITIVA LONGAS: Era uma vez Brasilia, de Adirley Queiroz - 100 min
17h | Reprise COMPETITIVA CURTAS NACIONAL 4: Nada será como antes - 80 min
18h40| Reprise L.A. REBELLION: Filhas do Pó, de Julie Dash - 105 min
20h40| COMPETITIVA LONGAS: A noite, de Edgardo Castro - 135 min

Sexta (10)

15h | CINELATINO: Occitanie - 96 min
17h | reprise COMPETITIVA LONGAS: O gênero, de Klim Kozinsky - 61 min + Curta Armageddon 2 - 5 min
18h30 | LUCRECIA MARTEL: A mulher sem cabeça - 87 min
20h20 | L.A. REBELLION: Cinzas e brasas, de Haile Gerima – 129 min

Sábado (11)

14h | ESPECIAL: Pela Janela, de Caroline Leone - 96 min
15h15 | ESPECIAL: 120 batimentos por minuto – 144 min
18h30 | ESPECIAL: Prelúdio da Fúria, de Gilvan Barreto - 60 min + debate “Caça e censura às artes”
20h30 | reprise COMPETITIVA LONGAS: Jovem Mulher, de Leonor Seraille - 97 min

Domingo (12)

14h |
L.A. REBELLION: O casamento do meu irmão, de Charles Burnett – 115 min
16h10 | ESPECIAL CURTAS BRASIL: 3 maneiras de dizer não - 67 min + debate
18h | reprise COMPETITIVA LONGAS: A noite, de Edgardo Castro - 135 min
20h30 | reprise L.A. REBELLION: Bush Mama, Haile Gerima - 97 min

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