Paul Thomas Anderson talvez seja o mais recluso dos cinco diretores que enxergamos nesse perfil. Na ativa desde 1996, quando lançou de forma independente o thriller Jogada de risco, ele entrou para o time dos realizadores jovens mais talentosos dos EUA no ano seguinte, com Boogie Nights – Prazer sem Limites, um retrato pungente da indústria de cinema pornográfico na virada dos anos 1970 para os anos 1980, que funciona também como uma metáfora engenhosa para a relação ambígua e complexa entre arte e entretenimento. Magnólia (1999), um emaranhado de trama que cruza as vidas de quase 20 diferentes personagens com toques de realismo fantástico e citações bíblicas, concretizou-o como realidade autoral. Craque em composições rigorosas de época, e capaz de transitar sem dificuldade por gêneros distintos como a comédia (Embriagado de Amor, de 2002) e o drama de época (Sangue Negro, de 2007), Anderson vem desde então filmando em ritmo tranquilo, sem obedecer a convenções comerciais, mas sempre acompanhado de grandes atores (Daniel Day-Lewis, Joaquin Phoenix).
Darren Aronofsky talvez seja o nome mais surpreendente, porque é também aquele que produz filmes mais acessíveis, e o único que já assumiu uma grande produção – Noé, de 2014, cuja conhecida trama foi torcida e retorcida para transformar o personagem bíblico num típico personagem de Aronofsky: um ser atormentado por pesadelos e delírios cabalísticos, que é lentamente tragado para um abismo de loucura e isolamento. Desde Pi (1998) até Mãe! (2017), passando por Réquiem para um Sonho (2000) e Cisne Negro (2010), Aronofsky construiu uma obra consistente, com insistentes citações religiosas, adornadas por um estilo exuberante, que inclui uma câmera inquieta, paleta de cores saturadas e efeitos sonoros hiper-reais. O cinema que ele produz, goste-se ou não, busca uma experiência sensorial completa – e muitas vezes atordoante.
A única mulher da lista, Sofia Coppola, também é a única com pedigree. Filha de Francis Ford Coppola, Sofia foi criada em quartos de hotel, viajando pelo mundo com o pai, e essa criação – o tédio e a alienação da vida dos milionários – tem sido uma marca autoral que percorre toda a sua obra, iniciada em 1999 com o elogiado drama As Virgens Suicidas. Como os demais cineastas da lista, ela é capaz de transitar com naturalidade por diferentes gêneros, vide a cinebiografia pop de Maria Antonieta (2006), um retrato vibrante e colorido das futilidades da vida nas altas cortes europeias do século XVIII.
Dono de uma trajetória mais discreta e episódica, James Gray talvez seja o mais independente – e por consequência, desconhecido – dos cineastas enfocados aqui. Começou a filmar em 1994, com o pequeno drama familiar Fuga para Odessa, e demorou seis anos para voltar às telas. Nos intervalos entre os filmes, costuma dar aulas em universidades de cinema e trabalhar como consultor de roteiros. Já fez filmes de época (Era uma Vez em Nova York, de 2013) e épicos sobre a relação entre o homem e a natureza (Z: A Cidade Perdida, de 2016), mas todos os filmes focalizam personagens com obsessões impossíveis que são muito maiores do que eles, e por vezes os conduzem à completa ruína. Sua associação com atores de renome – Joaquin Phoenix, Mark Whalberg, Marion Cotillard – o ajuda a manter um vínculo permanente com Hollywood, mas somente no que se refere à distribuição. Para produzir os filmes, ele prefere trabalhar de forma independente, às vezes com a ajuda da produtora Plan B, de Brad Pitt.
Por fim, o canadense Dennis Villeneuve parece ser o mais versátil de todos. Na ativa desde 1998, ele já trabalhou com dramas familiares (Incêndios, de 2010), thrillers policiais violentos (Sicário: Terra de Ninguém, de 2015), realismo fantástico (O Homem Duplicado, de 2013, adaptação de um romance de José Saramago) e, por duas vezes seguidas, com ficções científicas incomuns, que contêm mais drama e humanidade do que ação e efeitos especiais (A Chegada e Blade Runner 2049, respectivamente de 2016 e 2017). Sua marca autoral mais perceptível é o olhar filosófico, e por isso seus personagens estão sempre às voltas com decisões de ordem moral capazes de impactar a vida de todos ao seu redor.
Como seus colegas que não têm interesse em dirigir filmes da Marvel, Villeneuve faz parte de uma geração para quem perseguir o sonho autoral de liberdade criativa tem sido um objetivo complexo. Outros cineastas flertam com esse grupo de realizadores autorais, a exemplo de Gus Van Sant, Joel e Ethan Coen, David Fincher e Steven Soderbergh; alguns desses, porém, possuem carreiras mais oscilantes, ou estão integrados de maneira mais firme à tradição comercial de Hollywood, o que frequentemente afeta o impacto autoral de sua obra. Os resultados desse desejo por liberdade criativa, contudo, formam um conjunto de filmes mais próximo da ousadia alcançada pelos mestres dos anos 1970.
RODRIGO CARREIRO, jornalista, crítico e professor do curso de Cinema da UFPE.