Profecias, Rodolpho Lamonier. Foto: Divulgação
“Não fui atrás de galerias. Primeiro pensei em trabalhar essa questão da imagem, do estereótipo da América Latina, defini eixos e aí fui em busca dos artistas que tinham poéticas criativas nessa linha. Só cheguei nas galerias depois que tinha escolhido os artistas”, explica, destacando a lógica de funcionamento diferente daquela implantada no SP-Arte, de modo geral, onde tudo começa no convite às galerias e não aos artistas. Porém, artistas como Rafael Pagatini chegaram até ela através do open call aberto pelo festival para que se enviassem projetos dentro da proposta da curadoria. “Eu não poderia achar que conhecia tudo. E dentro dos projetos enviados, encontrei Pagatini”, disse Tala.
Segundo a curadora, é necessário implementar essa troca, esse diálogo entre os artistas latino-americanos. Ela cita o caso do guatemalteco Luis González Palma, que segue uma linha de trabalho muito parecida com a de Cláudia Andujar. Ambos são da mesma geração e, para a curadora, seus trabalhos podem e devem ser postos em diálogo. “Me parece imprescindível que os colecionadores e o público brasileiro conheçam o trabalho de González, num momento em que Andujar também apresenta uma enorme exposição no Instituto Moreira Sales paulista”, defendeu.
O setor Solo é um dos três setores curados da SP-Arte, junto com o projeto Performance, o Master e o Openspace. Marcos Gallon foi o responsável por selecionar seis trabalhos performáticos que se desenvolveram ao longo dos dias de festival, espalhados pelo Pavilhão da Bienal. Um deles foi a performance do artista gaúcho, radicado no Recife, Cristiano Lenhardt. Atoritoleituralogosh (2019) recebeu o prêmio de aquisição da Pinacoteca, dentro de uma proposta de ampliar o acervo de performances da instituição paulistana.
No setor Master, Tiago Mesquita fez uma seleção de artistas dos anos 1950 a 1980, dando prioridade a nomes que, por diversos motivos, não foram muito expostos e que “pensaram as vanguardas depois que as promessas utópicas da modernidade se dissiparam”. A grande novidade do festival foi o Openspace, que levou 17 esculturas e instalações de 15 artistas para a área externa, capitaneada por Cauê Alves, curador geral do MuBE.
Performance Atoritoleituralogosh, Cristiano Lenhardt.
Foto: Jéssica Mangaba/Divulgação
VALOR SIMBÓLICO
Para Fernanda Feitosa, idealizadora do SP-Arte, esses pequenos setores que reúnem trabalhos de artistas selecionados, a partir de uma proposta curatorial, funcionam como opções para que o público em geral possa nortear sua visita. “Esses setores curados te oferecem essa pequena calma dentro desse ambiente tão diverso. Acho fundamental para que o público possa passear de modo mais fluido, em ambientes mais filtrados”, diz, com razão. Afinal, a cada dia, as galerias mudam seus estandes, trocam obras, expõem novas peças e, em meio a essa profusão de trabalhos de mais de dois mil artistas, sem nenhum fio conceitual norteador, a visita pode se tornar um pouco complicada.
A cada ano, percebe-se a preocupação do festival com essas questões e a implementação de mecanismos que possam agregar ao evento – cujo fim comercial é claro e primordial – outras formas de trabalhar e dialogar com o espectador. E talvez a SP-Arte venha logrando esse objetivo, principalmente com o seu poder de articulação, que consegue movimentar todas as galerias da cidade, ateliês de artistas e as principais instituições culturais no período de sua realização, com a abertura de importantes exposições e mostras, para além do Pavilhão da Bienal. Como estava grafado em uma das paredes do festival: #respirearte. Parece que é isso que a cidade faz, de fato, a despeito de uma certa sensação blasé e elitista que permeia o ambiente.
BALANÇOS
Este ano, o evento manteve o número total de 164 galerias participantes, novamente com um andar dedicado ao design, que dá sinais de ser o setor com maior potencial de crescimento hoje. “Essa área vem ganhando corpo. Como tudo por aqui, vamos sentindo onde e o que está dando certo, ajustando o que não está funcionando. O público vai também captando essas mudanças e reagindo positivamente a elas”, pontuou Fernanda Feitosa, em conversa com a Continente.
Este foi o primeiro ano em que o número total de galerias (arte + design) permaneceu estável em relação ao ano anterior. O crescimento registrado em 2017 e 2018 deveu-se exclusivamente ao setor de design, já que o número de galerias de arte aponta uma redução – eram 134 em 2017, 131 em 2018 e, este ano, 120 –, mesmo seguindo como o carro-chefe do evento.
Esses números não precisam ser vistos como negativos. Não estaria o festival, agora que se aproxima da sua “vida adulta”, alcançando uma dimensão condizente com o mercado nacional, que viveu um verdadeiro boom há alguns anos e parece começar a se acomodar? A “bolha” dos anos anteriores estourou faz um tempo e, em 2018, o mercado já apresentava sinais de recuperação, com as galerias alcançando resultados positivos na 14ª edição da feira, tendência que parece ter se mantido neste ano.
“Uma pergunta que todos estão me fazendo é se temos planos de aumentar, de crescer. Eu tenho dito: crescer não é nosso objetivo final. Nós não queremos ser o maior evento, nós queremos ser o melhor evento. Qualidade é o que nos move e nos guia”, comentou Fernanda Feitosa.
Circulando pelo segundo andar do pavilhão, principal setor da feira, onde se instalam as grandes galerias de arte contemporânea nacional e internacional, era possível perceber a aposta tanto em artistas renomados e com nomes consolidados no mercado, como também em outros ainda pouco conhecidos. Esse mix foi uma aposta para ampliar as possibilidades de venda.
A galerista pernambucana Lúcia Costa Santos, da Amparo 60, única do estado a participar do evento, seguiu essa lógica. Ao mesmo tempo em que apresentou trabalhos de Delson Uchôa e José Patrício, mostrou obras de jovens artistas como Fefa Lins e Juliana Lapa. Inclusive, o primeiro trabalho comercializado pela galeria, na quarta-feira, foi um desenho de Juliana da série Breu.
Fernanda Feitosa destaca que, ao longo desses 15 anos, o público do SP-Arte tem se expandido – na sua primeira edição, atraiu pouco mais de 5 mil pessoas, chegando, em 2019, a 36 mil – e se tornado bem variado. “Uma coisa que escuto muito dos galeristas é que o seu público tem rejuvenescido. Eles vendiam para os avós, depois para os filhos e agora chegaram os netos”, contou, lembrando que esse público mais jovem deseja encontrar no festival artistas novos, de sua geração, que muitas vezes possuem peças com preços mais acessíveis para quem está iniciando suas coleções.
MARIANA OLIVEIRA é editora-assistente da revista Continente.
*A jornalista viajou a São Paulo a convite do SP-Arte.