Lula Cardoso Ayres em 60 obras

Um dos principais nomes do modernismo de Pernambuco, Lula Cardoso Ayres (1910-1987) se jogou no experimentalismo das vanguardas europeias para reproduzir a cultura pernambucana. Os vários períodos de sua vasta produção, da década de 1940 até a última e inacabada obra produzida pouco antes de falecer, estarão à vista do público na exposição Caminhos de Ida, Caminhos de Volta, na Galeria Marco Zero, em Boa Viagem, a partir deste sábado (10). 

São 60 trabalhos que reproduzem esteticamente o imaginário regional, em idas e vindas pelo figurativismo e abstracionismo. Segundo o curador da mostra, Guilherme Moraes, a expo é composta sobretudo de pinturas e desenhos de estudos para pinturas, que possibilitam ao visitante acompanhar como essas duas linguagens se modificam ao longo da vida do artista. “É um artista de produção muito diversa, com arcos muito específicos como os deslocamentos, tanto físicos quanto simbólicos. A exposição parte desses múltiplos trânsitos que atravessam a carreira de Lula”, afirma Moraes. 

Filho de usineiro, Lula cresceu com acesso a tudo o que podia torná-lo o artista que se tornou. Aos 12 anos já contava com um professor particular de artes. Depois foi estudar o ofício em Paris, voltou ao Brasil e fez vários cursos livres em escolas de belas artes. De volta a Pernambuco, vai para a usina ajudar o pai e por lá monta ateliê. Afeito às manifestações simbólicas populares, visitou maracatus, caboclinhos e papangus, tanto do Recife quanto da região da usina, na Zona da Mata Sul. “Esse contato com a produção simbólica dos trabalhadores do campo foi fundamental na produção do artista, o primeiro a tratar de temáticas populares”, acrescenta Moraes.

A exposição não é estritamente cronológica, mas abarca diferentes momentos, como o contato do artista com a cerâmica de Caruaru. “É uma produção muito telúrica onde ele espelha um cenário a partir da redução apreendida com os bonecos de barro”, explica o curador. Em outro momento, o bumba meu boi se torna fonte de inspiração produtiva, assim como o caboclo de lança. “Os folguedos nunca desaparecem, mesmo nos momentos de abstração, mostrando esse lado pendular da produção artística de Lula”, avisa Guilherme. 

Ao longo da exposição, é possível dar conta das diversas descobertas do artista, que nunca são descontinuadas, formando uma coesão de aprendizados retomadas em momentos futuros. “Desde a plasticidade do boneco de barro, a qual, vez ou outra, ele recorre no sentido do arredondamento dos traços, até a maneira como ele recorta corpos e paisagens. Tudo isso vai se avolumando dentro da produção de Lula Cardoso Ayres, que é personalíssima, segundo descreveu Gilberto Freyre”.  

SERVIÇO
Lula Cardoso Ayres - Caminhos de Ida, Caminhos de Volta
Onde: Galeria Marco Zero (Avenida Domingos Ferreira, 3393, Boa Viagem)
Quando: A partir de 10 de agosto de 2024. Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h. Até 28 de setembro de 2024
Quanto: Entrada gratuita