Johnny Hooker lança quarto disco de estúdio
Cantor e compositor apresenta Viver e morrer de amor na América Latina, com diversidade de ritmos, confissões, voz rascante e participações de Ney Matogrosso, Daniela Mercury e Lia de Itamaracá
TEXTO Rostand Tiago
19 de Dezembro de 2025
Foto Maicon Douglas/Divulgação
Está disponível nas plataformas o novo disco do pernambucano Johnny Hooker, Viver e Morrer de Amor na América Latina, seu quarto álbum de estúdio. No trabalho, Hooker passeia por sonoridades brasileiras e latinas, do samba ao modão contemporâneo, passando por boleros, frevos e bregas, e, por mais que também se abra ao solar, são plantados em um solo bem-adubado pelo cantor desde o começo de sua carreira: o lamento e o sofrer. O artista embarca as dores nos balanços de múltiplos ritmos para ecoar seu fatalismo com texturas pop.
O trabalho acaba ficando em algum lugar entre o mosaico e a colcha de retalhos nessa transitoriedade por diferentes sons, mas sempre com arranjos bem redondos e empenhados em não soarem apenas como emulações frágeis dos ritmos em que Hooker propõe se expressar. Suas faixas podem até oscilar no grau de capacidade de cativar, mas é inegável que há um esforço bem-sucedido de se construir um senso de unidade ao projeto, certamente fruto de sua maturidade enquanto artista após tantos anos de caminhada.
E se há um senso de unidade, que consegue aproximar o apelo de uma espécie de modão pop como na faixa “Saudades, Elder” de uma releitura também pop do clássico brega “A vida é assim”, ele vem do domínio do músico de um terreno poético já bem consolidado em sua obra, que percorre bem os campos das lamúrias e das exasperações. Versos até singelos, mas não simplórios, contém todo um léxico que vai envolver sarjetas, cervejas e previsões fatalistas – “saiu três vezes a sorte/carta da morte”, repete na canção homônima ao disco, com uma luxuosa participação de Ney Matogrosso – construindo um sólido alicerce poético da dor e superação.
São palavras e poéticas que vão encontrar a grande ressonância no que talvez seja a maior assinatura estética de Hooker, sua voz rasgada e seu timbre hoje inconfundível. É nela que o pernambucano potencializa esse conforto em caminhar por diferentes texturas sonoras, imbuindo os versos de um caráter dramático que é parte essencial de sua identidade artística. É nesse domínio que sua capacidade vocal de carregar suas letras com um tom teatral e confessional que alicerça o senso de unidade de um trabalho tão diverso em seus ritmos.
Mas aqui também não é justo reduzir a capacidade poética de Johnny Hooker ao sofrimento e à lamúria. Viver e morrer de amor na América Latina encontra momentos dos mais cativantes em sua porção final mais solar. O frevo queer Eu quero ver pegar fogo, cantado ao lado de Daniela Mercury, um synth-pop meio pós-punk de “2 Punks neon” e a salsa final “A vida é um Carnaval”, releitura do clássico cubano em outra luxuosa parceria, com Lia de Itamaracá, são lembretes que sua dramaticidade também encontra abrigo na esperança.