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McCartney em Belo Horizonte

Com atrasos e mineirices, show aconteceu na Arena MRV e atraiu 42 mil pessoas

TEXTO Marcelo Abreu

04 de Dezembro de 2023

Belo Horizonte foi a segunda cidade brasileira a receber McCartney nesta turnê

Belo Horizonte foi a segunda cidade brasileira a receber McCartney nesta turnê

Foto MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO

O show de Paul McCartney em Belo Horizonte, na noite do domingo (3), era considerado por alguns como o primeiro grande teste para a Arena MRV, do Atlético Mineiro, no que concerne ao acesso da multidão a eventos não esportivos. Se era assim, o estádio não passou no teste. Localizado no bairro de Califórnia, a 10 km do centro, numa área de morros, ladeiras e ruas estreitas, o acesso ao local é muito difícil para todos. Não por coincidência, McCartney começou o show com uma hora e nove minutos de atraso, e isso porque foi cortada as participações de um DJ – que tradicionalmente abre a noite com remixagens de músicas do ex-beatle – e eliminada também uma sequência animada de fotos que mostram a trajetória do músico nos telões. Somente esse “esquenta” para o show duraria cerca de 1 hora e 20 minutos.

Quarenta e duas mil pessoas compareceram ao estádio, com lotação esgotada. A mais notória presença foi a de Milton Nascimento, que foi ovacionado pela multidão ao chegar à pista e se sentar numa área reservada. Milton é o principal interprete da canção Para Lennon e McCartney, de 1970 (composta por Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant).

No repertório apresentado nos shows da atual turnê Got Back, Paul McCartney parece ter deixado de lado duas figuras da família estendida dos Beatles, grupo que inclui as atuais e as ex-mulheres dos quatro integrantes da banda, filhos, assessores, empresários, amigos (e que historicamente sempre despertou muito interesse entre os fãs da banda).

Das duas grandes canções de amor dedicadas a Linda, com quem esteve casado por quase trinta anos, Paul não tem cantado My love. Em algumas turnês anteriores, a imagem de Linda aparecia com destaque e alguns fãs erguiam fotos dela na plateia em My love, como ocorreu os shows no Recife, em 2012. Mas no repertório ainda está Maybe I’m amazed. Só que as imagens de filmes caseiros, exibidas no telão, mostram Paul com o pequeno James, filho dos dois, e a menina Heather, filha de Linda de um relacionamento anterior. Mas a própria Linda não está presente. Uma chave para entender a ausência pode ser a atual mulher, Nancy, cuja presença, em algum lugar do estádio, Paul faz questão de anunciar com destaque, antes de apresentar My valentine.

Outro que não é citado no show atual é o baterista Ringo Starr, que chegou a ser lembrado em algumas turnês com a execução de Yellow submarine, famosa em sua voz. George Harrison continua sendo homenageado com Something e é chamado por McCartney de “meu irmão”. “Meu amigo” é como Paul se refere a John Lennon, antes de cantar sozinho ao violão Here today, no palco elevado, mostrando como cenário o espaço sideral à noite.

Foto: Marcos Hermes/Divulgação

Entretanto, todo mundo aparece durante a execução de I’ve got a feeling, já na parte final do show. Os telões mostram imagens restauradas para o documentário Get back, de Perter Jackson. A edição de imagens inclui um eufórico elenco composto pelos quatro Beatles, suas mulheres, assessores, produtores, todos rindo, dançando, tocando, brincando. Uma edição de imagens que destoa bastante da versão estabelecida de que a gravação do álbum e do documentário Let it be, entre 1968 e 1969, teria sido um período de brigas e desavenças dentro da banda.

Uma curiosidade na atual turnê, Got Back, é o destaque que McCartney dá justamente a I’ve got a feeling, por cantar uma parte da canção ao vivo, no palco, e John cantar a parte seguinte da mesma música, com imagens e som recuperados e mostrados no telão.

Os toques de mineirices do primeiro show em Belo Horizonte este ano ficaram por conta de expressões em português como “trem bão” e a saudação “vim aqui pra dizer uai”. Antes de introduzir a música Ob-la-di  ob-la-da, Paul improvisou no baixo um “olê, olê, olê, olá” instrumental, que foi acompanhado pelos gritos de “galo”, por boa parte da plateia.

Esses pequenos improvisos entre uma música e outra são divertidos. É o caso de Let me roll it, que é seguida de um trecho instrumental de Foxy lady, de Jimi Hendrix. E também da jam session de três guitarras (o próprio McCartney e os músicos Rusty Anderson e Brian Ray) no medley que encerra o show com Golden slumbers, Carry that weight e The end.

MARCELO ABREU, jornalista e autor de livros de viagens.

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