Artes Visuais

Olhares contemporâneos sobre o período holandês

Exposição no Mepe estreia nesta terça-feira (6) e dá voz ao que a história oficial silenciou

05 de Agosto de 2024

Tela de Frans Post mostra a capital pernambucana no século XVII

Tela de Frans Post mostra a capital pernambucana no século XVII

Foto Divulgação

Era noite de 26 de janeiro de 1654. Após longas negociações entre os luso-brasileiros e os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais, finalmente foi fechado um acordo e posterior rendição de nossos invasores dos países baixos. Trezentos e setenta anos depois, seguimos discutindo as consequências dos 24 anos de ocupação holandesa nas terras dos altos coqueiros. Aqueles tempos cravaram sua marca no imaginário de estudiosos, escritores, pesquisadores e artistas, de ontem e de hoje, rendendo fotografias, cartografias, vídeos, textos e obras de arte, de ontem e de hoje, que agora surgem recontados de forma a dar voz aos que foram silenciados em outras narrativas histórias. Esse material é exposto agora, na mostra 1654 - 370 Anos da Rendição dos Holandeses em Pernambuco: Reflexões Históricas e Contemporâneas, que o Museu do Estado de Pernambuco (Mepe) abriga a partir desta terça-feira (6), às 19h. 

“Decidimos olhar para 1654 assumindo o olhar do presente. Não estamos preocupados em explicar como foi a ocupação holandesa passo a passo. Estamos pensando como problematizar as histórias dentro da história, isto é, de que maneira os fatos foram apropriados e recontados de formas diferentes”, disse, em entrevista à Continente, o curador Dirceu Marroquim. A organização da exposição ficou dividida em quatro módulos: o primeiro trata do período da permanência dos holandeses aqui; o segundo aborda as lutas pela rendição e restauração de Pernambuco. Mas segue em um diálogo entre o contemporâneo e o que se passou no século XVII. 

O terceiro expõe as apropriações posteriores dessa presença, a lembrança de como foi recontada essa história. “Então temos elementos do tricentenário da Restauração Pernambucana, de 1954. Encontramos, por exemplo, registros de um culto a Iansã na igreja do Morro dos Guararapes, ou seja, é uma memória que passa por uma história que foi silenciada. A gente até brinca que é o silêncio patriarcal do passado. Mas os registros existem, então no presente é possível contar uma história muito mais plural do que a que ficou sendo recontado com o passar do tempo”, analisa Marroquim.

Já o módulo dedicado ao futuro tenta olhar para o passado projetando as reflexões que virão. “É um olhar para o futuro a partir da salvaguarda dos bens materiais, como a restauração do painel de Brennand da Batalha dos Guararapes, e um vídeo sobre o Grêmio Musical Henrique Dias, que é um olhar para o futuro a partir da salvaguarda da memória de um restaurador pernambucano, um homem negro que lutou pela rendição dos holandeses e empresta seu nome a um lugar que ensina frevo a jovens em condição de vulnerabilidade social”, explica Marroquim. 

Além de Marroquim, Maria Eduarda Marques e Helena Severo assinam a curadoria, que conta com consultoria técnica do professor Bruno Miranda, considerado uma das maiores referências sobre o Brasil holandês na atualidade. a mostra inclui obras de artistas contemporâneos como Jeff Alan, Diogum e Nathê Ferreira, além de trabalhos de Francisco Brennand (1927-2019). Diante deles, o espectador se depara com novas perspectivas e questionamentos das narrativas históricas estabelecidas, dando voz e vulto aos que foram silenciados pela historiografia oficial. 

SERVIÇO
1654 - 370 Anos da Rendição dos Holandeses em Pernambuco: Reflexões Históricas e Contemporâneas
Onde: Museu do Estado de Pernambuco, Av. Rui Barbosa, 960 - Bairro das Graças
Quando: Terça-feira (6), às 19h. Visitação: quarta-feira (7), às 19h
Quanto: Acesso gratuito

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