Música

FrevoBook é lançado no Conservatório Pernambucano

Livro organizado por Climério de Oliveira Santos, Marcos FM e Spok contempla compositores de diferentes épocas e apresenta 48 composições que abrangem o frevo de rua, frevo-canção e frevo de bloco

02 de Outubro de 2025

Foto Anderson Stevens/Divulgação

FrevoBook, resultado de um trabalho de Climério de Oliveira Santos, Marcos FM e Spok, tem lançamento na próxima sexta (17), às 19h, no Auditório do Conservatório Pernambucano de Música. O evento contará com uma conversa com o público, seguida de apresentação musical e, para encerrar, um coffee break com sessão de autógrafos.

O show será conduzido pelos autores do livro, Maestro Spok, Climério de Oliveira (violão) e Marcos FM (baixo e sax tenor), além de um grupo formado por bateria, percussão e guitarra. A programação terá ainda a presença de compositores que integram a coletânea, alguns deles participando das apresentações ao lado da banda. No encerramento, todos os autores contemplados serão convidados a subir ao palco e cantar juntos, em um momento de celebração.

O livro nasce da necessidade de oferecer uma obra prática para quem deseja tocar ou cantar frevos, com as especificidades do gênero. Ao reunir aspectos históricos e técnico-musicais, o FrevoBook contempla compositores de diferentes épocas, dentre eles nomes contemporâneos, e apresenta 48 composições que abrangem o frevo de rua, o frevo-canção e o frevo de bloco.

As partituras foram elaboradas a partir de cuidadosas transcrições de fonogramas, sempre que possível priorizando as gravações originais, e aparecem em dois formatos: melodias cifradas, incluindo letras nas modalidades cantadas, e grades reduzidas de três ou quatro pentagramas para o frevo de rua.

Uma das qualidades da obra é a adaptação do tradicional diálogo entre palhetas e metais, de modo a permitir que a melodia possa ser cantada/tocada e acompanhada por um único instrumento harmônico. Além disso, o livro apresenta versão bilíngue em português e inglês, traz iconografia com registros históricos e contemporâneos e disponibiliza um áudio-livro com intérprete de Libras, recurso que garante acessibilidade a pessoas com deficiência visual e auditiva.

O projeto, coordenado por Climério de Oliveira Santos, foi incentivado pelo Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), Fundação de Cultura Cidade do Recife, Secretaria de Cultura do Recife/Prefeitura da Cidade do Recife, e terá distribuição inteiramente gratuita. Estruturado em três partes, o FrevoBook discorre sobre o processo de concepção e organização, revisitando a história do frevo e apresentando as partituras das composições selecionadas.

Um dos diferenciais está no rigor do processo de transcrição musical. Os organizadores priorizaram fontes primárias escritas, como partituras originais de compositores e arranjadores, e, quando estas não estavam disponíveis, recorreram a versões publicadas em coletâneas de referência. O trabalho também envolveu a escuta atenta de fonogramas em diferentes suportes, garantindo fidelidade às gravações originais.

Mais do que difundir e valorizar essa música, o FrevoBook contribui para a educação musical e a salvaguarda do gênero, reforçando o papel do frevo nos processos que o consagraram como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, pelo Iphan, e Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco.

"UM LIVRO PARA SAIR TOCANDO"

CONTINENTE Como e quando surgiu a ideia do livro?
CLIMÉRIO DE OLIVEIRA Essa ideia surgiu justamente de uma conversa. Em princípio, essa conversa foi com o maestro Marcos FM. Nós tocamos juntos há muitos anos, e numa conversa ele me ventilou que faltava um livro, um songbook de frevo atual, no contexto do frevo pernambucano. E eu ouvi depois, uma conversa de Spok, o Maestro Spok, de que faltava um livro para você pegar e sair tocando, ele usou essa expressão, e essa expressão, “um livro para sair tocando”. Eu já tinha escutado alguns músicos de frevo sobre essa falta. “Poxa, falta um livro pra gente pegar assim e sair tocando”, para que o músico possa pegar com violão também e sair tocando. Então, juntando as pontas aí de uma mesma estrela, foi que eu comecei a perceber essa lacuna que tinha no campo do frevo. Então, não foi uma ideia que surgiu apenas de mim, mas a gente foi juntando essas ideias. E aí, um belo dia, a gente se encontrou, por acaso, quer dizer, acaso do trabalho. Eu, Spok e Marcos FM. E essa ideia veio à tona novamente. A ideia da falta de um livro pra pegar e sair tocando, para que o público do frevo, aliás, os profissionais da música e o músico, mesmo que não seja também profissional, pudesse pegar com facilidade e ver ali um frevo e tocar tanto no palco, como também nas suas celebrações pessoais, familiares, comunitárias. E aí a ideia foi se configurando e veio a oportunidade de colocar esse projeto no Sistema de Incentivo à Cultura da Prefeitura do Recife, que foi quem patrocinou o projeto. E foi muito importante o SIC, porque o projeto conta com 48 frevos e todos eles, os seus autores ou editoras, receberam os direitos autorais. Um projeto que foi feito todo dentro dessa legalidade. E aí os recursos do SIC foram bem importantes para isso, também foram importantes para a pesquisa, porque a gente tem uma pesquisa fotográfica que foi feita por Marcelo Soares, além de fotografia exclusiva do projeto. Nós também pesquisamos e tudo isso demanda recursos, teve profissionais, designers, aqueles profissionais que já fazem parte de uma produção de um livro também. Tudo isso demanda recurso e o SIC nos concedeu essa graça de podermos concretizar um sonho, uma ideia, através de um edital.

CONTINENTE Como foi a divisão das tarefas entre os três autores?
CLIMÉRIO DE OLIVEIRA Olha, a gente não teve muito a divisão exclusiva de tarefas em relação à concepção do livro, pelo menos no que diz respeito à música e à história e aos aspectos técnicos. Por quê? Nós preferimos trabalhar a seis mãos, acho que foi uma coisa mais efetiva de um coletivo, porque assim a gente juntou as experiências. Então, claro, na hora de digitar uma partitura, a pessoa que mais fez isso foi o Marcos FM. Mas revisar essa partitura, ouvir essa partitura como ela soava no software que a gente usa, que foi o Finale, constatar como ela estava organizada ali e fazer uma aferição disso, aí fomos nós três. O formato dessa partitura também. A questão do texto histórico, a digitação do texto ficou mais comigo, mas a concepção não. A concepção é muito a seis mãos e a construção desse texto também, porque isso dá muita consistência ao trabalho. A gente percebeu isso pela experiência que cada um tem. A gente achou que somando essa experiência e fazendo algo coletivo dava muito mais certo. Então, às vezes, eu colocava uma concepção, por exemplo, no formato das partituras, e o Spok vinha com outra ideia. “Não, olha. A gente pode fazer assim, assim e assado”. Às vezes, ele estava longe, nos Estados Unidos, outra vez tava em Portugal, e a gente não abria a mão de se reunir mesmo assim, no modo online, pra poder tomar essas decisões de concepção e de texto também. O texto tem a pegada dos três. Não sairia, de forma alguma, como saiu se nós não tivéssemos feito a seis mãos, pra não dizer a três cérebros e a três corações. Então, vamos dizer a seis mãos.
A mesma coisa digo dos aspectos técnico-musicais que ganharam um capítulo no livro também, a construção a seis mãos. Às vezes, você tem uma ideia de dissertar sobre um aspecto técnico-musical, e quando você vai dissertar, tem outras coisas que você não está enxergando, e aí três cabeças ajudaram muito a desenvolvermos tanto a pesquisa quanto a formatação das partituras, e expor isso em texto, no livro, com exemplos musicais e tal, tudo isso passou pelos três.

CONTINENTE Houve conversas com os compositores?
CLIMÉRIO DE OLIVEIRA E aí, essa produção colaborativa, nós estendemos também essa colaboração a conversas com os compositores que estão presentes no livro, porque eles também têm muita bagagem. E nós já temos a bagagem de ter entrevistado vários deles, e uma nova conversa às vezes ajudava a clarear um ponto, ajudava a ter uma ideia mais nítida de como o frevo está hoje, de como o frevo vem se desenvolvendo ao longo do tempo. Então, essa colaboração, essa rede colaborativa, não só entre nós três, mas também com os compositores que participaram, é uma viagem até de longo prazo. A gente já vem fazendo isso nos livros anteriores que nós lançamos. O Marcos FM já tem três livros lançados sozinhos e mais um lançado comigo. O Spok também tem um livro interessantíssimo, que é um play-along de frevo. Então essa bagagem da gente, ela ajudou muito, assim, não é uma pesquisa de três anos para cá. Três anos para cá a gente tem uma pesquisa efetiva para consumar o FrevoBook. Mas o que a gente tem de conversa, de entrevista, de experiência com esses mestres, é de longas datas. E principalmente eles dois, que têm mais tempo ainda no frevo do que eu. Enquanto tenho 25 anos no frevo, eles têm bem mais tempo. Então foi essa, eu acho, a grande sacada do trabalho, ter essa rede de colaborações.

Por isso a gente optou por colocar na capa do trabalho e na ficha catalográfica o nosso nome como organizadores, porque os autores são também os compositores que estão presentes no livro, tanto os clássicos do passado como os contemporâneos, e nós entramos como organizadores. Nós somos autores também, temos músicas nossas selecionadas no livro, mas a maioria contempla uma diversidade maior de autores.

Esse é trabalho que tem essa pegada colaborativa. Ela é muito importante e esse formato que a gente deu através desse aspecto colaborativo, a gente pretende manter para novos exemplares, novos volumes do FrevoBook.

CONTINENTE Como vocês chegaram a esse número de 48 partituras?
CLIMÉRIO DE OLIVEIRA O número de 48 partituras não tínhamos em mente antes. Nós tínhamos em mente inicialmente colocar 30, depois pensamos em 60 e depois baixamos para 48. Você vê que o número de cada tipo de frevo inclusive não é igual, são diferentes. Tem 18 de um, 17 do outro e 15 do outro, é mais ou menos assim, porque nós fomos qualificando a ideia aos poucos. Então a gente não quis se prender a um modelo específico e foi construído para dar uma unidade mais orgânica do que uma forma pré-estabelecida nessa quantidade.

CONTINENTE Quais foram os critérios para a escolha das composições selecionadas?
CLIMÉRIO DE OLIVEIRA Nós tivemos como principal critério, no caso dos clássicos, a representatividade, então aquilo que aquele autor representa dentro do frevo, mas não só pegando os conhecidos, primeiro, os representativos, mais conhecidos, Capiba, Nelson Ferreira, Levino Ferreira, Lídio Macacão, Alcides Leão, entre outros. Mas também nós começamos a perceber frevos excelentes que têm um potencial, vamos dizer assim, de se tornarem um clássico. Então, a gente já entrou em acordo que aquilo era um clássico sim, pelo acervo que o compositor tinha, pela forma que ele conseguia dar o frevo. Então nós pegamos também alguns frevos que não são tão conhecidos e colocamos, como por exemplo, “Mordido”, de Menezes. E em relação aos contemporâneos, um dos critérios foi diversificar as várias épocas que estão atuando hoje. Então, pegamos os mais experientes também, Maestro Ademir Araújo, Hugo Martins, Constantino, Mauricio Cavalcanti, J.Michiles, Edson Rodrigues e também os que apareceram mais recentemente, os da safra mais jovem, aí nós temos o Rafael Marques, o Maestro Forró, a Pandora Calheiros, o nosso trabalho mesmo, o do Marcos FM, o meu, o do Maestro Spock. Então, a gente foi fazendo uma seleção daqueles que atuam no frevo, selecionando pessoas que atuam no campo do frevo, e sem levar em conta essa coisa da idade, a renovação não está só na idade. Por exemplo, o Maestro Ademir Araújo, ele continua renovando. O Maestro Forró, que já atua aí há mais de 20 anos e continua renovando, Spok e Marcos FM também. Ele continua renovando porque ele trabalha com minimalismo, frevo e minimalismo. E tem muita gente que está trabalhando na renovação que não entrou nesse primeiro exemplar, mas certamente, se toparem, entrarão num próximo volume.

CONTINENTE Quanto tempo levou para elaborar o livro?
CLIMÉRIO DE OLIVEIRA É bem difícil dizer com precisão quanto tempo a gente levou para fazer esse livro, porque a ideia é antiga, é uma ideia que tem mais de 6, 7 anos. A bagagem que a gente concentrou é mais antiga ainda. Porém, a primeira reunião que fizemos para tratar esse trabalho tem três anos. Eu acredito que a bagagem e a ideia que vai amadurecendo fazem parte do trabalho. A reunião mais efetiva é quando você objetiva mais, você cria metas já com passos, quais são os passos que serão dados, aí tem três anos.

CONTINENTE Qual vai ser a tiragem e onde ele pode ser encontrado?
CLIMÉRIO DE OLIVEIRA Bom, o livro vai ser lançado no dia 17 de outubro de 2025, eu gosto muito de falar o ano porque depois isso não se perde, no Conservatório Pernambucano de Música, às 19 horas. Nós vamos ter três momentos. No primeiro, a gente vai conversar um pouquinho com o público. No segundo, a gente toca com uma banda maravilhosa e, no terceiro, a gente faz uma sessão de autógrafo. Esse lançamento teve apoio da Cepe Editora e do Conservatório Pernambucano de Música e teve o incentivo também do Sistema de Incentivo à Cultura da Prefeitura do Recife, que trabalha integrando a Secretaria de Cultura da Cidade do Recife. A Fundação de Cultura da Cidade do Recife. Então, todo o livro foi incentivado por esse sistema de incentivo à cultura e também o lançamento.
O livro tem uma tiragem de mil exemplares, a distribuição é gratuita, nós temos uma cota para instituições culturais de Pernambuco, bibliotecas, instituições que trabalham com música e afins. E também músicos podem adquirir o livro indo para o lançamento no conservatório porque vai ter uma distribuição de uma cota no dia. E também pode escrever quem quiser, quem tiver o interesse, que tiver alguma, algum grupo ligado ao frevo ou alguma instituição, pode solicitar o livro, ou mesmo sendo músico, pode solicitar o livro pelo e-mail zabumba2@gmail.com e não vai ser vendido. Ele tem uma distribuição totalmente gratuita.

SERVIÇO
Lançamento do Frevobook, com conversa com o público, show musical e sessão de autógrafos
Quando: 17 de outubro de 2025 (sexta-feira), às 19h
Onde: Conservatório Pernambucano de Música (auditório)
Quanto: Entrada Gratuita, sujeita à lotação.

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