Arquivo

“É uma história de amor que se passava na adversidade”

A cineasta Carolina Jabor conta como foi o processo de gravação do longa 'Boa sorte', que começou a fazer no final de sua segunda gestação

TEXTO Luciana Veras

01 de Novembro de 2014

Carolina Jabor

Carolina Jabor

Foto Mario Miranda Filho

[conteúdo vinculado à reportagem de "Claquete" | ed. 167 | nov 2014]

Em Paulínia (SP), onde Boa sorte foi exibido
pela primeira vez, Carolina Jabor contou à imprensa que as filmagens do seu primeiro longa ficcional ocorreram no estágio final de sua segunda gravidez. “Ou fazia naquele momento ou não fazia mais. Não quis adiar nada e fui em frente”, disse a filha do cineasta Arnaldo Jabor e mulher do diretor pernambucano Guel Arraes. Eis outras informações que ela partilhou com a Continente.

CONTINENTE Como se deu a adaptação do conto de Jorge Furtado ao filme?
CAROLINA JABOR Tive a sorte de ter o próprio Jorge na adaptação do conto. Quando li pela primeira vez, fiquei encantada pela história. Aí liguei para ele e disse: “Vou querer filmar o Frontal com Fanta”. Passou-se o tempo e então Jorge chega para mim e diz: “Andei pensando em filmar o Frontal”. Resolvi que quem iria filmar era eu! Foi um prazer trabalhar com um dos maiores roteiristas do Brasil. Aliás, eram ele e Pedro, seu filho, que trouxe muita coisa da juventude. Trabalhávamos juntos via Skype, eles iam me mandando, eu ia lendo. Tudo funcionou para que o resultado fosse um drama do qual surge, com força, uma história de amor.

CONTINENTE É uma história de amor com sexo, drogas, HIV e rock’n’roll. Qual o maior desafio ao equacionar isso?
CAROLINA JABOR O assunto do HIV foi algo que eu sempre conversei com Jorge, com o Guel, com muitos amigos. Estávamos tratando de um tema contemporâneo, e era preciso contextualizá-lo. Mas não me interessava que ele se sobrepusesse à história. Desde o princípio, tratava-se de uma história de amor que se passava na adversidade dos personagens. De um lado, temos a personagem com HIV, também usuária de drogas, do outro, um jovem que usa remédios, que são drogas lícitas, de uma forma descabida, em grandes quantidades. No filme, aquela corajosa história de amor – um encontro improvável em um ambiente inóspito – se sobrepôs a isso.

CONTINENTE Como chegou ao tom da fotografia do filme?
CAROLINA JABOR Havia uma oportunidade de trabalhar com uma fotógrafa que eu admirava muito, Barbara Alvarez, que havia feito dois filmes que eu também admirava, A mulher sem cabeça, da Lucrecia Martel, e Whisky, de Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella. Essas obras traziam uma fotografia ousada, diferente. Vendo essa possibilidade, conversamos muito sobre o roteiro. Teria feito outro filme, se não tivesse a Bárbara comigo. Com ela, o roteiro ganhou cenas, perdeu outras. Ela trouxe seu conceito de contar uma história, da forma como se conta essa história, além de um outro tipo de iluminação, de fotografia. Também tivemos uma locação especial, que foi o hospital da Beneficência Portuguesa, no Rio de Janeiro, que tinha aquele ambiente meio sujo, em decadência.

CONTINENTE O elenco de coadjuvantes se destaca também. Como foi o processo de casting?
CAROLINA JABOR Tive muita sorte. Imagina, poder contar com a Fernandona no seu primeiro longa? Fiz o convite e ela veio. Com a Cássia Kis Magro, foi um tiro no escuro. Pensei: “Vou chamar, vai que acontece”. E ela topou. Trouxe uma seriedade e uma dedicação de principiante, mesmo com um papel pequeno. O mesmo com Gisele Fróes e Felipe Camargo, que fazem os pais do João. Mariana Lima e Enrique Diaz são muito amigos meus, de casa, e dois atores fantásticos. Não dava para não tê-los no filme. Juro que tinha horas no set em que eu olhava ao redor e não acreditava que tinha aquele elenco maravilhoso comigo. 

LUCIANA VERAS, repórter especial da revista Continente.

Publicidade

veja também

Pesquisa: Teatro para a infância

“Não tive tempo de ser cinéfilo”

“Mesmo um filme que não fale diretamente de política, é político”