Festival Urbe-se alia arte, resistência e memória
De 12 a 15 de novembro, evento promove exposição, oficinas, além de projeções artísticas na Casa da Cultura, Memorial da Democracia de PE e no Monumento Tortura Nunca Mais
06 de Novembro de 2024
Movimento Tortura Nunca Mais será um dos locais das projeções em video mapping
Foto Ingrid Abreu
O Urbe-se chega à segunda edição dialogando, mais uma vez, com locais simbólicos para a memória das lutas por liberdade e democracia no Recife. De 12 a 15 de novembro, o festival de video mapping promoverá exposição, oficinas e bate-papo, em um circuito artístico que retorna à Casa da Cultura e ao Monumento Tortura Nunca Mais, ambos no Centro do Recife, e, pela primeira vez, chega ao Memorial da Democracia de Pernambuco, no Sítio Trindade, com projeções de obras de artistas de diferentes gerações, entre eles Francisco Brennand (in memoriam), homenageado desta edição. Toda a programação é gratuita e conta com incentivo do Funcultura.
Ligado à memória das revoluções pernambucanas, do passado e de hoje, com as batalhas diárias da população, especialmente dos grupos minorizados, o festival cuja primeira edição aconteceu em 2019, trabalha o espaço urbano através de intervenções artísticas com o video mapping - técnica audiovisual que projeta imagens em espaços e edificações, dialogando com a arquitetura e a forma da superfície - , reforçando seus três principais eixos: arte e política, arte e tecnologia e arte urbana.
“Destacamos a importância do papel político da arte, a associação da arte com os novos suportes contemporâneos e também a escolha dos lugares para unir os eixos. São locais que guardam memórias da cidade do Recife. A Casa da Cultura, antes, foi a Casa de Detenção, e por ela passaram muitos presos políticos da ditadura militar, como Gregório Bezerra. O Monumento Tortura Nunca Mais foi o primeiro do país a denunciar a tortura do período da ditadura. O Brasil foi o único país do mundo a não punir os torturadores e a única forma que temos de não repetir essa história é lembrar dela. E o Memorial da Democracia, além de ter sido sede do Movimento de Cultura Popular, está localizado no Sítio Trindade, um território histórico de resistência que abrigou, em 1630, o Forte do Arraial do Bom Jesus, criado para lutar contra a invasão holandesa, e onde, por cinco anos, 500 pessoas ficaram abrigadas, resistindo”, explica Lucia Padilha, coordenadora do evento.
Artistas pernambucanos de diferentes gerações e linguagens artísticas foram convidados a criar obras inéditas e dialogar com as memórias desses lugares. Integram a programação Maurício Castro, Juliana Notari, Clara Nogueira, Coletivo IAE (Inconsistência, Acaso e Erro) e o Coletivo Mutirão.
O festival conta ainda com a participação do coletivo VJs Retinantz, composto por Gabriel Furtado e Cauê Nascimento, que fará as projeções de video mapping e foi responsável pelo suporte técnico para a criação das obras em vídeo dos artistas convidados; e o músico Alex Mono, que contribuiu com a criação de trilhas sonoras para os vídeos criados. Durante as projeções, haverá também performances sonoras ao vivo do Coletivo IEA, composto por João Lin e Hassan Santos.
Haverá ainda exibição de uma animação inédita do mural “Batalha dos Guararapes”, de Francisco Brennand, que tem 2,20 metros de altura por 32,11 de comprimento, e retrata a expulsão dos holandeses, após a invasão no século XVII. O evento é considerado um dos fundadores do entendimento da pátria brasileira, com a união de representantes brancos, indígenas e negros. O artista foi convidado pelo projeto no início de 2019 e autorizou a intervenção na sua obra, que originalmente ficava na Rua das Flores, mas hoje está na rua Antônio Falcão, em Boa Viagem. Brennand faleceu em dezembro daquele ano e, por isso, esta edição presta uma homenagem ao icônico artista visual pernambucano que guarda ainda outra ligação com a proposta do festival.
Brennand foi um dos grandes articuladores do projeto que fez com que a antiga Casa de Detenção fosse transformada na Casa da Cultura. Ele também foi um dos colaboradores do Movimento de Cultura Popular (MCP), que buscava ampliar o acesso à educação e à cultura para a classe trabalhadora, de uma forma libertadora e democrática, do qual participaram também pensadores e artistas como Paulo Freire, Abelardo da Hora, Germano Coelho, Anita Paes Barreto, Luiz Mendonça, entre outros. Brennand ilustrou a cartilha para alfabetização de adultos criada por Paulo Freire. O casarão onde está o Memorial da Democracia em Pernambuco também foi sede do MCP, sendo desativado de forma abrupta pela ditadura militar, em 1964.
EXPOSIÇÃO
De 12 a 14 de novembro, o festival apresenta a exposição coletiva “Arte, Cidade e Democracia”, com visitação das 11h às 17h, no Memorial da Democracia de Pernambuco. A mostra reúne recortes das pesquisas de quatro projetos que abordam a relação entre arte e cidade: o Circuito da Poesia, o Guia Comum do Centro do Recife, o mapeamento Trilhas do Graffiti e o projeto Recife Arte Pública. Estarão em exibição trabalhos em fotografia, mapas, esboços e livros que revelam esculturas, murais, grafites, lugares e situações poéticas presentes em espaços públicos do Recife.
OFICINAS
No dia 13/11, das 14h às 17h, o artista multimídia Gools VJ ministra “VJing e Video Mapping”. De caráter teórico e prático, a oficina oferece uma introdução ao universo do VJ (video jocking, quando há manipulação em tempo real de imagens, em diálogo com a música) e às projeções mapeadas. Ao final, será criada uma obra coletiva em vídeo que será projetada no festival.
No dia 14 de novembro, Nathê Ferreira, grafiteira, educadora social e ativista, conduz a Oficina de Grafite, com abordagem teórica e prática sobre a linguagem do grafite, com foco em questões sociais e na presença de mulheres na arte urbana. Os participantes serão convidados para uma ação coletiva de grafite em um mural nos jardins do Memorial da Democracia.
As inscrições para ambas são gratuitas e devem ser feitas até 10 de novembro, através deste formulário. Cada oficina oferecerá 30 vagas, das quais 50% serão destinadas a pessoas negras, indígenas, PcD, moradores da periferia e LGBTQIAPN+. O resultado será divulgado no dia 11 de novembro.
SERVIÇO
2ª edição do Urbe-se
Datas e locais das projeções:
13 de novembro – Casa da Cultura (Rua Floriano Peixoto, s/n, Santo Antônio)
14 de novembro – Memorial da Democracia de Pernambuco (Sítio Trindade - Estrada do Arraial, s/n, Casa Amarela)
15 de novembro – Monumento Tortura Nunca Mais (Rua da Aurora, s/n, Santo Amaro)
Horário: 19h às 21h
Gratuito
Programação:
Dia 12/11 (terça-feira):
Exposição “Arte, Cidade e Democracia”
Horário: 11h às 17h (até o dia 14/11)
Local: Memorial da Democracia de Pernambuco
Dia 13/11 (quarta-feira):
Oficina VJing e Video Mapping, com Gools VJ
Horário: 14h às 17h
Local: Memorial da Democracia de Pernambuco
Roda de Conversa com os artistas
Horário: 18h
Local: Casa da Cultura
Projeções de vídeo mapping
Horário: 19h às 22h
Local: Casa da Cultura
Dia 14/11 (quinta-feira):
Oficina de Grafite, com Nathê Pereira
Horário: 10h às 17h
Local: Memorial da Democracia (Estrada do Arraial, s/n, Casa Amarela)
Projeções de Vídeo Mapping
Horário: 19h às 21h
Local: Memorial da Democracia (Estrada do Arraial, s/n, Casa Amarela)
Dia 15/11 (sexta-feira):
Projeções de Video Mapping
Horário: 19h às 21h
Local: Monumento Tortura Nunca Mais (Rua da Aurora, s/n, Santo Amaro)