Cobertura

Um McCartney mais descontraído em São Paulo

Ex-beatle se apresentou três vezes seguidas na mesma cidade

TEXTO Marcelo Abreu

12 de Dezembro de 2023

Paul McCartney mostra nesta turnê que continua um mestre entre as multidões

Paul McCartney mostra nesta turnê que continua um mestre entre as multidões

Foto Marcos Hermes/Divulgação

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Foi o maior fim de semana dedicado a Paul McCartney – e por extensão, aos Beatles – que São Paulo já viveu. Três shows com lotação esgotada, na quinta (7), sábado (9) e domingo (10) na Allianz Arena, estádio do Palmeiras. McCartney já havia se apresentado uma noite no estádio do Pacaembu (1993), duas no Morumbi (2010), no próprio Allianz (duas noites em 2014 e uma em 2017), mas nunca três noites seguidas numa mesma cidade brasileira. Desta vez, segundo a produção,os shows atraíram cerca de 144 mil pessoas.

O primeiro show em São Paulo foi o mais descontraído da turnê brasileira até agora. O ex-beatle usou gírias locais e improvisou algumas notas no baixo e no piano elétrico antes de algumas músicas. E sendo o músico espetacular que é, sobretudo no contrabaixo, qualquer pequeno improviso ou nota adicional se reveste de muita curiosidade para os admiradores.

No segundo show na capital paulista, variou algumas músicas: Can’t buy me love se tornou A hard day’s night na abertura da noite. Eliminou a primeira parte do medley do disco Abbey Road (restando apenas Golden slumbers, Carry that weight e The end). No bis, trocou Birthday  por I saw her standing there, no sábado, e por Day tripper, no domingo. O show acabou sendo reduzido em uns cinco minutos, em relação ao primeiro, em Brasília, por exemplo, ficando em volta de duas horas e 33 minutos de duração.


Foto: Marcos Hermes/Divulgação

A terceira noite em São Paulo teve também Drive my car, inédita na turnê até então. Com tudo isso, o repertório básico de 38 músicas apresentadas vai se alastrando com as pequenas variações, e percorrendo desde a primeira fase dos Beatles, passando pela mais elaborada pós-1967, pela banda Wings, e o McCartney solo dos anos mais recentes, num grande passeio pelas últimas seis décadas.

O momento de maior improviso ocorreu no sábado: após homenagear John Lennon com Here today, caminhando em direção ao piano elétrico para tocar Lady Madonna, McCartney ouviu a multidão entoar Give peace a chance. Paul aproveitou a deixa e usou o piano elétrico para acompanhar a multidão, cantando e tocando a música símbolo das campanhas de Lennon pela paz.

Um capítulo à parte foi no uso das gírias locais. George Harrisson foi mencionado como “mano”, Lennon foi apresentado como “meu querido parça”, o que não combina exatamente com a conotação da gíria no Brasil, mas foi engraçado. “O pai tá on” e “vocês são da hora” foram outras expressões usadas pelo ex-beatle em São Paulo.

Nos shows do sábado e do domingo, a canção Jet foi dedicada por McCartney a Denny Laine, guitarrista da banda Wings com quem ele tocou entre 1971 e 1981. Lane morreu no último dia 5, aos 79 anos. São dele alguns dos riffs de guitarra que embelezam o repertório dos anos 1970, tocado nos shows atuais, como a própria Jet, Band on the run e Live and let die. Mas, infelizmente, o público mais  jovem  nos estádios não tem ideia de quem foi Denny Laine.

O show do domingo foi dominado pela chuva forte que caiu desde a quarta música e não parou até o fim, o que fez algumas pessoas saírem antes da conclusão. E, numa cena raríssima em shows de McCartney, houve até um princípio de confusão na plateia da pista premium por causa de dois rapazes que insistiam em levantar capas de LPs atrapalhando a visão de quem estava atrás.

Um dos grandes desafios em estádios sempre foi apresentar músicas mais lentas, sem o acompanhamento de uma banda. Paul McCartney mostra nesta turnê Got Back que continua um mestre entre as multidões. Canta a acústica Blackbird sozinho ao violão, num momento em que o palco se eleva e lá de cima todo mundo pode conferir bem sua habilidade ao violão e a voz ainda firme. Em seguida, emenda com a homenagem a John Lennon intitulada Here today, também expondo sozinho sua voz para todo o estádio. Ninguém arreda o pé ou conversa durante as duas músicas. Ao contrário de outros shows de veteranos do rock em que o cantor principal sai de cena em alguns momentos e a banda continua, com McCartney é o contrário: a banda sai de cena e ele continua exposto, fazendo valer cada centavo de quem pagou o ingresso.

MARCELO ABREU, jornalista e autor de livros de viagens.

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