Cobertura

Expectativa pelo show de McCartney no Maracanã gera especulações

Ex-beatle volta ao estádio em que bateu recorde de público em 1990

TEXTO Marcelo Abreu

16 de Dezembro de 2023

Foto MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO

 
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Desde que fez seus dois primeiros shows no Brasil, em abril de 1990, esta é a primeira vez que Paul McCartney voltará ao lendário estádio do Maracanã para se apresentar, hoje (16), encerrando a fase brasileira de sua Got Back Tour. Isso não é pouca coisa já que aqueles shows de 33 anos atrás entraram para a história com recorde de público pagante para espetáculos solos em locais fechados – 184 mil pessoas na noite de 20 de abril.

O significado histórico do evento deste sábado e toda a mística em torno do Maracanã provocou uma enxurrada de especulações de que esse poderia ser o show de despedida da carreira do ex-beatle. Haveria indícios para isso: o fato de não haver datas posteriores anunciadas no site do artista, a possível vinda de suas filhas, Mary e Stella, ao Rio, para ver o show e até, uma suposta participação do outro beatle, o baterista Ringo Starr. Podem até ser ganchos jornalísticos convenientes, mas a realidade deve ficar bem longe disso.

Primeiro porque o fato de não haver datas anunciadas para o ano que vem não quer dizer nada. McCartney sempre faz interrupções no meio de suas turnês, que passam de um ano para outro com intervalos generosos. A Out There Tour, por exemplo, durou dois anos e meio, entre 2013 e 2015, com duas vindas diferentes ao Brasil. A atual Got Back começou na cidade de Spokane, no estado de Washington, nos Estados Unidos, em 22 de abril de 2022, mas nada indica que termine no show deste sábado no Maracanã. Até agora foram 35 shows (16 nos EUA, 2 na Inglaterra, 7 na Austrália, 2 no México e 8 no Brasil, incluindo a apresentação surpresa no Clube do Chorinho, em Brasília). Faria sentido uma turnê de despedida sem uma passagem pela Europa continental? Muito improvável.

Segundo: aposentadoria de músico, mesmo quando anunciada oficialmente, é sempre ou temporária ou jogada de marketing (no caso, desnecessária para Paul McCartney). A rigor, os próprios Beatles pararam de fazer shows em 1966 mas isso não encerrou atividade de palco dos quatro integrantes. Ninguém desaprende a tocar com a idade e alguns até melhoram com o tempo. O lendário guitarrista Les Paul, por exemplo, criador da guitarra do mesmo nome e grande referência para os roqueiros, se apresentava no Iridium Jazz Club, em Nova York com quase noventa anos, toda segunda-feira.

Terceiro: a vinda das filhas do cantor para ver um show é coisa corriqueira. As bandas de rock são famosas por suas entourages grandes que envolvem família, amigos e celebridades. E o Rio de Janeiro é sempre um local muito atraente para um fim de semana com música.

Quarto: a presença de Ringo Starr no Rio seria maravilhosa, um sonho sempre acalentado no mundo todo mas não há nada que fundamente a possibilidade, além do próprio desejo dos fãs brasileiros.

RECORDES
Nesta décima vinda ao Brasil, Paul McCartney tocou em um número recorde de cidades (cinco) e um número recorde de shows (nove com o do Maracanã). Sobre a quantidade de público, um paralelo interessante pode ser traçado com um outro marco do showbizz internacional. Em janeiro de 1980, Frank Sinatra reuniu um público de 175 mil pessoas no Maracanã, no que foi considerado o “show do século”, coroando uma carreira de enorme sucesso na indústria fonográfica e no cinema. Tinha 64 anos e cantava, de paletó e gravata, um repertório puxado para o jazz e standards da música popular norte-americana.

Dez anos depois, em abril de 1990, aos 47 anos de idade, o ex-beatle veio pela primeira vez ao Brasil com a sua The Paul McCartney World Tour. Paul bateu o recorde de Sinatra atraindo um público de 184 mil pessoas, no mesmo Maracanã. Dessa vez, no lugar da gravata e do jazz, entraram em cena a celebração da cultura jovem, o colorido pop contemporâneo e o rock com suas raízes no blues.

Na época, fazia quase dez anos que McCartney não se apresentava ao vivo e a turnê mundial deu um novo gás a toda uma geração de músicos dos anos sessenta que parecia a caminho da aposentadoria. O sucesso das apresentações desencadeou um renascimento entre as bandas do chamado “classic rock”, que voltaram à estrada, de onde muitos não saíram até hoje.

Em 2023, o novo Maracanã não comporta um público tão grande mas, somando-se os nove shows no Brasil, a turnê de Paul McCartney deve bater novos recordes em muitos aspectos. Apropriadamente chamada de Got Back Tour, a atual série de shows é um exemplo da longevidade crescente dos músicos de rock e da grandiosidade de uma indústria que gira, cada vez mais, em torno das apresentações ao vivo.

 

MARCELO ABREU, jornalista e autor de livros de viagens.

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