“Perseguidas”: mulheres vestidas para repelir a violência contra elas
Projeto de fotografia, concebido pela artista Andréa Veruska e a fotógrafa Camila Silva, consiste em lambe-lambes espalhados por pontos de ônibus do Recife
10 de Junho de 2025
Fotografias com até 3 metros refletem o assédio contra mulheres em espaços públicos
Foto Camila Silva/Divulgação
Mulheres vestem trajes que são como armaduras, trabalhados com objetos pontiagudos, como arames e facas, pregos e agulhas, a rigor da violência da qual precisam se defender em espaços, embora públicos, inseguros. São as Perseguidas, projeto concebido pela artista Andréa Veruska e a fotógrafa Camila Silva e revertido em lambe-lambes de até três metros de altura fixados em muros nas proximidades dos terminais integrados de Afogados e do Barro, e também perto de paradas de ônibus na rua da Aurora (Boa Vista) e nas avenidas Norte (Casa Amarela), República do Líbano (Pina) e Cruz Cabugá (Santo Amaro), além da Rua do Pombal (também em Santo Amaro), endereço de baixa movimentação de pessoas e alta sensação de medo, ainda que esteja nas redondezas da Delegacia da Mulher. A exposição é um desdobramento da performance que Veruska realizou em 2017, quando circulou dentro de transportes coletivos da cidade vestindo pregos enferrujados, para confrontar a violência contra a mulher em ônibus e paradas, metrôs e estações.
“A nossa intenção é a de que os homens, ao verem essas mulheres armadas, sintam um pouco o medo que a gente sente”, diz Veruska. “Ao sair de casa, o homem, no máximo, pensa que pode ser roubado. Já a mulher tem que pensar em onde e como vai, em qual roupa vai usar e por onde vai passar”, continua a artista, que chegou à ideia quando pesquisava gênero e performance juntamente ao ator Wagner Montenegro, no Núcleo de Experimentações em Teatro do Oprimido (Nexto), criado por eles. À época, ela leu o livro Teoria King Kong, de Virginie Despentes, sobre o estupro que sofreu aos 17 anos.
Veruska lembra de uma amiga que usava um palito japonês de cabelo como instrumento para afastar abusadores nos ônibus. “Nas entrevistas para a minha pesquisa, todas as mulheres tinham história de assédio em transporte público ou caminhando na rua”, conta. Em 2019, pesquisa dos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com mais de mil mulheres de todo o país, revelou que 97% delas já haviam sofrido assédio no transporte público. Não à toa, o metrô do Recife e de outras cidades, como Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, destinam vagões exclusivos para mulheres em horário de pico.
“Eu entendo esse projeto como uma forma urgente e necessária de comunicação, ao trazer as mulheres de formas grandiosas, imponentes, em bando. Como uma mulher, fotógrafa e realizadora audiovisual, desejo incansavelmente utilizar os recursos comunicacionais visuais para colocar nossos gritos nas ruas, nas casas, nos espaços públicos e privados”, diz a fotógrafa Camila Silva.
Nas imagens que Camila fotografou e montou para Perseguidas aparecem Andréa Veruska, Aurora Jamelo, Bruna Alves, Íris Campos, Mariama de Aquino e Nilza Souza. A artista Lia Letícia, convidada para colaborar com a equipe curatorial, escreveu, em seu texto “Medo É Raiva”, que “Qualquer mulher prefere encontrar o diabo do que um homem quando está sozinha na rua”. Às etiquetas de segurança repetidas desde sempre, como “ande no meio da rua, sente atrás do banco do motorista, corra, grite”, ela acrescenta: “sinta raiva, revide”.
SERVIÇO
Exposição fotográfica urbana Perseguidas
Onde encontrá-las:
Centro: próximo à parada de ônibus na Rua da Aurora, esquina com a Rua da Imperatriz (Boa Vista); perto da parada de ônibus em frente ao Mix Mateus da Avenida Cruz Cabugá (Santo Amaro) e na Rua do Pombal, perto da Delegacia da Mulher (Santo Amaro);
Zona Norte: na Avenida Norte, próximo à parada de ônibus nas imediações da Praça do Trabalho (Casa Amarela);
Zona Oeste: próximo aos terminais de Afogados e do Barro;
Zona Sul: próximo ao shopping RioMar Recife (Pina).
Todas as fotografias trazem QR Codes que direcionam para audiodescrição das imagens e também para o Instagram do projeto (@projeto_perseguidas)